Resumo
Sérgio Ricardo (1932-2020) desempenhou um importante papel no Cinema Novo como compositor das trilhas sonoras de filmes como Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964). Menos célebres são os filmes dirigidos por Sérgio Ricardo, como Juliana do Amor Perdido (1970) e A Noite do Espantalho (1974), para os quais ele também compôs a trilha sonora. Como músico e cineasta, Sérgio Ricardo esteve envolvido no início dos anos 1960 com o CPC e seu projeto de arte popular revolucionária. Este artigo tem o objetivo de analisar a dimensão política e o tratamento estilizado das canções presentes no cinema de Sérgio Ricardo. Durante a análise, exploramos a relação entre a temática do enredo e a música, momento da pesquisa em que observamos o papel narrativo das canções diegéticas, em A Noite do Espantalho, e extradiegéticas, nos filmes Esse Mundo é Meu e Juliana do Amor Perdido, sendo este último filme objeto de nossa análise mais extensa. Consideramos que a música no cinema de Sérgio Ricardo se caracteriza pela objetividade política e pelo tratamento estilizado de caracteres regionalistas, seja o samba urbano, a música caiçara do litoral paulista ou a sonoridade musical do sertão nordestino, e se apresenta integrada à função narrativa.
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Referências Filmográficas
DEUS E O DIABO na Terra do Sol. Glauber Rocha, 1964.
ESSE MUNDO É MEU. Sérgio Ricardo, 1963.
JULIANA DO AMOR PERDIDO. Sérgio Ricardo, 1968.
A NOITE DO ESPANTALHO. Sérgio Ricardo, 1974.
TERRA EM TRANSE. Glauber Rocha, 1967.
Referências Discográficas
ESSE MUNDO É MEU. Forma, 1963. LP.
DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL. Forma, 1964. LP.
ARREBENTAÇÃO. Equipe, 1971. LP.
A NOITE DO ESPANTALHO. Continental, 1974. LP.
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