Resumo
Atualmente, a questão da preservação de nosso legado arquitetônico, histórico e/ou artístico vem sendo amplamente discutida, não apenas no meio acadêmico, como pela sociedade em geral. Por todo o país surgem cada vez mais projetos de preservação cultural que unem tanto as iniciativas privadas quanto organismos públicos, muitas vezes aplaudidos pela mídia e apoiados pelos usuários. A princípio, este quadro é positivo e benéfico, pois estimula a conservação de nossos bens culturais e a retomada da própria identidade da sociedade a partir de sua trajetória ao longo do tempo. No entanto, a associação insistente da preservação do patrimônio com a indústria cultural do espetáculo, incluindo neste contexto a relação indissociável com o turismo espetacular e as distorções geradas pela indústria da informação, faz com que seja necessária a discussão de um conceito basilar que pauta a ação do preservador: a questão da autenticidade. O conceito de autenticidade desperta algumas das questões essenciais que cercam a preservação do patrimônio cultural: o que se está preservando, de que forma, e por quê? Esta questão é crucial: a partir da noção de que o bem em si, ou as dinâmicas sociais e históricas que este encerra, são justificativas para a sua conservação, torna-se necessário investigar as razões para sua distorção, desfiguração ou modificação deliberada. Para fins deste trabalho, a noção do espetáculo é ressaltada por ser uma relação contraditória, aparentemente positiva, porém que atinge diretamente a própria essência do patrimônio cultural. Ao mesmo tempo, é um espelho da sociedade contemporânea, de seus valores e mecanismos, e de sua relação com a cultura, gerando uma complexa dinâmica de significados e relações que influenciam diretamente a ação e compreensão da preservação do patrimônio cultural.
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