Banner Portal
Entre os passos do samba e o compasso da ditadura
PDF

Palavras-chave

Dança dos sentidos
Música popular
Estado Novo
Censura
Vozes destoantes

Como Citar

PARANHOS, Adalberto. Entre os passos do samba e o compasso da ditadura: fissuras e censura em tempos de "Estado Novo". Música Popular em Revista, Campinas, SP, v. 8, n. 00, p. e021008, 2021. DOI: 10.20396/muspop.v8i00.15902. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/muspop/article/view/15902. Acesso em: 16 abr. 2024.

Resumo

Uma mesma canção, calcada no binômio letra e música, admite distintas leituras associadas a diversas constelações de sentido. Ela não é um objeto inerte, congelado no tempo e no espaço, cristalizado a ponto de mostrar-se impermeável a flutuações e a migrações de significado. Conforme as performances vocais, instrumentais, visuais que informam e conformam as canções, elas, em determinadas circunstâncias, podem vir a significar algo sequer imaginado pelos seus autores, configurando uma dança dos sentidos. Isso se aplica igualmente à análise de realidades históricas específicas. Um mesmo objeto – no caso, as relações entretecidas entre o “Estado Novo” e a área da música popular – é passível de ser apreendido sob diferentes prismas analíticos, na dependência, em grande medida, dos aportes teóricos e dos métodos de investigação a que nos agarramos como âncoras para levar adiante nossas pesquisas. Sob essa perspectiva, hábitos monológicos não são, nem de longe, bússolas confiáveis quando procuramos dar conta do caráter dialético das relações políticas e dos artefatos musicais. É disso que trata este texto ao pisar e repisar, uma vez mais, o chão muito batido da ditadura estado-novista para surpreender a existência de práticas discursivas que colocam em xeque certos pressupostos tradicionais da historiografia largamente disseminada sobre o período. Afinal, para além de colecionarem silêncios e/ou de se recolherem ao papel de câmaras de eco da “palavra estatal”, outras vozes, destoantes ou dissonantes, se fizeram ouvir também na época, apesar da censura que pesava sobre elas, asfixiando-as.

https://doi.org/10.20396/muspop.v8i00.15902
PDF

Referências

ABRE A PORTA. Intérprete: Linda Batista. Compositores: Raul Marques e César Brasil. [S. l.]: Odeon, 1940. 78rpm.

ACABOU A SOPA. Intérprete: Ciro Monteiro. Compositores: Geraldo Pereira e Augusto Garcez. [S. l.]: Victor, 1940. 78 rpm.

AMARAL, Azevedo. Getúlio Vargas, estadista. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1941.

BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1981.

BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da história. In: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1985. p. 222-232.

BOURDIEU, Pierre. A identidade e a representação: elementos para a reflexão crítica sobre a ideia de região. In: BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. p. 107-132.

BOURDIEU, Pierre. A leitura: uma prática cultural: debate entre Pierre Bourdieu e Roger Chartier. In: CHARTIER, Roger (org.). Práticas da leitura. 2. ed. São Paulo: Estação Liberdade, 2001. p. 229-253.

BOURDIEU, Pierre. Le mort saisit le vif. As relações entre a história reificada e a história incorporada. In: BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. p. 75-106.

BRASIL! Intérpretes: Francisco Alves e Dalva de Oliveira. Compositores: Benedito Lacerda e Aldo Cabral. [S. l.]: Columbia, 1939. 78 rpm.

BUARQUE, Chico. Ópera do malandro: comédia musical. São Paulo: Livraria Cultura, 1978.

BURKE, Peter. Cultura popular na Idade Moderna: Europa, 1500-1800. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

CABRAL, Sérgio. Getúlio Vargas e a música popular brasileira. Ensaios de Opinião, Rio de Janeiro, v. 3, n. 2 + 1, p. 36-41, 1975.

CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. O Estado Novo, o Dops e a ideologia da segurança nacional. In: PANDOLFI, Dulce (org.). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1999. p. 327-340.

CAULFIELD, Sueann. Em defesa da honra: moralidade, modernidade e nação no Rio de Janeiro (1918-1940). Campinas: Editora da Unicamp, 2000.

CERTEAU, Michel de; GIARD, Luce. Uma ciência prática do singular. In: CERTEAU, Michel de; GIARD, Luce; MAYOL, Pierre. A invenção do cotidiano: morar, cozinhar. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 335-342. v. 2.

DARNTON, Robert, O grande massacre dos gatos: e outros episódios da história cultural francesa. 4. ed. Rio de Janeiro: Graal, 2001.

ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Rio de Janeiro: Vitória, 1960.

ESCOLA DE MALANDRO. Intérpretes: Noel Rosa e Ismael Silva. Compositores: Noel Rosa, Ismael Silva e Orlando Luiz Machado. [S. l.]: Odeon, 1932. 78 rpm.

FAZ UM HOMEM ENLOUQUECER. Intérprete: Ciro Monteiro. Compositores: Wilson Batista e Ataulfo Alves. [S. l.]: Victor, 1942. 78 rpm.

GOULART, Silvana. Sob a verdade oficial: ideologia, propaganda e censura no Estado Novo. São Paulo: Marco Zero: CNPq, 1990.

GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere: os intelectuais. O princípio educativo. Jornalismo. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. v. 2

JÁ QUE ESTÁ DEIXA FICAR. Intérprete: Anjos do Inferno. Compositor: Assis Valente. [S. l.]: Columbia, 1941. 78 rpm.

LOUCA PELA BOEMIA. Intérprete: Gilberto Alves. Compositores: Bide e Marçal. [S. l.]: Odeon, 1941.

LÖWY, Michael. “A contrapelo”: a concepção dialética da cultura – as teses de Walter Benjamin (1940). Lutas Sociais, São Paulo, n. 25/26, p. 20-28, 2. sem. 2010/ 1. sem. 2011. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/ls/article/view/18578. Acesso em: 15 mar. 2021.

MADALENA. Intérprete: Anjos do Inferno. Compositores: Bide e Marçal. [S. l.]: Columbia, 1942.

MARCONDES FILHO. A senhora do lar proletário (palestra irradiada em 1942 na “Hora do Brasil”). In: MARCONDES FILHO. Trabalhadores do Brasil! Rio de Janeiro: Revista Judiciária, 1943. p. 55-55.

MARCONDES FILHO. Discurso na solenidade de fundação da Legião Brasileira de Assistência. Boletim do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, Rio de Janeiro, n. 98, out. 1942.

MIDDLETON. Richard. Studying popular music. Philadelphia: Open University Press, 1990.

NÃO QUERO CONSELHO. Intérpretes: Carmen Costa e Henricão. Compositores: Príncipe Pretinho e Constantino Silva. [S. l.]: Columbia, 1940. 78 rpm.

O AMOR REGENERA O MALANDRO. Intérpretes: Joel e Gaúcho. Compositor: Sebastião Figueiredo. [S. l.]: Columbia, 1940. 78 rpm.

O MALANDRO N. 2 (“Die Moritat von Mackie Messer”). Intérprete: João Nogueira. Compositores: Kurt Weill e Bertolt Brecht, adaptação de Chico Buarque. In: ÓPERA DO MALANDRO DE CHICO BUARQUE. [S. l.]: Philips, 1979. 2 LPs, faixa 17.

OH! SEU OSCAR. Intérprete: Ciro Monteiro. Compositores: Ataulfo Alves e Wilson Batista. [S. l.]: Victor, 1939. 78 rpm.

PARANHOS, Adalberto. A música popular e a dança dos sentidos: distintas faces do mesmo. ArtCultura, Uberlândia, n. 9, p. 22-31, jul./dez. 2004. Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/artcultura/article/view/1367. Acesso em: 25 mar. 2021.

PARANHOS, Adalberto. O roubo da fala: origens da ideologia do trabalhismo no Brasil. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2007.

PARANHOS, Adalberto. Os desafinados: sambas e bambas no “Estado Novo”. São Paulo: Intermeios: CNPq: Fapemig, 2015.

PERROT, Michele. Maneiras de caçar. Projeto História, São Paulo, n. 17, p. 55-61, 1998.

REBELO, Marques. A mudança. 3. ed., Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. (2. tomo de O espelho partido).

RECENSEAMENTO. Intérprete: Carmen Miranda. Compositor: Assis Valente. [S. l.]: Odeon, 1940. 78 rpm.

SAMBEI 24 HORAS. Intérprete: Aracy de Almeida. Compositores: Wilson Batista e Haroldo Lobo. [S. l.]: Odeon, 1944. 78 rpm.

SANDRONI, Carlos. Feitiço decente: transformações do samba no Rio de Janeiro (1917-1933). Rio de Janeiro: Jorge Zahar: Editora UFRJ, 2001.

SMALL, Christopher. El musicar: un ritual en el espacio social. Trans: Revista Transcultural de Música, S. l., n. 4, 1999. Disponível em: https://www.sibetrans.com/trans/articulo/252/el-musicar-un-ritual-en-el-espacio-social. Acesso em: 30 mar. 2021.

THOMPSON, E. P. As peculiaridades dos ingleses e outros artigos. Campinas: Editora da Unicamp, 2001.

THOMPSON, E. P. Introdução: costume e cultura. In: THOMPSON, E. P. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 13-24.

THOMPSON, E. P. Patrícios e plebeus. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 25-85.

VASCONCELLOS, Gilberto; SUZUKI JR., Matinas. A malandragem e a formação da música popular brasileira. In: FAUSTO, Boris (dir.). História geral da civilização brasileira – III – O Brasil republicano (Economia e cultura: 1930-1964). 3. ed. São Paulo: Difel, 1984. p. 501-523.

VIDA APERTADA. Intérprete: Ciro Monteiro. Compositor: Ciro de Souza. [S. l.]: Victor, 1940. 78 rpm.

VOCÊ NÃO TEM PALAVRA. Intérprete: Newton Teixeira. Compositores: Newton Teixeira e Ataulfo Alves. [S. l.]: Odeon, 1940. 78 rpm.

WILLIAMS, Raymond. Cultura e sociedade: 1780-1950. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969.

ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz: a “literatura” medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

Creative Commons License
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.

Copyright (c) 2021 Adalberto Paranhos

Downloads

Não há dados estatísticos.