Resumo
Marshall Sahlins costuma afirmar que “toda sociedade é de casas”, brincando com o conceito de “sociedade a casas”, de C. Lévi-Strauss, contrapondo-o ao senso comum segundo o qual toda sociedade tem casas. A referência é (respeitosamente) jocosa. A brincadeira indica justamente o oposto do que o conceito propõe: especificar um tipo de sociedade em uma grande narrativa. Este tipo não seria nem o das estruturas elementares de parentesco nem o das complexas, mas o conceito de sociedades a casas estaria próximo daquele de estruturas semicomplexas, nas quais se multiplicam as proibições matrimoniais. Este “estar entre” estruturas elementares e complexas é de um ponto de vista lógico e não histórico. Pode-se ver aqui uma grande narrativa neoevolucionista, ainda que o estruturalismo possa ser dito como oposto disso1 e Lévi-Strauss tenha se posicionado contra esta posição em entrevista a P. Lamaison2 . De todo modos, não estão aqui no terreno das conjecturas evolucionistas; ao contrário, o conceito de sociedade a casas exige análise histórica.
Referências
BONTE, P. (Ed.) Epouser au plus proche., Paris: Editions de l´EHESS. 1994.
CARSTEN, J.; & S.HUGH-JONES (Eds.). About the house. Lévi-Strauss and beyond. Cambridge: Cambridge University Press, 1995.
INGOLD, T. The perception of the environment: Essays on livelihhod, dwelling and skill. New York: Routledge, 2000.
JOYCE, R.; & S. GILLESPIE, S. 2000. Beyond kinship: Social and material reproduction in house societies. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 2000.
LANNA, M. 1995. A dívida divina: Troca e patronagem no nordeste brasileiro. Campinas: Ed. Unicamp, 1995.
LANNA, M. “Sobre a comunicação entre diferentes antropologias”. In: Revista de Antropologia., São Paulo: USP, São Paulo, 1999.
LÉVI. STRAUSS, C. 1987. “La notion de maison. Entretien avec C. Lévi-Strauss avec P. Lamaison.”, In: Terrain. Revue d'Ethnologi de L´'Europe. Habiter La Maison, n. 9, 1987.
SAHLINS, M. 1988. “Cosmologias do Capitalismo: No setor transpacífico do ‘“sistema mundial’”. In:, Anais da ABA., Unicamp, 1988. (posteriormente publicado em Cultura na prática. J. Zahar Editor, 2003).
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Copyright (c) 2013 Marcos Lanna