Resumo
O artigo traz o relato etnográfico da Visita, ritual oral fúnebre praticado pelos habitantes da comunidade de pescadores marítimos de Tatajuba, localizada na costa extremo-oeste do estado do Ceará, a 365 quilômetros de Fortaleza. Em observância aos comentários de teoria e método antropológicos clássicos de Gregory Bateson, Victor Turner, Marcel Mauss, Peter L. Berger e Lévi-Strauss, intentam-se abordar os atores e as simbologias de composição da cena ritual da Visita, compreendendo o seu enredo como um signo amplo onde cismogêneses e semióticas se afirmam nas diversas interações cerimoniais. Em que medida o rito oral fúnebre, onde é celebrada a passagem de um ano do falecimento de um mestre de embarcação, pode ser lido a partir da composição artístico-performática negociada pelos seus elementos rituais? Como campo de discussão compartilhado, fazem-se comunicar a antropologia da religião, a semiótica peirciana e a antropologia da arte e do rito, pensando as possibilidades de interpretações oferecidas por essas subáreas.
Referências
Adomilli, Gianpaolo K. Tempo e espaço: considerações sobre o modo de vida dos pescadores do parque nacional da Lagoa do Peixe (RS) em um contexto de conflito social. Iluminuras, Curitiba/PR, 2006, v. 7, n. 15, pp. 1-28.
Alves da Silva, Rubens. Entre “artes” e “ciências”: a noção de performance e drama no campo das ciências sociais. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, UFRGS, 2005, n. 24, v. 1, pp. 35-65.
Bateson, Gregory. Naven: um esboço dos problemas sugeridos por um retrato compósito, realizado a partir de três perspectivas, da cultura de uma tribo da Nova Guiné. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2006.
Berger, Peter L. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião. São Paulo: Paulus, 1985.
Cunha, Manuela Carneiro da. Os mortos e os outros: uma análise do sistema funerário e da noção de pessoa entre os Krahó. São Paulo: Hucitec, 1978.
Diegues, Antonio Carlos. A socioantropologia das comunidades de pescadores no Brasil. Etnográfica, v. III (2), 1999, pp. 361-75.
Lévi-Strauss, Claude. O pensamento selvagem. São Paulo: Papirus, 1996.
Lipset, David. Gregory Bateson: The legacy of a scientist. Boston: Beacon Press, 1982.
Maldonado, S. C. Mestres e mares: espaço e indivisão na pesca marítima. São Paulo: Annablume, 1993.
Mauss, Marcel. A expressão obrigatória dos sentimentos: funerais orais funerários australianos. In: Mauss, Marcel. Ensaios de sociologia. São Paulo: Perspectiva, 2005. pp. 325-35. (Artigo publicado pela primeira vez em 1921.)
Peirano, Mariza G. S. A análise antropológica de rituais. Série Antropologia. In: Peirano, Mariza G. S. O dito e o feito. Ensaios de antropologia dos rituais. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.
Peirce, Charles S. Semiótica. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2005.
Ricarto, Tatiane. Um perfil etnográfico das relações intrafamiliares e interfamiliares dos moradores de Tatajuba, Camocim, Ceará. (Trabalho Monográfico) Universidade Federal do Ceará, Departamento de Ciências Sociais, Fortaleza, 2009.
Sautchuck, Carlos Emanuel. Comer a farinha, desmanchar o sal: ecologia das relações pescador-(peixe)-patrão no aviamento amazônico. Série Antropologia, Brasília, 2008, v. 420, pp. 1-22.
Turner, Victor. The anthropology of performance. New York: PAJ Publications, 1987.
Turner, Victor. O processo ritual: estrutura e antiestrutura. Rio de Janeiro: Vozes, 1974.

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2016 Potyguara Alencar dos Santos