Resumo
Se há uma força comum a diferentes obras de Caio Prado Jr., esta é – para dizê-lo com Antonio Candido – “a força do concreto”. Trata-se da tentativa de se encontrar uma lógica interna à realidade histórica nacional, recusando-se a enxergá-la “como aparece nos mesquinhos e deformadores esquemas e modelos exóticos”. Neste artigo, limitando-nos à análise de alguns argumentos centrais do livro A revolução brasileira, procuraremos explicitar o modo como, fazendo emergir o concreto, Caio Prado Jr. argumenta que a esquerda no pré-golpe de 1964 havia sido incapaz de analisar conjunturas, compreender o comportamento dos atores sociais, especular com alguma plausibilidade sobre possíveis desfechos de suas disputas, identificar as forças às quais podia se aliar, quais se lhe contrapunham e, principalmente, quais os caminhos que lhe permitiriam traçar estratégias revolucionárias que fossem mais do que uma quimera. À guisa de conclusão, veremos como o autor acabaria por adiantar em boa parte, ainda em 1966, o argumento central de O ornitorrinco (2003) de Francisco de Oliveira.
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