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A isca e o parasita
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Palavras-chave

Paumari
Ritual
Arawá
Parasita
Sujeição
Patronato amazônico

Como Citar

BONILLA, Oiara. A isca e o parasita: ritual e humor paumari contra o poder. Maloca: Revista de Estudos Indígenas, Campinas, SP, v. 4, n. 00, p. e021011, 2021. DOI: 10.20396/maloca.v4i00.15241. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/maloca/article/view/15241. Acesso em: 28 mar. 2024.

Resumo

Após a saída de reclusão da moça púbere, ao longo das brincadeiras rituais, o moça é apresentada e exposta pelas demais mulheresa a vários "predadores" encenados pelos homens.  Em um jogo de espelhamentos e inversões, ela é posicionada como uma isca para atrair os predadores e constituir-se como uma armadilha, uma emboscada, na qual o predador seduzido pela possibilidade de sujeitar ou devorar sua presa, só pode cair e ser morto, . O Jara, o branco, é geralmente o último predador a chegar. Figura mais elaborada dessa etapa do ritual, é a única que se torna objeto de chacota das mulheres e das crianças, antes de ser surrada e destruída a pauladas por estas. Este ensaio etnográfico procura analisar o humor e o grotesco no contexto ritual paumari vinculando-o a dinâmica de inversões posicionais que estes operam entre o ponto de vista da presa e do predador, como vetor da aniquilação simbólica do poder e à luz de outra figura ritual, a do parasita. Figura que configura ideal parasitário, onde os patrões acabariam acoados em suas posições dominantes, à mercê da captura e do consumo por seus parasitas.  Mas não em um movimento de simples inversão ou anulação de posições, e sim atravessando a relação assimétrica, criando assim uma abertura possível para traçar alguma linha de fuga. Abrindo a possibilidade para que os patrões sejam forçados a assumir a posição de eternos provedores, não só de bens manufaturados, mas de tudo aquilo que se considera indispensável para estar no mundo: parentes, nomes, alimentos, trocas e inimigos.

https://doi.org/10.20396/maloca.v4i00.15241
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