Resumo
Este artigo tem como objetivo apresentar e discutir princípios e ideias norteadoras de uma pesquisa em andamento sobre os significados atribuídos à presença haitiana no oeste catarinense cuja constituição local está fortemente associada à identidade branca, marcadamente italiana e alemã, em prejuízo de outras identidades: caboclos e povos indígenas. O objetivo é evidenciar como essa branquitude hegemônica tem sido acionada nas relações entre moradores locais e imigrantes haitianos. Como forma de organizar os caminhos da pesquisa, revisitamos as categorias “preconceito de marca” e “preconceito de origem” cunhadas por Oracy Nogueira e acionamos as categorias de “estabelecidos” e “outsiders” de Elias e Scotson (2000). O trabalho de campo tem mostrado um processo de estereotipagem racial (STUART HALL, 2016) dos imigrantes haitianos pelos moradores brasileiros, fundamentado na suposta superioridade da origem europeia.
Referências
BENTO, Maria Aparecida. Branqueamento e Branquidade no Brasil In: CARONE, Iray; BENTO, Maria Aparecida. Psicologia Social do Racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2014.
BORDIGNON, Sandra. Inserção dos imigrantes haitianos nos contextos educativos escolares e não escolares. Chapecó, 2016. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Comunitária da Região de Chapecó.
BREVES, Wenceslau de Souza. O Chapecó que eu conheci. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina. Florianópolis: ano 3, n. 06, p. 07-73, 1985.
CARDOSO, Paulino de Jesus Francisco. Em busca de um fantasma: as populações de origem africana em Desterro, Florianópolis, de 1860 a 1888. Padê: estudos em filosofia, raça, gênero e direitos humanos. UniCEUB, FACJS, Brasília, v.2 n.1, 2007.
CLICK XAXIM. Vereadores de Xaxim se preocupam com a grande quantidade de Haitianos no município. Portal Click Xaxim, Xaxim, 02 abr. 2015. Disponível em: http://www.clickxaxim.com.br/noticias/1384-vereadores-de-xaxim-se-preocupam-com-a-grande-quantidade-de-haitianos-no-municipio. Acesso em: 05/05/2016.
CONSELHO NACIONAL DE IMIGRAÇÃO – CNIg. Resolução normativa Nº 97, de 12 de janeiro de 2012.
ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Zahar, v.1, 1994.
ELIAS, Norbert; SCOTSON, John. L. Os estabelecidos e os Outsiders. Sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Zahar 2000.
FANON, Frantz. Racismo e Cultura. In: FANON, Frantz. Em defesa da revolução africana. Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1980, p. 35-48.
FERNANDES, Duval; CASTRO, Maria da Consolação Gomes. A migração haitiana para o Brasil: Resultado da pesquisa no destino. In: La Migración Haitiana Hacia Brasil. OIM, Cuadernos Migratorios n. 6, p. 51-66, 2014
FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala: a formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. Rio de Janeiro: Record, 1995.
GOULART FILHO, Alcides. A formação econômica de Santa Catarina. Ensaios FEE, Porto Alegre, v.23, n.2, p.977-1007, 2002.
G1 SC. Aos 97 anos, Chapecó se destaca por ofertas de emprego e crescimento. G1 Santa Catarina, Santa Catarina, 25, 2014. Disponível em: http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2014/08/aos-97-anos-chapeco-se-destaca-por-ofertas-de-emprego-e-crescimento.html. Acesso em: 13/02/2016.
HALL, Stuart. Cultura e representação. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio: Apicuri, 2016.
HANDERSON, Joseph. Vodu no Haiti, Candomblé no Brasil: identidades culturais e sistemas religiosos como concepções de mundo Afro-Latino-Americano. Pelotas, 2010. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Instituto de Sociologia e Política, Universidade Federal de Pelotas.
HASS, Monica. O Linchamento que muitos querem esquecer. Argos: Chapeco, 2012.
KOIFMAN, Fábio. Imigrante ideal: O Ministério da Justiça e a entrada de estrangeiros no Brasil (1941-1945). Rio de Janeiro: Editora José Olympio (Edição para Kindle), 2012.
LEITE, Ilka B. Descendentes de africanos em Santa Catarina: invisibilidade e segregação In: LEITE, Ilka. B. (Org.). Negros no Sul do Brasil: invisibilidade e territorialidade. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1996.
MAGALHÃES, Luís Felipe Aires. A imigração haitiana em Santa Catarina: perfil sociodemográfico do fluxo, contradições da inserção laboral e dependência de remessas no Haiti. Campinas, 2017. Tese (Doutorado em Demografia) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas.
MAGALHÃES, Luís Felipe Aires; BAENINGER, Rosana. Imigração haitiana no Estado de Santa Catarina: Fases do fluxo e contradições da inserção laboral. Blucher Social Sciences Proceedings, São Paulo, v.2, n.2, 2016
MAMIGONIAN, Beatriz Gallotti. Africanos em Santa Catarina: escravidão e identidade étnica (1750-1850). In: Seminário Internacional “Nas Rotas do Império: Eixos Mercantis, Tráfico de Escravos, Relações Sociais no Mundo Português”. Universidade Federal do Rio de Janeiro, junho, 2006.
METZNER, Tobias. La migración haitiana hacia Brasil: estudio en el país de origen. In: Cuadernos Migratorios, nº6 “La migración haitiana hacia Brasil: características, oportunidades y desafíos”. Buenos Aires: OIM, 2014. p. 15-32.
MUNANGA, Kabengele. Negritude: usos e sentidos. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.
NEABI-UFFS-CH. Vídeo Ser imigrante e negra no Sul do Brasil. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3bDrSEZgtvw&t=14s Acesso em: 1/02/2018
NOGUEIRA, Oracy. Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem: sugestão de um quadro de referência para a interpretação do material sobre relações raciais no Brasil. Tempo Social, Revista de Sociologia da USP, v. 19, n. 1, 2006.
ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, 1985.
PERAZA-BREEDY, Jorge. Introducción. In: Cuadernos Migratorios, nº6 “La migración haitiana hacia Brasil: características, oportunidades y desafíos”. Buenos Aires: OIM, 2014. p. 11-14.
POLI, Jaci. Caboclo: pioneirismo e marginalização. Cadernos do CEOM, Chapecó, ano 19, n.23, 2014.
RENK, Arlene. A colonização do oeste catarinense: as representações dos brasileiros. Cadernos do CEOM, Chapecó, ano 19, n.23, 2014.
RENK, Arlene. Uns trabalham outros lutam: brasileiros e a luta na erva. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 6, n. 14, 2000.
ROEDIGER, David. Sobre autobiografia e teoria: uma introdução. In: WARE, Vron (Org.). Branquidade: identidade branca e multiculturalismo. Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2004.
SCHUCMAN, Lia Vainer. Entre o encardido, o branco e o branquíssimo. São Paulo: Annablume: 2013.
SCHWARCZ, Lilia. Complexo de Zé Carioca: notas sobre a identidade mestiça e malandra. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, n. 29, p. 49-63, 1995.
UNIVERSIDADE FEDERARAL DA FRONTEIRA SUL. Resolução n.32/2013. Institui o Programa de Acesso à Educação Superior da UFFS para estudantes haitianos - PROHAITI e dispõe sobre os procedimentos para operacionalização das atividades do programa. Chapeco, 12 de dezembro de 2013.
WARE, Vron (Org.). Branquidade: identidade branca e multiculturalismo. Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2004.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Copyright (c) 2017 Claudete Gomes Soares, Neuri José Andreola