16ª Edição - 2022

O amanhã possível - História da arte em tempos de crises socioambientais

É hora de contar histórias às nossas crianças, de explicar a elas que não devem ter medo. Não sou um pregador do apocalipse, o que tento é compartilhar a mensagem de um outro mundo possível. (Ailton Krenak)

O mote eleito pela comissão organizadora para o Encontro de História da Arte deste ano é O amanhã possível - História da arte em tempos de crises socioambientais. A reflexão de Ailton Krenak nos conduz a questionar: o que podem os historiadores de arte fazer diante de problemas planetários urgentes? Que métodos existentes na História da Arte e Estudos Visuais podem ser adaptados, refeitos ou revividos para facilitar as investigações ecocríticas na História da Arte?

Em The Ecological Eye (O olho ecológico), Andrew Patrizio afirmou que, para se tornar ecocrítica, a História da Arte precisa ampliar os objetos de suas obsessões, mas também deve abandonar seu elitismo residual, destacando a potência deste campo de estudos para despertar novas sensibilidades rumo a horizontes possíveis - um chamado da teoria à ação. No mesmo sentido, Guattari, já no final da década de 1980 em seu As três ecologias, apontava para a possibilidade de que uma relação mais harmônica, deshierarquizada e horizontal com o planeta e as outras espécies pudesse outorgar consequências salutares não somente aos vínculos externos da humanidade com a fauna e flora, mas - e sobretudo - oferecer alternativas de vivências mais plurais e inclusivas no interior de nossa própria espécie.

Em busca de aportes metodológicos e abordagens epistemológicas mais arejadas e conectadas às questões socioambientais candentes, um dos caminhos possíveis para a História da Arte é ampliar cada vez mais o escopo dos objetos de suas investigações para além da Tradição Clássica e do cânone ocidental. Uma das possibilidades é, a partir do estudo de artes ameríndias - e compreendendo a existência de múltiplos sistemas de conhecimento - questionar paradigmas e ampliar as possibilidades de compreensão de formas artísticas nas quais a natureza desempenha um papel agente. Nesse sentido, a  História da Arte pode, assim, ser repensada à luz daquilo que Marisol de la Cadena nomeou como “antropo-cego”, ou seja, um processo de criação de mundo por meio do qual mundos heterogêneos que não se fazem com uma divisão entre humanos e não humanos são obrigados a operar com essa distinção, ao mesmo tempo que a excedem.

A história das técnicas de arte também pode oferecer lições em sua atenção a materiais como os pigmentos e em sua capacidade de atravessar escalas desde a molecular até a geológica. Se desde as contribuições de autores como Arjun Appadurai, Bruno Latour e Alfred Gell a mirada da História da Arte a aspectos como a materialidade dos objetos, sua capacidade de agir no âmbito das relações sociais e a relevância do suporte material para a circulação (e ação) das imagens tornou-se cada vez mais atenta, às questões ambientais que hoje assaltam nosso planeta tratam de reforçar a relevância dessa abordagem, quer seja no esforço já aludido de dilatar os sujeitos estudados pela disciplina, quer seja fornecendo novas interpretações a obras fartamente estudadas.  

É com base na urgência de tais reflexões que o XVI Encontro de História da Arte convida pesquisadores a inscreverem trabalhos que proponham reflexões sobre as possíveis maneiras da História da Arte articular visões alternativas do mundo, elucidando as ecologias de interconexão entre matéria e nossas percepções e emoções.