Resumo
O conceito de mímēsis apresenta uma das questões mais controversas nos estudos platônicos, embora sua compreensão seja um ponto fundamental para que se articulem inúmeros argumentos desenvolvidos num diálogo como a República. Propondo que ao longo dessa obra o conceito de mímēsis não sofreria transformações tão radicais quanto supõem os estudiosos que acreditam haver uma incompatibilidade fundamental entre a discussão dos livros II-III e aquilo que fica estipulado acerca da mímēsis a partir do livro X, desejamos indicar a presença de importantes deslocamentos metonímicos na compreensão de termos empregados nesse debate (como as palavras do campo semântico de mímēsis e poíēsis). Buscamos expor também as motivações e as consequências por trás do retorno a essa discussão no livro X da República, pouco antes de sua conclusão com o mito de Er. Acreditamos demonstrar que, nesse ponto, Platão já não estivesse preocupado com a paideía [educação] dos responsáveis por guardar a pólis [cidade] concebida em lógos [discurso/ razão], mas com um problema de grande urgência para si próprio, qual seja, a necessidade de oferecer algum direcionamento para que seus contemporâneos não sucumbissem àquilo que figurava a seus olhos como a corrupção levada a cabo pelas formas miméticas de poesia.Referências
BELFIORE, Elizabeth (1984). A theory of imitation in Plato’s Republic. Transaction of the American Philological Association 114, pp. 121-146.
BRISSON, Luc (1982). Platon: Les mots et les mythes. Paris: François Maspero.
BRISSON, Luc (2005). Les poètes, responsables de la déchéance de la cité. In: DIXSAUT, Monique (dir.). Études sur la République de Platon vol. 1. Paris: Vrin, pp. 25-41.
CHANTRAINE, Pierre (1956). Études sur le vocabulaire grec. Paris: Klincksieck.
CHERNISS, H. (1977). On Plato’s Republic X 587 B. In: CHERNISS, H. Selected papers. Leiden: Brill, pp. 271-280.
FERRARI, G. R. F. (1989). “Plato and poetry”. In: KENNEDY, George (Ed.). The Cambridge History of Literary Criticism: Volume 1. Classical Criticism. Cambridge: Cambridge University Press, pp. 92-148.
GRISWOLD, Charles (1981). The Ideas and the Criticism of Poetry in Plato’s Republic, Book 10, Journal of History of Philosophy 19-2, pp. 135-150.
HALLIWELL, Stephen (2005). La mimèsis reconsidérée: une optique platonicienne. In: DIXSAUT, Monique (dir.). Études sur la République de Platon vol. 1. Paris: Vrin, pp. 43-63.
HALLIWELL, Stephen (2011). Antidotes and Incantations: Is There a Cure for Poetry in Plato’s Republic ?. In: DESTRÉE, Pierre & HERRMANN, Fritz-Gregor (Ed.). Plato and the Poets. Leiden; Boston: Brill, pp. 241-266.
HAVELOCK, Eric (1963). Preface do Plato. Cambridge; London: Belknap Press of Harvard University Press.
JAEGER, Werner (2013). Paideía: A formação do homem grego. Trad. Artur M. Parreira – 6ª. ed. – São Paulo: Editora WMF Martins Fontes (1ª. ed. 1986).
LEAR, Gabriel Richardson (2011). Mimesis and Psychological Change in Republic III. In: DESTRÉE, Pierre & HERRMANN, Fritz-Gregor (Ed.). Plato and the Poets. Leiden; Boston: Brill, pp. 195-216.
LEVIN, Susan (2001). The ancient quarrel between philosophy and poetry revisited: Plato and the Greek literary tradition. Oxford: Oxford University Press.
MARUŠIČ, Jera (2011). Poets and Mimesis in the Republic. In: DESTRÉE, Pierre & HERRMANN, Fritz-Gregor (Ed.). Plato and the Poets. Leiden; Boston: Brill, pp. 217- 240.
MOSS, Jessica (2007). What Is Imitative Poetry and Why Is It Bad?. In: FERRARI, G. R. F. (ed.). The Cambridge Companion to Plato’s Republic. Cambridge: Cambridge University Press, pp. 415-444.
MURRAY, Penelope (1992). Inspiration and Mimesis in Plato. In: BARKER, A. & WARNER, M. (ed.). The Language of the Cave. Edmonton: Academic Printing, pp. 27-46.
NIGHTINGALE, Andrea Wilson (1995). Genres in dialogue: Plato and the construct of philosophy. Cambridge: Cambridge University Press.
PLATÃO (2011). Banquete. Texto grego de John Burnet; trad. Carlos Alberto Nunes; ed. Plinio Martins Filho; coord. Benedito Nunes e Victor Sales Pinheiros. 3. ed. Belém: ed.ufpa.
PLATÃO (2011). Górgias. Tradução, ensaio introdutório e notas de Daniel R. N. Lopes. São Paulo: Perspectiva; FAPESP.
PLATÃO (2006). A República. Trad. Anna Lia Amaral de Almeida Prado. São Paulo: Martins Fontes.
PLATÃO (2014). A República de Platão. Obras I. 2ª Ed. Organização e tradução de Jacó Guinsburg, notas de Daniel Rossi Nunes Lopes. São Paulo: Perspectiva.
PLATO (1902). The Republic of Plato (2 v.). Edited with critical notes, commentary and appendices by James Adam. Cambridge: Cambridge University Press.
SINGPURWALLA, Rachel (2011). Soul Division and Mimesis in Republic X. In: DESTRÉE, Pierre & HERRMANN, Fritz-Gregor (Ed.). Plato and the Poets. Leiden; Boston: Brill, pp. 283-298.
TATE, John (1928). ‘Imitation’ in Plato’s Republic, Classical Quarterly 22, pp. 16-23.
TATE, John (1932). Plato and ‘Imitation’, Classical Quarterly 26, pp. 161-169.
VERNANT, Jean-Pierre (2008). Naissance d’images. In: VERNANT, Jean-Pierre. Oeuvres II: Religions, rationalités, politique. Paris: Éditions du Seuil, pp. 1728-1750.