Resumo
Em meados do século XIX na Europa, tanto o campo de atuação dos arquitetos como dos engenheiros passa por transformações. Enquanto o profissional de arquitetura se volta aos projetos residenciais, à decoração de interiores e às discussões a respeito de suas atribuições na intervenção das cidades – uma vez que o urbanismo se torna uma disciplina científica; os engenheiros enfrentavam os desafios alarmantes que tomavam conta das cidades industriais: falta de sistemas de abastecimento de água, tratamento de esgoto, iluminação, redes de transportes, pontes e viadutos, além das melhorias portuárias. Dentro desse cenário internacional, a revista britânica Engineering, lançada em 1866, procura estabelecer um debate com seu público leitor, tratando não apenas da formação técnica e prática – característica do ensino da engenharia, mas enfocando aspectos artísticos até então ausentes na formação de um engenheiro civil. Destaca-se aqui a inserção de ornamentos e elementos decorativos oriundos da linguagem arquitetônica, medidas e proporções que deveriam revelar a beleza do desenho nas construções monumentais, a questão do “gosto na engenharia”, que deveria passar pela apreciação pública, enfim, um novo olhar é lançado sobre os equipamentos urbanos que emergem, nesse momento, como autênticas “obras de arte”. O presente artigo, portanto, pretende verificar em que medida a representação das obras de engenharia tornaram-se um legado visual para compreensão das rápidas transformações ocorridas, sobretudo, na segunda metade do século XIX, uma vez que a revista Engineering traz inúmeros projetos, desenhos, detalhes construtivos e ornamentais, reproduzidos diariamente junto às reportagens. Pretende-se analisar também em que medida o repertório arquitetônico foi amplamente incorporado aos projetos de engenharia.
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