Cruzo-Crítico: epistemologias de terreiros para as artes performáticas no Brasil contemporâneo

Resumo

Neste artigo, apresento dois trabalhos performativos desenvolvidos por Ayrson Heráclito (1968-): Sem Título (Sacudimento da Estação Pinacoteca) e Bori. Tais produções foram elaboradas com base em conceitos ligados às vivências em Comunidades Tradicionais de Terreiro (CTTro), como o tempo espiralar, e apresentam características rituais, seja pela presença do corpo, objetos sagrados ou de práticas específicas, como é o caso do sacudimento. Sendo assim, busco nas epistemologias de terreiros — terminologia defendida e sistematizada por Sidnei Nogueira —, sobretudo de matrizes banto e iorubá, pistas para possíveis ferramentas de análise teórico-crítica destas produções. Considerando as lacunas provocadas pelo histórico de racismo religioso no Brasil, país com feridas coloniais abertas, e a prática do epistemicídio ainda assentada na ciência, compreendo o processo de pesquisa aqui descrito como uma oportunidade de sustentar a importância da defesa de tais epistemes para o pensamento sobre produções artísticas nesta linha, a passo que tal formulação teórica seja desenvolvida por pessoas viventes em terreiros, como Leda Maria Martins, Sidnei Nogueira e Luiz Rufino.