Resumo
Este artigo pretende discutir relações entre memória, testemunho e história, tomando como objeto a autobiografia de Pierre Seel, Moi, Pierre Seel, déporté homosexel, sobrevivente do campo de concentração de Schirmeck, onde foi aprisionado por ser homossexual. Aborda-se o silenciamento, que se prolongou por décadas após a Segunda Guerra Mundial, em torno da perseguição nazista aos homossexuais, sendo o testemunho um recurso útil à iluminação daquilo que corre o risco de permanecer em esquecimento, aquém do conhecimento histórico. Sendo a história um âmbito em que interesses se confrontam, o testemunho se revela, assim, um meio de reconstrução da história, trazendo à tona fragmentos que tendem a não participar das narrativas hegemônicas. Busca-se, neste artigo, uma reflexão acerca dessa problemática. O texto se atém ao que Seel sofreu no campo de concentração, bem como às consequências por ele enfrentadas ao longo da vida em razão de seu aprisionamento.
Referências
AGAMBEN, Giorgio. O que resta de Auschwitz: o arquivo e a testemunha. São Paulo: Boitempo, 2008.
AGAMBEN, Giorgio. Quando a casa queima: sobre o dialeto do pensamento. Belo Horizonte: Âyiné, 2021.
ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação: formas e transformações da memória cultural. Campinas: Editora da Unicamp, 2011.
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. 3ª ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987.
ELÍDIO, Tiago. A perseguição nazista aos homossexuais: o testemunho de um dos esquecidos da memória. Dissertação de mestrado em Teoria e História Literária, Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2010. Disponível em: https://repositorio.unicamp.br/acervo/detalhe/772855. Acesso em: 04 mai. 2023.
FOUCAULT, Michel. Dizer a verdade sobre si: conferências na Universidade Victoria, Toronto, 1982. São Paulo: Ubu Editora, 2022.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Editora 34, 2006.
JENSEN, Erik. The Pink Triangle and Political Consciousness: Gays, Lesbians and the Memory of Nazi Persecution. Journal of the History of Sexuality, v. 11, n. 1/2, p. 319-349, 2002.
LEVI, Primo. É isto um homem?. Rio de Janeiro: Rocco, 1988.
LEVI, Primo. Os afogados e os sobreviventes: os delitos, os castigos, as penas, as impunidades. 2ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004.
RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora da Unicamp, 2007.
SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. São Paulo; Belo Horizonte: Companhia das Letras; Editora da UFMG, 2007.
SEEL, Pierre. Eu, Pierre Seel, deportado homossexual. Rio de Janeiro: Cassará, 2012.
SELIGMANN-SILVA, Márcio. A história como trauma. In: NESTROVSKI, Arthur; SELIGMANN-SILVA, Márcio (orgs.). Catástrofe e representação: ensaios. São Paulo: Escuta, 2000, p. 73-98.
SELIGMANN-SILVA, Márcio. Literatura de testemunho: os limites entre a construção e a ficção. LETRAS, v. 16, p. 9-37, 1998. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/letras/article/view/11482/6948. Acesso em: 04 mai. 2023.
SELIGMANN-SILVA, Márcio (org.). O local da diferença: ensaios sobre memória, arte, literatura e tradução. São Paulo: Editora 34, 2005.
UMBACH, Rosani Ketzer. Violência, memórias da repressão e escrita. In: SELIGMANN-SILVA, Márcio; GINZBURG, Jaime; HARDMAN, Francisco Foot (orgs.). Escritas da violência. Vol. 1: o testemunho. Rio de Janeiro: 7Letras, 2012, p. 217-228.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Copyright (c) 2023 Pablo Vinícius Nunes Garcia