Resumo
Este ensaio aborda o questionamento de Spivak – “Pode o subalterno falar?”, dispondo uma demanda precedente – “Pode o subalterno ser representado?”. Para tanto, analisa-se três filmes brasileiros – Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha; O Bandido da Luz Vermelha (1968), de Rogério Sganzerla; e Jogo Duro (1985), de Ugo Giorgetti, investigando-se uma inversão representativa das narrativas e uma mudança da hierarquia dos gêneros. Como método, dialoga-se esses longa-metragens com interlocutores sociológicos, como Bakhtin, Bourdieu e Collins, sob o intuito de aprofundamento das questões dispostas para a representação da subalternidade. Sob nossa hipótese, estes filmes materializariam a pré-existência do elemento representativo para a conseguinte interposição do elemento de arguição, podendo atuar como instrumentos de agenciamento político, ainda que bloqueado o pleno acesso ao direito legítimo da fala.
Referências
ABREU, Nuno César Pereira de. Boca do lixo: cinema e classes populares. 2002. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes, Campinas, SP.
ALMEIDA, Sandra Regina Goulart. Prefácio - Apresentando Spivak. In. SPIVAK, Gayatri. Pode o Subalterno Falar?. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000.
BAKHTIN, Mikhail. Rabelais and His World. Bloomington: Indiana University Press, 1984.
BORDWELL, David; THOMPSON, Kristin. A Arte do Cinema: Uma Introdução. Campinas, SP; São Paulo, SP: Editora da Unicamp: Edusp, 2013.
BOURDIEU, Pierre. A Distinção: Crítica Social do Julgamento. São Paulo: Edusp; Porto Alegre: Zouk, 2007.
BOURDIEU, Pierre. A Economia das Trocas Linguísticas: O que falar quer dizer? 2 ed. São Paulo: Edusp, 2008.
BURGER, Peter. Teoria da Vanguarda. São Paulo: CosacNaify, 2012.
CITELI, Maria Teresa. As Desmedidas da Vênus Negra: gênero e raça na história da ciência. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, nº 61, pp. 163-175, 2001.
COLI, Jorge. O Corpo da Liberdade: Reflexões sobre a Pintura do Século XIX. São Paulo: CosacNaify, 2010.
COLLINS, Patricia Hill. Aprendendo com a outsider within: A Significação Sociológica do Pensamento Feminista Negro. Revista Sociedade e Estado, vol. 3, nº 1, pp. 99-127, jan.-abr., 2016. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/se/v31n1/0102-6992-se-31-01-00099.pdf. Acesso em: 25 mai. 2019.
DESBOIS, Laurent. A Odisseia do Cinema Brasileiro – Da Atlântida a Cidade de Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
DEUS e o Diabo na Terra do Sol. Direção de Glauber Rocha. Rio de Janeiro: Copacabana Filmes, 1964. (125 min.).
FALDINI, Franca; FOFI, Goffredo. Il Cinema Italiano d’Oggi, 1970-1984: Raccontato dai suoi protagonisti. Milano: A. Mondadori, 1984.
FERNANDES, Florestan. A Natureza Sociológica da Sociologia. São Paulo: Ática, 1980.
FROBENIUS, Leo. The Voice of Africa: Being an Account of the Travels of the German Inner African Exploration Expedition in the years 1910-1912. Volume I. London: Hutchinson, 1913.
GOODY, Jack. O Roubo da História: Como os ocidentais se apropriaram das ideias e das invenções do Oriente. São Paulo: Editora Contexto, 2008.
HOLQUIST, Michael. Prologue of the Rabelais and His World. In: BAKHTIN, Mikhaill. Rabelais and His World. Bloomington: Indiana University Press, 1984.
JAMESON, Fredric. A Virada Cultural – Reflexões sobre o Pós-Moderno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
JOGO Duro. Direção de Ugo Giorgetti. São Paulo: Luar Produções Cinematográficas Ltda., 1985 (91 min.).
LIGUORI, Guido; VOZA, Pasquale (Orgs.). Dicionário Gramsciano (1926 – 1937). São Paulo: Boitempo, 2017.
MACIEL, Ana Carolina de Moura Bonfim. “Yes nós temos bananas”. Cinema Industrial Paulista: A Companhia Cinematográfica Vera Cruz, atrizes de cinema e Eliane Lage. Brasil, anos 1950. Campinas, SP. Tese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas [296p.], 2008.
MANNHEIM, Karl. Ideology and Utopia - An Introduction to the Sociology of Knowledge. New York: Routledge, 1998.
MELO NETO, João Cabral de. Morte e Vida Severina e Outros Poemas para Vozes. 34 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994.
O BANDIDO da Luz Vermelha. Direção de Rogério Sganzerla. São Paulo: Distribuidora de Filmes Urânio Ltda., 1968. (92 min.).
PAVAM, Rosane Barguil. O Cineasta Historiador– O Humor Frio no Filme Sábado, de Ugo Giorgetti. São Paulo, SP. Tese (doutorado) – Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas [172p.], 2011.
PENNY, H. Glenn. Ethnology and Ethnographic Museums in Imperial Germany. USA, North Carolina: The University of North Carolina Press, Chapel Hill and London, 2002.
REMARQUE, Erich. Im Westen Nichts Neues: Roman. Köln: Kiepenheuer & Witsch, 1987.
ROCHA, Glauber. Revolução do Cinema Novo. São Paulo: CosacNaify, 2004.
SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia de Bolso, 2007.
SODRÉ, Nelson Werneck. Evolução Social e Econômica do Brasil. 2 ed. Porto Alegre: UFRGS, 1996.
SPIVAK, Gayatri. Pode o Subalterno Falar?. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000.
WEBER, Max. Die protestantische Ethik, und der Geist des Kapitalismus. Tübingen: Mohr, 1934.
WILLETT, Frank. Ife and its Archaeology. The Journal of African History, vol. 1, nº 2, pp. 231-248, 1960.
WISS, Rosemary. Lipreading: Remembering Saartje Baartman. The Australian Journal of Antropology, vol. 5, nº 1-2, pp. 11-40, 1994.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2019 Kevin Luís Damásio, Simone Boró