Resumo
De acordo com o teórico e historiador da arte francês Hubert Damisch (1928-2017), é necessário pensar a história da arte por meio do deslocamento de conceitos, sempre a partir de uma visão do presente dos fatos. Dessa maneira, ao invés de pensar a abstração como uma questão que teve início no século XX e que nele se esgotará, buscaremos pensa-la como uma potência que já estaria intrínseca ao que seria a essência de formas muito mais antigas – como por exemplo, em formas de certas manifestações indígenas – , e que talvez poderia ser até mesmo anterior à forma mimética representacional. Assim, por meio de um viés espiritualista da constituição da forma, a investigação tem como objetivo a possibilidade de aproximar os processos de formação de alguns elementos da abstração entre as obras que caminhavam em direção ao abstracionismo do artista russo Wassily Kandinsky (1866-1944) em seu período do Blaue Reiter (1908-1914) e manifestações artísticas indígenas resultantes de experiências ritualísticas amânicas dos grupos amazônicos Desâna – que vivem às margens do Rio Uaupés e o afluente Tiquié – , Tukano – que habitam próximo ao rio Uaupés, no noroeste da Colômbia – e Siona – que vivem ao longo dos rios Putumayo e Aguarico, no sul da Colômbia e norte do Equador.
Referências
ARGAN, G. C. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
BANN, S.; DAMISCH, H. Hubert Damisch e Stephen Bann: Uma Conversa. ARS, São Paulo, v. 17, n.27, 2014. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/ars/article/view/117618 116443 Acesso em: 20 jun, 2018.
DAMISCH, H. Remarks on Abstraction. In: October, 127, Winter 2009, p.133-154.
FOCILLON, H. A Vida das Formas. Lisboa: Edições 70, 1988.
KANDINSKY, W. Do Espiritual na Arte e na pintura em particular. São Paulo: Martins Fontes, 1966.
LACHMAN, G. Kandinsky’s Thought Forms and the Occult Roots of Modern Art. In: Quest, 96.2, March - April 2008, p.57-61.
LANGDON, E.J. Perspectiva xamânica: relações entre rito, narrativa e arte gráfica. In: SEVERI, C.; LAGROU, E. Quimeras em diálogo: grafismo e figuração nas artes indígenas. Rio de Janeiro: Viveiros de Castro Editora, p.111-137, 2013.
LANGDON, E.J. A cultura Siona e a experiência alucinógena. In: VIDAL, Lux. Grafismo Indígena. São Paulo: Nobel, p.67-87, 2000.
MARC, F.; KANDINSKY, W. Almanaque O Cavaleiro Azul. São Paulo: Edusp, 2013.
PETROVA, E. (Ed.). Catálogo da Exposição Kandinsky: Tudo começa num ponto. Brasília: CCBB, 2014.
RIBEIRO, B. A mitologia pictórica dos Desâna. In: VIDAL, Lux. Grafismo Indígena. São Paulo: Nobel, p.35-52, 2000.
SERS, P. Kandinsky: The elements of art. Londres: Thames & Hudson, 2015.
VALLIER, D. A Arte Abstrata. São Paulo: Martins Fontes, 1986.
WORRINGER, W. Abstraction and Empathy. Chicago: Elephant Paperbacks, 1997.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2018 Bruna Pimentel Quintão