Abstract
O propósito deste artigo é repensar o que foi preterido na relação supostamente estabelecida entre Francisco de Holanda e Michelangelo, durante e após a temporada do artista português em Roma. As reflexões que aqui seguirão gravitam na órbita da carta que Francisco, em Lisboa, enviou a Michelangelo, em Roma, em 1553. Será, por isso, oportuno interrogar-se por que esta carta nunca ocupou o lugar central que lhe seria merecido no âmbito dos estudos michelangianos e/ou holandianos, sobretudo por ela nunca ter sido um elemento perdido seja da vida de Michelangelo, seja da relação Michelangelo-Francisco de Holanda2. Malgrado tal carta nunca ter conhecido resposta, não será ocasião aqui de questionar a dimensão da verdade que aportam as palavras de Francisco de Holanda, problema já diversas vezes levantado, mas nunca totalmente solucionado. O objetivo será, em suma, entender esta carta na interseção entre esses dois artistas para além dos limites e da completude que os conhecidos Diálogos em Romaconstruíram para este binômio. A análise desta carta servirá como plataforma para a reflexão dos pilares sobre os quais este artigo está alicerçado; estes aparecerão por meio de palavras-chave que atravessarão os seguintes aspectos: