Resumo
O presente artigo traz uma reflexão crítica das memórias e temporalidades das experiências negras brasileiras que se apresentam na obra Diário de Bitita, publicação póstuma em 1986 da escritora Carolina Maria de Jesus [1914-1977]. Buscamos explorar os contextos de sujeição e resistência presentes na obra que possibilitam discutir, por um lado, a temporalidade e as maneiras de contar sobre si e sobre o mundo que não se encerra em narrativas de dor e sofrimento e, por outro lado, o conjunto de memórias do cotidiano que é capaz de conceber uma narrativa sobre/do Brasil. A articulação temporal do passado escravocrata às experiências de opressão e desigualdades sociais e raciais encenadas em Diário de Bitita, elaboram uma narrativa que tensiona imaginários nacionais hegemônicos, entre eles a ideia de democracia racial. Ademais, a denúncia e crítica social constitutiva da obra é pavimentada por um estilo estético e poético composto de ironias, lembranças, sonhos e desejos.
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