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Chamada: Transcrição em Estudos Musicais : Práticas, Pragmática, Armadilhas

Transcrição em Estudos Musicais : Práticas, Pragmática, Armadilhas

Chamada de Artigos para o Dossiê

Coordenação

Prof. Dr. Chris Stover (Griffith University, Austrália)

Prof. Dr. Paulo Tiné (Universidade Estadual de Campinas, Brasil)

“Se os ouvidos humanos fossem capazes de perceber todos os conteúdos acústicos de uma emissão musical, e se a mente humana pudesse reter tudo o que foi percebido, então a análise do que é ouvido seria preferível. A redução da música à notação no papel é, na melhor das hipóteses, imperfeita, pois ou um tipo de notação deve selecionar dentre os fenômenos acústicos aqueles que o notador considera mais essenciais, ou será tão complexo que será muito difícil de perceber.”[1] (Nettl 1964, 98)

A transcrição – a transformação de sons musicais em forma visual – tem sido uma ferramenta importante para muitos musicólogos, teóricos musicais, etnomusicólogos (Garfias 1964; Ellingson 1992) e profissionais (Berliner 1994; Tucker e Kernfield [2002] 2016). As questões em torno da transcrição foram debatidas detalhadamente (England et al. 1964; Stanyek et al. 2014; Rusch, Salley e Stover 2016), incluindo diferentes orientações e justificativas para a transcrição (Seeger 1958; Austerlitz 2003), sua representação ou seus limites epistemológicos (List 1974; Dunaway 1984), consideração ética em relação da adequação e do poder (Winkler 1997; Agawu 2003) e muito mais. Algumas dessas questões envolveram a adequação da notação de pauta ocidental para música proveniente de tradições orais/aurais, e propuseram sistemas visuais alternativos (Koetting 1970; Hood 1982; Stewart 1982) ou modificações da notação de pauta (Arom 1991). Parece claro que a transcrição, embora para muitos seja uma ferramenta necessária para envolver de perto os detalhes musicais, traz consigo muitos desafios e preocupações.

Para este dossier de Música Popular em Revista, solicitamos artigos sobre transcrição e representação musical de todas as vertentes dos estudos da área. Estamos especialmente interessados em trabalhos que incorporem a transcrição de maneiras significativas e/ou originais, incluindo abordagens à própria transcrição que ampliem a prática. Buscamos também trabalhos que desafiam a transcrição em qualquer uma das diversas frentes, incluindo estratégias para contestar o aparente binário sugerido pela citação de Nettl acima e apelos a métodos analíticos que se concentram na experiência auditiva em vez da representação visual.

Alguns temas que podem ser considerados:

  • Os limites da transcrição – o que a notação é capaz de ‘capturar’? Qual é o seu ‘resto’ (Adorno 2000)?
  • A ética da transcrição – quando é impróprio transformar o som musical em forma visual? Que tipos de representações visuais são apropriadas para que tipos de música?
  • A política de transcrição – o capital institucional e a possibilidade de de-centralização das formas e procedimentos ocidentais de música escrita (Agawu 2003).
  • Navegando entre orientações ‘descritivas’ versus ‘prescritivas’.
  • Navegando entre abordagens ‘êmicas’ versus ‘éticas’.
  • A eficácia da notação de pauta versus outras formas de representação visual.
  • Abordagens criativas ou experimentais à transcrição
  • Implicações pedagógicas da transcrição
  • A relação entre transcrição e memória individual e/ou coletiva

 

LINK PARA SUBMISSÃO: Submissões | Música Popular em Revista

DATA LIMITE: 15 agosto de 2024

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[1] “If human ears were able to perceive all of the acoustic contents of a musical utterance, and if the human mind could retain all of what had been perceived, then analysis of what is heard would be preferable. Reduction of music to notation on paper is at best imperfect, for either a type of notation must select from the acoustic phenomena those which the notator considers most essential, or it will be so complex that it itself will be too difficult to perceive.” (Nettl 1964, 98)