Resumo
Essa é uma pesquisa sobre a Putumayo, gravadora nova-iorquina de world music, que se propõe a organizar coletâneas que reúnem faixas de “lugares exóticos onde a música se originou”, para que o resto do mundo conheça aquelas culturas “tais como são”. Mas o que se observou no exercício de pesquisa é que o trabalho de curatela da gravadora traz em seu bojo uma forte marca autoral: a Putumayo não apenas (passivamente) expõe as culturas em seus próprios termos nativos, mas (ativamente) as constitui substancialmente, com base na sua gramática nova-iorquina. Tendo isso em vista, o texto intenta evidenciar como os passivos e desinteressados gestos de curadoria são também ativos e interessados atos de autoria: as culturas do mundo não estão sendo apenas dispostas e organizadas, mas também constituídas. Aquele que seleciona, por se acreditar apto para tal, é também o que instaura. Dessa maneira, o artigo se debruça sobre o binômio “mediação de sentido/ imputação de sentido”, almejando analisar como instâncias intermediárias, ao se julgarem capazes de mediar, acabam por imputar os sentidos que pareciam estar apenas mediando: justamente por residirem nesse entre, os mediadores acabam vazando para os polos, constituindo-os. Em linhas gerais, esse é um trabalho sobre práticas de exotização e estereotipia na construção do Outro, que objetiva mostrar como o exercício de sair de si em busca da alteridade, quando baseado nos próprios pressupostos, não deixa de ser um mergulho para dentro de si mesmo.Referências
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