Banner Portal
Entre o trabalho e a orgia
PDF

Palavras-chave

Trabalho
Trabalhismo
Samba
Música popular
Brasil
Anos 1930 e 1940

Como Citar

PARANHOS, Adalberto. Entre o trabalho e a orgia: os vaivéns do samba nos anos 1930 e 1940. Música Popular em Revista, Campinas, SP, v. 1, n. 1, p. 6–29, 2012. DOI: 10.20396/muspop.v1i1.12874. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/muspop/article/view/12874. Acesso em: 25 abr. 2024.

Resumo

Durante o primeiro governo Vargas, valores antinômicos circularam socialmente, como aqueles que envolviam o culto ao trabalho regular e metódico e sua negação. Isso se retratou inclusive na produção musical da época, que, de uma forma ou de outra, tomou parte ativa no debate que então se instalou e que oscilava entre a afirmação do batente e a glorificação da batucada. Se a condenação à ociosidade se assenta sobre bases que, no caso brasileiro, remontam aos primórdios do período colonial, ela, historicamente, jamais deixou de conviver com seu oposto. Afinal, nem todos os compositores se deixaram apanhar na rede da exaltação do trabalho propagado pela ideologia do trabalhismo, quando não por integrantes do front artístico nacional. Falas dissonantes repontaram aqui e ali, numa demonstração de que nunca se consegue calar por inteiro as divergências e as diferenças. É o que se propõe evidenciar este artigo, ao trabalhar com a canção (notadamente o samba) como documento histórico e investigar parte da produção fonográfica dos anos 1930 e 1940. Por fim, o que se constata é que, apesar da férrea censura dos organismos oficiais (particularmente do DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda) durante o “Estado Novo”, ela não foi suficiente para que se rompessem de vez os estreitos vínculos tecidos entre o samba e a malandragem, por maiores que fossem as ambiguidades e contradições que se expressavam no interior do próprio campo da música popular brasileira.

https://doi.org/10.20396/muspop.v1i1.12874
PDF

Referências

ALENCAR, Edigar de. O carnaval carioca através da música. 4. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980.

ALIGUIERI, Dante. A divina comédia: inferno. São Paulo: Editora 34, 2001.

ALMEIDA, Aracy de. Aracy de Almeida. São Paulo: Sesc-São Paulo, 2001. CD. (A música brasileira deste século por seus autores e intérpretes).

ALVES, Francisco. Vadiagem. Intérprete: Mário Reis. In: REIS, Mário. Vadiagem / Sorriso falso. Odeon, 1929, 78 rpm.

ANTONIO, João. A Lapa acordada para morrer. In: LUSTOSA, Isabel (Org.). Lapa do desterro e do desvario: uma antologia. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2001.

BABAÚ; SOUZA, Ciro de. Tenha pena de mim. Intérprete: Aracy de Almeida. In: ALMEIDA, Aracy de. Tenha pena de mim / Marido da orgia. Victor, 1937, 78 rpm.

BABAÚ; SOUZA, Ciro de. Tenha pena de mim. Intérprete: Aracy de Almeida. In: SAMBISTAS de fato. Revivendo, s./d., CD.

BARBOSA, Orestes. Samba. 2. ed. Rio de Janeiro: Funarte, 1978.

BARRO, João de; VERMELHO, Alcir Pires. Brasil, usina do mundo. Intérprete: Déo. In: DÉO. Brasil, usina do mundo / Valsa do balancê. Colúmbia, 1942, 78 rpm.

BARRO, João de; VERMELHO, Alcir Pires. Brasil, usina do mundo. In: DUPRAT, Rogério. Brasil com “S”. Emi, 1974, LP.

BARROSO, A. Aquarela do Brasil. Intérprete: ALVES, F. In: APOTEOSE do samba. Emi, 1997, v. 1, CD n. 2.

BARROSO, Ary. Aquarela do Brasil. Intérprete: Francisco Alves. In: ALVES, Francisco. Aquarela do Brasil. Odeon, 1939, 78 rpm.

BATISTA, Wilson. Lenço no pescoço. Intérprete: Sílvio Caldas. In: CALDAS, Sílvio. Na floresta / Lenço no pescoço. Victor, 1933, 78 rpm.

BATISTA, Wilson. Lenço no pescoço. Intérprete: Sílvio Caldas. In: OS GRANDES sambas da história. Globo/BMG, 1997, CD n. 10.

BIDE; ALVES, Francisco. A malandragem. Intérprete: Francisco Alves. In: ALVES, Francisco. O bobalhão / A malandragem. Odeon, 1928, 78 rpm.

BIDE; ALVES, Francisco. A malandragem. Intérprete: Francisco Alves. In: ABRIL CULTURAL. Bide, Marçal e o Estácio. São Paulo, 1979, LP. (Coleção Nova História da Música Popular Brasileira)

BIDE; MARÇAL. Ando na orgia. Intérprete: Carlos Galhardo. In: GALHARDO, Carlos. Ando na orgia / Até ela. Victor, 1938, 78 rpm.

CABRAL, Sérgio. As escolas de samba do Rio de Janeiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumiar, 1996.

CARDOSO JUNIOR, Abel. Francisco Alves: as mil canções do rei da voz. Curitiba: Revivendo, 1998.

CHALHOUB, Sidney. Trabalho, lar e botequim: o cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Époque. São Paulo: Brasiliense, 1986.

CHAUI, Marilena. Brasil: mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Perseu Abramo, 2000.

CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o Estado. 4. ed. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.

CONTIER, Arnaldo. Música, nação e modernidade: os anos 20 e 30. Tese (Livre-docência em História) – FFLCH, USP, São Paulo, 1988.

FAUSTO, Boris. Crime e cotidiano: a criminalidade em São Paulo (1880-1924). São Paulo: Brasiliense, 1984.

FERNANDES, Nelson da Nobrega. Escolas de samba: sujeitos celebrantes e objetos celebrados. Rio de Janeiro: Secretaria das Culturas da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2001.

FURTADO FILHO, João Ernani. Um Brasil brasileiro: música, política, brasilidade, 1930-1945. Tese (Doutorado em História Social) – FFLCH, USP, São Paulo, 2004.

GOMES, Tiago de Melo. Estudos acadêmicos sobre a música popular brasileira: levantamento bibliográfico e comentário introdutório, História: Questões & Debates 16 (31): 95-111, 1999.

GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere, v. 2: Os intelectuais. O princípio educativo. Jornalismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

KERBER, Alessander. Carmen Miranda entre representações da identidade nacional e de identidades regionais, ArtCultura 7 (10): 121-132, 2005.

LACERDA, Benedito; CABRAL, Aldo. Brasil! Intérpretes: Francisco Alves e Dalva de Oliveira. In: ALVES, Francisco. Brasil! / Acorda Estela!. Colúmbia, 1939, 78 rpm.

LACERDA, Benedito; CABRAL, Aldo. Brasil! Intérpretes: Francisco Alves e Dalva de Oliveira. In: OS ROUXINÓIS, Revivendo, s./d., LP.

LAGO, Mário. Na rolança do tempo. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977.

LENHARO, Alcir. Cantores do rádio: a trajetória de Nora Ney, Jorge Goulart e o meio artístico de seu tempo. Campinas: Editora da Unicamp, 1995.

LUSTOSA, Isabel. (Org.) Lapa do desterro e do desvario: uma antologia. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2001.

MARQUES JR, Arlindo; ROBERTI, Roberto. Abre a janela. Intérprete: Orlando Silva. In: SILVA, Orlando. Tua beleza / Abre a janela. Victor, 1938, 78 rpm.

MARQUES JR, Arlindo; ROBERTI, Roberto. Abre a janela. Intérprete: Orlando Silva. In: SILVA, Orlando. O cantor das multidões. RCA/BMG, 1995, CD n. 2.

MARTINS, Luiza Mara Braga. Quem foi que inventou o Brasil?: a invenção do Brasil pelos sambistas cariocas – 1917/1937. Dissertação (Mestrado em História Social) – IFCS, UFRJ, Rio de Janeiro, 2004.

MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2004.

MATOS, Cláudia. Acertei no milhar: samba e malandragem no tempo de Getúlio. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

MATTOS, Marcelo Badaró. Vadios, jogadores, mendigos e bêbados na cidade do Rio de Janeiro do início do século. Dissertação (Mestrado em História Social) – PPGHS, UFF, Niterói, 1991.

MÁXIMO, João; DIDIER, Carlos. Noel Rosa: uma biografia. Brasília: Linha Gráfica/Editora UnB, 1990.

MONTEIRO, Ari. Passeei no domingo. Intérprete: Dircinha Batista. In: BATISTA, Dircinha. Sete e meia da manhã / Passeei no domingo. Continental, 1945, 78 rpm.

MOURA, Gerson. Tio Sam chega ao Brasil: a penetração cultural americana. São Paulo: Brasiliense, 1984.

OLIVEN, Ruben George. G. Violência e cultura no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1982.

PARANHOS, Adalberto. O Brasil dá samba?: os sambistas e a invenção do samba como “coisa nossa”, 2003. Disponível em: http://www.samba-choro.com.br/debates

__________. Além das amélias: música popular e relações de gênero sob o “Estado Novo”, ArtCultura: Revista de História, Cultura e Arte 8 (13): 163-174, 2006.

__________. Espelhos partidos: samba e trabalho no tempo do “Estado Novo”. Projeto História 43: 59-79, 2011. Disponível em: http://revistas.pucsp.br/index.php/revph/index

__________. Os desafinados: sambas e bambas no “Estado Novo”. Tese (Doutorado em História Social) – PEPGH, PUC-SP, São Paulo, 2005.

PEDRO, Antonio. Samba da legitimidade. Dissertação (Mestrado em História) – USP, FFLCH, São Paulo, 1980.

PRAZERES, Heitor dos. Vou ver se posso... Intérprete: Mário Reis. In: REIS, Mário. Estás no meu caderno / Vou ver se posso... Victor, 1934, 78 rpm.

PRAZERES, Heitor dos. Vou ver se posso... Intérprete: Mário Reis. In: REIS, Mário. Mário Reis: um cantor moderno. BMG/RCA, 2004, CD n. 2.

REBELO, Marques. A mudança, II tomo de “O espelho partido”. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

REVISTA DE ORGANIZAÇÃO CIENTÍFICA. São Paulo: Idort, 1942.

ROSA, Noel. Com que roupa? Intérprete: Noel Rosa. In: ROSA, Noel. Com que roupa? / Malandro medroso. Parlophon, 1930, 78 rpm.

ROSA, Noel. Com que roupa? Intérprete: Noel Rosa. In: ROSA, Noel. Noel pela primeira vez. Funarte/Velas, 2000, CD n. 1.

SALVADORI, Maria Ângela Borges. Capoeiras e malandros: pedaços de uma sonora tradição popular (1890-1950). Dissertação (Mestrado em História Social) – IFCH, Unicamp, Campinas, 1990.

SANDRONI, Carlos. Feitiço decente: transformações do samba no Rio de Janeiro (1917-1933). Rio de Janeiro: Jorge Zahar/Editora UFRJ, 2001.

SEVERIANO, Jairo. Getúlio Vargas e a música popular. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1983.

SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras – v. 1: 1901-1957. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 1998.

SILVA, Ismael; BASTOS, Nilton; ALVES, Francisco. Nem é bom falar. Intérprete: Francisco Alves. In: ALVES, Francisco. Nem é bom falar / Olê-leô. Odeon, 1931, 78 rpm.

SILVA, Ismael; BASTOS, Nilton; ALVES, Francisco. Nem é bom falar. Intérprete: Mário Reis. In: REIS, Mário. Mário Reis. Odeon, 1971, LP.

SILVA, Ismael; BASTOS, Nilton; ALVES, Francisco. Nem é bom falar. Intérprete: Mário Reis. In: REIS, Mário. Mário Reis. Emi, 1993, CD.

SILVA, Ismael; BASTOS, Nilton; ALVES, Francisco. O que será de mim. Intérpretes: Francisco Alves e Mário Reis. In: REIS, Mário. Arrependido / O que será de mim? Odeon, 1931, 78 rpm.

SILVA, Ismael; BASTOS, Nilton; ALVES, Francisco. O que será de mim. Intérpretes: Francisco Alves e Mário Reis. In: DUPLAS de bambas, Revivendo, s./d., CD n. 1.

SILVA, Ismael; BASTOS, Nilton; ALVES, Francisco. Se você jurar. Intérpretes: Francisco Alves e Mário Reis. In: ALVES, Francisco. Não há / Se você jurar. Odeon, 1931, 78 rpm.

SILVA, Ismael; BASTOS, Nilton; ALVES, Francisco. Se você jurar. Intérpretes: Francisco Alves e Mário Reis. In: DUPLAS de bambas, Revivendo, s./d., CD n. 1.

SILVA, Moreira; GOLO, João. O trabalho me deu o bolo. Intérprete: Moreira da Silva. In: SILVA, Moreira. O trabalho me deu o bolo / Adeus, orgia adeus. Odeon, 1939, 78 rpm.

SILVA, Moreira; GOLO, João. O trabalho me deu o bolo. Intérprete: Moreira da Silva. In: CARNAVAL, sua história, sua glória. Revivendo, s./d., CD n. 30.

SODRÉ, Muniz. Samba: o dono do corpo. Rio de Janeiro: Codecri, 1979.

SOIHET, Rachel. A subversão pelo riso: estudos sobre o carnaval carioca da Belle Époque ao tempo de Vargas. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1998.

TINHORÃO, José Ramos. Música popular: do gramofone ao rádio e tv. São Paulo: Ática, 1981.

TOTA, Antonio Pedro. O imperialismo sedutor: a americanização do Brasil na época da Segunda Guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

VASCONCELLOS, Gilberto; SUZUKI Jr., Matinas. A malandragem e a formação da música popular brasileira. In: FAUSTO, Boris (dir.). História geral da civilização brasileira: III. O Brasil republicano – Economia e Cultura (1930-1964). 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995.

VELASQUES, Muza Clara Chaves. A Lapa boêmia: um estudo da identidade carioca. Dissertação (Mestrado em História Social) – PPGHS, UFF, Niterói, 1994.

VELLOSO, Mônica. Mário Lago: boemia e política. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1998.

A publicação Música Popular em Revista em sua obra adota e está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.

Downloads

Não há dados estatísticos.