Resumo
Nossas primeiras imagens habitavam lugares sombrios – as cavernas, os túmulos, os templos – e davam corporeidade a uma dimensão obscura e distante da realidade – o mundo dos mortos, dos deuses, e uma natureza repleta de causalidades sutis. O processo civilizatório substitui o pensamento mágico por uma mentalidade científica, mas não consegue eliminar todos os traços dessa origem. Na outra ponta dessa história, a fotografia surge como produto da racionalidade moderna e inaugura a noção de imagem técnica. Mas, ao acolher nossos rituais afetivos mais intensos e cotidianos, abre espaço para manifestações de um pathos das linguagens que foi recalcado pela cultura. Atravessada por crenças e desejos, vai muito além de um “querer de dizer”: ela é também sintoma, espaço de transbordamento de sentidos que nem sempre nossas estratégias de comunicação são capazes de depurar. Nesses casos, as imagens são mais do que uma tela em que a expressão de um autor ou de um tempo pode ser lida. Ela é uma pele onde as cicatrizes da história ainda latejam. Como um prólogo estendido, este artigo apresenta os pressupostos que movem o livro “Diante da Sombra”, série de textos ficcionais que a fotografia como protagonista. Esses contos exploram o que persiste de sombra nessa escrita da luz. Publicamos um conto do livro junto com o artigo.
Referências
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