Resumo
Quinta-feira, 01 de março de 2018. Durante o banho matutino um dos meus olhos desprendeu-se da minha carne num salto ornamental, próprio de competidores olímpicos. Incapaz de detê-lo em sua queda livre, sua parada foi forçada pelo nervo ótico, ficando dependurado na altura de minha pélvis. A imagem captada pelo meu cérebro, a partir de um olho fixo e outro em movimento, ainda causa estranhamento. Eram dois olhos, duas imagens; um par. Daquele momento em diante as fotografias associadas ao texto se tornaram uma confissão dolorida acerca da violência aberta e estrutural, cuja ordinariedade de suas ocorrências as tornam invisíveis. Não se justificam, nem se explicam, são um par. Texto e foto são a mesma imagem. A fotografia, ao friccionar o real, abre nele uma fenda que conduz à imagem textual, por meio da qual esse interstício se mantém. Dois olhos, um par é um projeto vagarosamente doído. É um trabalho para limpar as feridas, estancar o sangue e se preparar para a luta.
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