BARBARUS AD PORTAS
Capa contendo numero, título e data da publicação. Foto da obra A fonte de Duchamp, que se trata de um mictório de ponta cabeça assinado na base com R. MUTT, 1917
PDF

Palavras-chave

Arte sacra
Arquitetura barroca e rococó

Como Citar

LEITE, Pedro Queiroz. BARBARUS AD PORTAS: homilética e catequese na pintura dos nártexes de algumas igrejas e capelas barrocas e rococós de Minas Gerais. Encontro de História da Arte, Campinas, SP, n. 8, p. 526–533, 2012. DOI: 10.20396/eha.8.2012.4272. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/eventos/index.php/eha/article/view/4272. Acesso em: 5 maio. 2024.

Resumo

Muito além de ser uma espécie de vestíbulo, ou um mero espaço restante sob o coro, entre a porta principal do templo e sua nave, ou entre o batistério e a escada da torre sineira de igrejas e capelas, o nártex desempenhou um importante papel na formação das consciências religiosas em Minas Gerais entre os séculos XVIII e XIX.

Tendo sua origem nas igrejas e basílicas paleocristãs, como um local intermediário entre o exterior e o interior, o nártex destinava-se a abrigar os penitentes, catecúmenos, pecadores e loucos – privados da Eucaristia e, portanto, do pleno gozo da Missa – como também as mulheres, quando estas ainda não eram admitidas no templo.

Porém, quanto a este caráter semiexcludente, e que pode, ao mesmo tempo, ser também compreendido como semi-inclusivo, ele manifestou-se ainda, acreditamos, em diversas igrejas e capelas mineiras do Barroco e do Rococó, como se pode verificar pelo tema das pinturas de diversos forros de nártexes encontradas em Ouro Preto (São Francisco de Assis e Matriz de Cachoeira do Campo), Mariana (Capela do Rosário de Santa Rita Durão), Santa Bárbara (Matriz de Santo Antônio), Itaverava (Matriz de Santo Antônio) e Prados (Matriz de Nossa Senhora da Conceição).

O tema das pinturas desses nártexes vincula-se a uma função homilética e catequética bastante assinalada na medida em que demarca claramente as distinções entre o fiel e o leigo: nas capelas das Ordens Terceiras, e das Irmandades, a decoração daquele espaço remete a motivos caros à devoção de seus membros, homens adultos na plenitude de seus direitos e deveres cívicos e religiosos; já nas matrizes, há uma preponderância a se enfatizar a necessidade do batismo, a fidelidade à Igreja , a repulsa à heresia, questões mais da ordem, ou que gravitavam ao redor, doscatecúmenos ou daqueles alheios à plena confissão, com vistas à sua plena adequação ao corpus místico da comunidade.

O presente trabalho, um esboço em vista das pesquisas que ora efetuamos, propõe-se, portanto, a apresentar e analisar as pinturas de alguns nártexes de igrejas e capelas mineiras, barrocas e rococós, conforme as hipóteses ora levantadas, destacando seu caráter propiciatório, ou interditório, aos diversos membros das comunidades mineiras de então, quer catequizados, quer não: “os bárbaros às portas” da Igreja.

https://doi.org/10.20396/eha.8.2012.4272
PDF

Referências

BORROMEO, Carlos. Instruciones de la fábrica y del ajuar eclesiásticos. Trad. de Bulmario Reyes Coria. México, DF: Universidad Autônoma de México; Imprenta Universitária, 1985. 219p.

BOSCHI, Caio. Os leigos e o poder: irmandades leigas e política colonizadora em Minas Gerais. São Paulo: Ática, 1986. 254p.

COLEMAN, Lyman. Ancient Christianity exemplified in the private, domestic, social, and civil life of the primitive Christians, and in the original institutions, offices, ordinances, and rites of the church. Filadélfia: Lippincot, Grambo & Co, 1853. 668p.

CRAM, Ralph Adams. “Narthex”. Apud in The Catholic Encyclopedia. Vol. 10. Nova Iorque: Robert Appleton Company, 1911. In: www.newadvent.org/cathen/10704b.htm. Acessado em 10.08.2012.

DEL NEGRO, Carlos. Contribuição ao estudo da pintura mineira. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1958. 160 p.: il.

DEL NEGRO, Carlos. Nova contribuição ao estudo da pintura mineira: norte de Minas: pintura dos tetos de igrejas. Rio de Janeiro: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 1979. 431 p.: il.

DURAND, Guillaume. Rational ou manuel des divins offices de Guillaume Durand, évêque de Mende au treizième siècle, ou, Raisons mystiques et historiques de la liturgie catholique, vol. 1. Tradução de Charles Barthélemy. Paris: Louis Vives, 1854. 457 p.

GONÇALVES, Flávio. História da arte: iconografia e crítica. Lisboa: Imprensa Nacional/ Casa da Moeda, 1990. 359 p.:il.

LEITE, Pedro Queiroz. Em Busca das Fontes: Ataíde e os livros estampados dos séculos XVIII e XIX. In: Anais do IV Encontro de História da Arte. Campinas: Unicamp, 2008.

LEITE, Pedro Queiroz. Imagem Peregrina: a sobrevivência de uma estampa entre fins do século XVIII e meados do XIX. In: Anais do II Encontro Nacional de Estudos da Imagem. Londrina: UEL, 2009.

LEITE, Pedro Queiroz. O Missal da Regia Officina Typographica e seu legado na pintura rococó mineira: uma refutação à influência de Bartolozzi. In Anais do VII Encontro de História da Arte. Campinas: Unicamp, 2011.

MILMAN, Henry Hart. The history of Christianity: from the birth of Christ to the Abolition of Paganism in the Roman Empire. Vol. 3. Nova Iorque: W. J. Widdleton, 1871. 485 p.

MORONI, Gaetano. Dizionario di erudizione storico-ecclesiastica da S. Pietro sino ai nostri giorni. vol. 52. Veneza: Tipografia Emiliana, 1851. 316 p.

RIPA, Cesare. Baroque and rococo pictorial imagery: the 1758-60 Hertel edition of Ripa’s Iconologia. Trad. e com. Edward A. Maser. Nova Iorque: Dover, s.d. 430 p.: il.

RIPA, Cesare. Iconologia. Trad. Juan Barja e Yago Barja. 2ª ed. Madri: Akal, 1996. 1055p.: il.

SALDANHA, Nuno. Artistas, imagens e ideias na pintura do século XVIII. Lisboa: Livros Horizonte, 1995. 285p.: il.

VAN MILLINGEN, Alexander. Byzantine Churches In Constantinople: illustrated edition. Fairford: The Echo Lybrary, 2010. 319 p.

Creative Commons License
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.

Copyright (c) 2012 Pedro Queiroz Leite

Downloads

Não há dados estatísticos.