Resumo
Roberto Cardoso de Oliveira (1928-2006) foi um importante antropólogo brasileiro e atuou em diferentes universidade e instituições no país e no exterior. Ainda que grande parte de seu currículo e de suas pesquisas sejam de amplo conhecimento na história da antropologia brasileira, seu acervo documental foi pouco explorado. O fundo Roberto Cardoso de Oliveira, atualmente depositado no Arquivo Edgard Leuenroth (AEL), localizado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), foi doado pelo antropólogo na década de 1980, abriga um grande volume documental que recobre a maior parte da trajetória de seu titular, e também muitos capítulos da história da disciplina no Brasil. O presente artigo tem como objetivo tensionar esse material com as discussões que aproximam a antropologia e os arquivos, de modo a acessar as camadas de atuação que constroem a narrativa oriunda desses papeis e que articulam titular e instituições de memória. Para isso, uma breve recuperação de um debate que problematiza a monumentalidade e a pretensa neutralidade dos arquivos, junto com uma aproximação das potencialidades e particularidades dos arquivos pessoais, nos ajuda a confrontar o material à luz da construção de um legado e de uma memória que perpassa uma atuação individual, mas é também resultado dos processos de arquivamento e pesquisa.
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