Abstract
Por que se colecionam objetos? De onde vem o hábito de reunir e guardar coisas que logo são destituídas de sua finalidade imediata? Seria esse ato algo inerente ao ser humano, universalmente válido? A resposta a esta última pergunta parece ser afirmativa, desde que seja descartada a ideia de uma organização sistemática que acabe por produzir um conjunto dotado de significado. Guardar e acumular objetos é o resultado do fato de termos memória e nos preocuparmos com o futuro. Por isso nos túmulos de muitas culturas antigas são encontrados objetos pessoais junto aos corpos enterrados; era para se certificar de que nada faltaria àqueles indivíduos na vida após a morte. Por isso ainda hoje é muito comum que em um funeral sejam colocadas dentro do caixão, junto ao morto, fotografias de seus familiares. Em ambos os casos, são fragmentos da realidade escolhidos para que o sujeito ou neles se reconheça, ou ao menos reconheça o ambiente social do qual fazia parte. Trata-se, portanto, de uma questão de identidade, individual ou coletiva. Em um sentido mais amplo, contudo, trata-se também de um jogo de intermediação entre o passado que se perdeu e o futuro que ainda não se conhece, território em que apenas a memória, o pensamento e a imaginação têm ação.