Resumo
No início do século XXI, a inclusão social é uma das características mais presentes nas políticas de ingresso na educação superior. Estas políticas propiciaram a diversificação social do público universitário, mas as trajetórias dos estudantes beneficiados são marcadas por encontros com a desigualdade social. Este artigo se insere nesta temática ao problematizar as associações que os estudantes estabelecem entre as dificuldades oriundas da desigualdade social e os talentos e dons individuais, caracterizando tal associação como fruto de uma dominação simbólica. Os relatos coletados por meio de entrevistas mostram que os considerados “novos estudantes” precisaram ser superselecionados por meio da escola para adquirir habitus e capital cultural que possibilitassem seu ingresso na universidade. O encontro com a desigualdade social pode ocorrer, especialmente, pela via econômica e acadêmica, sendo que esta última se configura como uma violência simbólica mais potente porque clama à dimensão do natural. Os dados trazidos neste artigo mostraram que os próprios estudantes questionam e classificam as suas performances associando-as a questões de capacidade e de dom, sem a necessidade de qualquer intervenção ou avaliação institucional. De forma não-consciente, os estudantes empregam categorias de percepção que os fazem entrar no jogo universitário, mesmo em uma situação desfavorável. Ou seja, os estudantes atuam como cúmplices nessa relação de dominação, porque as suas disposições já foram dominadas ao reconhecerem a legitimidade da universidade, acreditarem no discurso individualizante do mérito e desconhecerem as relações de força que se mantêm para a reprodução de uma sociedade desigual por meio do sucesso escolar.
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