Resumo
O presente artigo busca contribuir para os debates acerca das novas dinâmicas da ruralidade e sobre a direção destas transformações a partir do fenômeno de migração das cidades para o campo de indivíduos pertencentes à chamada classe média. Essa tarefa inicia-se pela discussão sobre a classe média nas teorias de análises de classes, avaliando a adequação e possibilidades dos instrumentos analíticos oferecidos por essas teorias para retratar esse grupo social. Feita a construção teórica, busca-se, a partir de entrevistas semiestruturadas, refletir sobre a complexidade do fenômeno de êxodo urbano e da opção pela agroecologia por parte de indivíduos da classe média urbana: aqui chamado de projeto de vida agroecológica. Esse movimento, motivado por uma crítica ao modo de vida urbano, à lógica capitalista de produção e reprodução da vida material, e pela preocupação com o agravamento da questão ambiental, ao mesmo tempo que representa uma grande mudança, também mantém uma cultura e privilégios de classe oriundos da origem social desses indivíduos, cuja combinação reflete crenças de transformação a partir da esfera individual. Apresentados os resultados das entrevistas, o artigo busca refletir sobre como esse processo migratório e a proposta de mudança nele embutida apresentam potencialidades e limitações, bem como a ligação delas com o fato de seus atores serem originários da classe média.
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