Luciano de Samósata - Alexandre ou o falso profeta

Abstract

Este é um texto de excepcional importância no conjunto das obras de Luciano. Ao leitor pode parecer surpreendente uma afirmação desse teor, sobretudo para aquele que sabe que a excepcionalidade é a marca mais característica de tudo que Luciano escreveu — na qualidade de um autor que efetivamente guarda surpresas a cada passo, seja no que concerne à manipulação dos gêneros tradicionais, seja na escolha dos temas ou na forma sempre nova como os trata. O juízo de valor justifica-se antes de mais nada pelo simples fato de que se trata de um texto assinado, isto é, em que Luciano se nomeia com seu nome próprio — o que, nas oitenta obras que compõem o corpus lucianeum é coisa rara l . Com efeito, na cena em que narra seu encontro com Alexandre, registra que este, informado de sua chegada a Abonotico, "soube que aquele era o tal Luciano" que o desafiava e difamava: segue-se então a desrespeitosa cena em que, dando-lhe o profeta a mão para beijar, Luciano retribuiu-lhe com "uma boa dentada", fazendo com que "faltasse muito pouco para que ficasse aleijado da mão.