Da inserção ao desmantelamento da política de economia solidária na agenda governamental (2003-2019)
DOI:
https://doi.org/10.20396/rbest.v3i00.15938Palavras-chave:
Economia solidária, Capacidades estatais, Políticas sociais, BrasilResumo
A inserção da economia solidária na agenda governamental se anunciou como um ato desafiador para a administração pública brasileira. Na busca por uma estratégia de combate ao desemprego, a política foi desenhada segundo os supostos de que o trabalho não se restringe ao emprego assalariado, e que a efetividade da ação estatal na geração de renda e desenvolvimento local implica uma perspectiva de atuação transversal e participativa. Nessa perspectiva, este estudo buscou problematizar a trajetória institucional da política nacional de economia solidária, desde sua origem formal em 2003, passando pela construção das capacidades estatais necessárias para sua implementação, até chegar à supressão em 2019. O exame de tal trajetória distinguiu tanto as capacidades técnico-administrativas como as político-relacionais. Com base no instrumental analítico adotado, pode-se caracterizar esse processo de supressão como “desmantelamento por extinção”, dado que toda a estrutura operacional construída em torno dessa política pública foi sendo desativada formal e sequencialmente, isto é, por meio de atos normativos oficiais.
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