Resumo
É possível se afirmar que os objetos artísticos, em virtude de seus atributos materiais (e não somente sua autoria), possuem um “gênero”? As artes têxteis, e em particular os bordados, parecem ser o caso de objetos “naturalmente atrelados ao fazer feminino”. Pretende-se debater o modo com que tais faturas foram, historicamente, feminizadas no mundo artístico ocidental, como resultado do processo de imposição do sistema acadêmico. Desde o século XVI, as academias passaram a congregar a formação e a consagração dos artistas. Vale notar que, tal sistema estabelecia a “hierarquia dos gêneros”, um sistema de classificação das modalidades artísticas que as escalonava, estabelecendo como modalidade mais “alta” a pintura de história, domínio quase exclusivo dos artistas homens, e condenando como “baixas” as artes aplicadas, vistas como domésticas e, por extensão, femininas. Com o advento do feminismo, nos anos 1970, artistas como a norte-americana Miriam Schapiro articularam uma revalorização das tradições “femininas” a um discurso político denunciador das práticas de discriminação de gênero operantes dentro da própria disciplina história da arte. No Brasil, desde os anos 1980, verificam-se interessantes propostas de renovação das artes têxteis, notadamente, obras como as de Rosana Paulino e Rosana Palazyan merecem atenção pela capacidade de operar subversões dos sentidos tradicionalmente atrelados a tais faturas “femininas”; seus bordados propiciam novas formas de olhar e de pensar, extremamente críticas às hierarquias dos gêneros (artísticos e sociais) que vigoram tanto nas práticas cotidianas, quanto nos mundos das artes
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