Resumo
O objetivo deste artigo é analisar a concepção de sagrado que emerge nos trabalhos de Linn da Quebrada e Baco Exu do Blues, artistas que vêm se destacando na cena contemporânea a partir da música, irradiando sua atuação também para a performance, o audiovisual, a moda, entre outras linguagens. Partindo de temas como o erotismo, a sexualidade, o segredo, assim como a apropriação impensada de elementos religiosos institucionalizados, como orixás e deuses, identifico os contornos de uma força transgressora, atraente e repulsiva, que compõe o sagrado na obra de Linn e Baco. Minha aposta é a de que, considerando as devidas diferenças entre artistas, seus trabalhos contestam as bases sociais que sustentam o racismo, o machismo e a Lgbtfobia, entendendo o sagrado hegemônico branco, masculino e heteronormativo como um dos seus pilares. Consequentemente, sua proposta produz uma concepção alternativa de sagrado em sintonia com a prática artística voltada para a resistência, a subversão e mudança da sociedade.
Referências
ALMEIDA, Miguel Vale de. Senhores de si: uma interpretação antropológica da masculinidade. 2ª edição. Lisboa: Fim de Século Edições, 2000.
AUGÉ, Marc. Não-Lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas: Papirus, 1994.
BATAILLE, Georges. Noção de despesa. In: BATAILLE, Georges. A Parte Maldita. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
BATAILLE, Georges. O Erotismo. Porto Alegre: L&PM, 1987.
DIDI-HUBERMAN, Georges. Introdução. In: DIDI-HUBERMAN, Georges (Org.). Levantes. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2017.
HERSCHMANN, Micael. O Funk e o Hip Hop invadem a cena. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2000.
JAGOSE, Annamarie. “Queer Theory”. In: HOROWITZ, Maryanne Cline (Org.). New dictionary of the History of Ideas. Farmington Hills: Thomson Gale. vol. 1, 2005.
LORDE, Audre. Usos do erótico: o erótico como poder. In: LORDE, Audre. Irmã Outsider. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.
MADERO, Abel Sierra. Paredes que falam. Redes homoeróticas e grafiti sexual em banheiros públicos de Havana. Sex., Salud Soc., n. 12, p. 13-36, 2012.
MIZRAHI, Mylene. Funk, religião e ironia no mundo de Mr. Catra. Religião e Sociedade, v. 27, n. 2, p. 114-143, 2007.
MOIRA, Amara, A revolução precisa ser sexual. Entrevista a Milly Lacombe. Revista TPM, n. 172, 25 de set. 2017. Link: https://revistatrip.uol.com.br/tpm/entrevista-com-amara-moira-doutora-em-literatura-ex-prostituta-travesti-e-bissexual. Acesso em: 18/09/18.
NOVAES, Regina. Errantes do novo milênio: salmos e versículos bíblicos no espaço publico. In: BIRMAN, Patricia (Org.). Religião e Espaco Público. São Paulo: Attar Editorial, 2003.
OLIVEIRA, Acauam Silverio. O evangelho marginal dos Racionais MC's. In: GESSA, Marília; PARDUE, Derek. Racionais MC's: Sobrevivendo no Inferno. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
PELUCIO, Larissa. Traduções e torções ou o que se quer dizer quando dizemos queer no Brasil?. Revista Periódicus, v. 1, n. 1, p. 68-91, 2014.
PEREIRA, Pedro Paulo Gomes. Judith Butler e a Pomba Gira. Cad. Pagu, n. 53, 2018.
PERLONGHER, Néstor. O negócio do michê: prostituição viril em São Paulo. São Paulo: Brasiliense, 1987.
PRADO, Vinícius. Baco Exu do Blues admite erros e explica por que decidiu excluir “Sulicídio” das plataformas digitais. Portal Rapmais, 11 de set. 2020. Link: https://portalrapmais.com/baco-exu-do-blues-explica-por-que-decidiu-excluir-sulicidio-das-plataformas-digitais/. Acesso em: 10/12/20.
PRECIADO, Paul. Manifesto Contrassexual. São Paulo: N-1 edições, 2014.
PRECIADO, Paul. Testo Junkie. São Paulo: N-1 edições, 2018.
RAPOSO, Paulo. Artivismo: articulando dissidências, criando insurgências. Cadernos de Arte e Antropologia, v. 4, n. 2, p. 3-12, 2015.
RUBIN, Gayle. Pensando o sexo: notas para uma teoria radical da política da sexualidade. In: RUBIN, Gayle. Políticas do sexo. São Paulo: Ubu, 2017.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. In: BUARQUE DE HOLLANDA, Heloisa (Org.). Pensamento feminista: conceitos fundamentais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019.
SEDGWICK, Eve. Epistemologia do armário. Cad. Pagu, n. 28, p. 19-54, 2007.
SMALL, Christopher. Musicking: the meanings of performance and listening. Middletown, Ct: Wesleyan University Press, 1998.
TAUSSIG, Michael. Transgression. In: TAYLOR, Mark C. (Org.). Critical Terms for Religious Studies. Chicago: The University of Chicago Press, 1998.
TAUSSIG, Michael. Defacement – Public Secrecy and the Labor of the Negative. Stanford/California: Stanford University Press, 1999.
WEBER, Max. Teoria dos níveis e direções da rejeição religiosa do mundo. In: BOTELHO, André (Org.). Essencial Sociologia. São Paulo: Penguin Classics/Companhia das Letras, 2013.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2021 Paola Lins de Oliveira