Banner Portal
“Dinheiro é bom, mas um amigo é melhor”
PDF

Palavras-chave

Oikonomia
Reforma agrária
Incerteza
Antropologia econômica

Como Citar

L’ESTOILE, Benoît de. “Dinheiro é bom, mas um amigo é melhor”: incerteza, orientação para o futuro e a "economia". RURIS (Campinas, Online), Campinas, SP, v. 12, n. 2, p. 227–264, 2020. DOI: 10.53000/rr.v12i2.4261. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/ruris/article/view/17013. Acesso em: 6 maio. 2024.

Resumo

Com base em uma etnografia de longa duração focada em engenhos de cana-de-açúcar que se tornaram projetos de assentamento na Zona da Mata de Pernambuco, neste artigo eu questiono a evidência da “economia” como uma abordagem privilegiada para a compreensão da situação de vida dos pobres, a qual é estruturada pela precariedade e pela incerteza em relação ao futuro. Explorando a polissemia da palavra esperar (aguardar, ter esperança e expectar), o artigo analisa a pluralidade de orientações para o futuro de antigos trabalhadores assalariados das plantações de cana-de-açúcar incluídos em projetos de reforma agrária e suas estratégias para lidar com a incerteza. Embora o dinheiro seja desejável, ele tem um caráter transitório, e o valor dos amigos reside em seu potencial de ajuda, especialmente em casos de crise. Se a incerteza radical está fora do alcance humano, mobilizar amigos permite agir sobre a incerteza relativa.  Assim, a etnografia sugere que nos movamos para além de uma "antropologia econômica" que objetiva analisar "outras economias" e exploraremos os campos de oportunidades e os quadros de referência que estruturam situações de vida e as versões locais de oikonomia em seu sentido original de "governo da casa".

https://doi.org/10.53000/rr.v12i2.4261
PDF

Referências

BATESON, Gregory. Culture Contact and Schismogenesis. Man, vol. 35 (199), p. 178-183, dec. 1935.

BENSA, Alban. Compter les dons: échanges non marchands et pratiques comptables en Nouvelle-Calédonie Kanak contemporain. In: COQUERY, Natacha; WEBER, Florence; MENANT, François (dir.). Écrire, compter, mesurer. Vers une histoire des rationalités pratiques. Paris: Éditions rue d’Ulm, 2006, p. 79-112.

BLOCH, Maurice; PARRY, Jonathan (eds.). Money and the morality of exchange. Cambridge: Cambridge University Press, 1989.

BOHANNAN, Paul. Africa’s land. In: DALTON, George. Tribal and Peasant Economies: Readings in Economic Anthropology. New York: Natural History Press, 1967, p. 51-60.

BOURDIEU, Pierre. La société traditionnelle: attitude à l’égard du temps et conduite économique. Sociologie du travail, 5ᵉ année n°1, p. 24-44, janvier-mars. 1963.

BOURDIEU, Pierre. O ser social, o tempo e o sentindo da existência. In: BOURDIEU, Pierre. Meditações pascalianas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001, p. 253-300.

BRIAN, Éric. Comment tremble la main invisible. Incertitude et marchés. Paris: Springer, 2009.

CHAYANOV, Alexander V. Teoria dos sistemas económicos não-capitalistas. Análise Social, vol. XII (46), p. 477-502. 1976.

DE L’ESTOILE, Benoît de; PINHEIRO, Claudio Costa. Projetos, Apostas, Hesitações: Notas sobre três engenhos em situação de incerteza. In: DE L’ESTOILE, Benoît de; SIGAUD, Lygia (orgs.). Ocupações de terra e transformações sociais: uma experiência de etnografia coletiva. Rio de Janeiro: FGV, 2006, p. 64-105.

DE L’ESTOILE, Benoît de; SIGAUD, Lygia (orgs.). Ocupações de terra e transformações sociais: uma experiência de etnografia coletiva. Rio de Janeiro: FGV, 2006.

EISENBERG, Peter. L. Modernização sem mudança: a indústria açucareira em Pernambuco: 1840-1910. Rio de Janeiro: Paz e Terra; Campinas, SP: Universidade Estadual de Campinas, 1977.

FINLEY, Moses. I. Aristote et l’analyse économique. In: FINLEY, Moses. I. Économie et société en Grèce ancienne. Paris: Colin, 1984, p. 263-292.

FONTAINE, Laurence. L’économie morale: pauvreté, crédit et confiance dans l’Europe pré-industrielle. Paris: Gallimard, 2008.

FOSTER, George. The dyadic contract: a model for the social structure of a Mexican peasant village. American Anthropologist, vol. 63 (6), p. 1173–1192. 1961.

GARCIA, Afrânio. Terra de trabalho: trabalho familiar e pequenos produtores. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

GARCIA, Afrânio. Libres et assujettis: marché du travail et modes de domination au Nordeste. Paris: Maison des sciences de l’homme, Collection Brasilia, 1989.

GARCIA, Afrânio; GRYNSZPAN, Mário. Veredas da questão agrária e enigmas do grande sertão. In: MICELI, Sérgio (org.). O que ler na ciência social brasileira 1970-2002. São Paulo: Sumaré, 2002, p. 311-348.

GARCIA, Afrânio; PALMEIRA, Moacir. Transformações agrárias. In: PINHEIRO, Paulo Sérgio; SACHS, Ignacy; WILHEIM, Jorge (orgs.). Brasil: um século de transformações. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p. 38-77.

GARCIA, Marie-France. Espace du marché et mode de domination. Etudes Rurales, n. 131-132, p. 57-72, juillet-décembre. 1993.

GUDEMAN, Stephen; RIVERA, Alberto. Conversations in Colombia: the domestic economy in life and text. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.

HACKING, Ian. The emergence of probability. Cambridge: Cambridge University Press, 1975.

HANN, Chris; HART, Keith. Economic anthropology: history, ethnography, critique. Cambridge: Polity, 2011.

HEREDIA, Beatriz. A morada da vida: trabalho familiar de pequenos produtores do Nordeste do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

KEYNES, John Maynard. The general theory of employment (Quarterly Journal of Economics 51). In: The collected writings of John Maynard Keynes, vol. 7. London: Macmillan, 1974, p. 209-223.

KNIGHT, Frank Hyneman. Risco, incerteza e lucro. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1972.

KOSELLECK, Reinhart. “Espaço de experiência” e “horizonte de expectativa”: duas categorias históricas. In: KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto; Ed. PUC-Rio, 2006, p. 305-328.

KULA, Witold. Théorie économique du systéme féodal: pour un modèle de l’économie polonaise (XVIe–XVIIIe siècles). Paris: Mouton, 1970.

LAUTIER, Bruno. Les politiques sociales au Brésil durant le gouvernement de Lula: aumône d’état ou droits sociaux. Problèmes d’Amérique Latine, n. 63, p. 51-76, 2007.

LEITE, Sérgio et al. (coords.). Impactos dos assentamentos: um estudo sobre o meio rural brasileiro. Brasília: Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura - IICA, Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural - NEAD; São Paulo: Unesp, 2004.

MAUSS, Marcel. Débat sur les “sociales fonctions de la monnaie” de François Simiand. In: KARADY, Victor (ed.). Mauss, Oeuvres, vol. 2. Paris: Minuit, 1969, p. 116-120.

MEDEIROS, Leonilde Sérvolo de. Reforma agrária no Brasil: história e atualidade da luta pela terra. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2003.

MINTZ, Sidney. Caribbean transformations. Chicago: Aldine, 1974.

MITCHELL, Timothy. Rule of experts: Egypt, techno-politics, modernity. Berkeley: University of California Press, 2002.

NEIBURG, Frederico. Os sentidos sociais da economia. In: MARTINS, Carlos Benedito; DIAS DUARTE, Luiz Fernando (coords.). Antropologia: horizontes das ciências sociais no Brasil. São Paulo: ANPOCS, 2010, p. 225-258.

PALMEIRA, Moacir. Feira e mudança econômica. Simpósio de Pesquisas do PPGAS. Rio de Janeiro: Museu Nacional, 1971.

PALMEIRA, Moacir. Casa e trabalho: notas sobre as relações sociais na plantation tradicional. Contraponto 2(2), p. 103-114. 1977.

PALMEIRA, Moacir. Desmobilização e conflito: relações entre trabalhadores e patrões na agroindústria pernambucana. Revista de Cultura e Política, CEDEC, v.1, p. 41-55, ago. 1979.

PALMEIRA, Moacir. Modernização, Estado e Questão Agrária. SINTESIS, n. 12, p. 27-50. 1990.

PEREIRA, Anthony W. The end of the peasantry: the rural labor movement in Northeast Brazil, 1961-1988. Pittsburgh, PA: University of Pittsburgh Press, 1997.

PITT-RIVERS, Julian. Friendship and authority. In: PITT-RIVERS, Julian. The people of the Sierra. Chicago: University of Chicago Press, 1971, p. 137-160.

POLANYI, Karl. Aristóteles descobre a economia. In: POLANYI, Karl. A subsistência do homem e ensaios correlatos. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012, p. 229-268.

REBHUN, Linda-Anne. The heart is unknown country: love in the changing economy of Northeast Brazil. Stanford, CA: Stanford University Press, 1999.

REDFIELD, Robert. The little community. In: REDFIELD, Robert. The little community and peasant society and culture. Chicago: University of Chicago Press, 1965, p. 01-168.

ROSA, Marcelo. As novas faces do sindicalismo rural Brasileiro: a reforma agrária e as tradições sindicais na Zona da Mata de Pernambuco. DADOS: Revista de Ciências Sociais, 47 (3), p. 473-503, 2004.

SCHÜTZ, Alfred. O Estrangeiro: Um Ensaio em Psicologia Social. Revista Espaço Acadêmico, ano X, n. 113, p. 117-129, out. 2010.

SCHWARTZ, Stuart B. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial 1550-1835. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

SCOTT, James. The moral economy of the peasant: rebellion and subsistence in Southeast Asia. New Haven, CT: Yale University Press, 1976.

SIGAUD, Lygia. A idealização do passado numa área de plantation. Contraponto, vol. 2, p. 115-126. 1977.

SIGAUD, Lygia. A luta de classes em dois atos: notas sobre um ciclo de greves camponesas. DADOS: Revista Brasileira de Ciências Sociais, 29 (3), p. 319-334. 1986.

SIGAUD, Lygia. Des plantations aux villes: les ambigüités d’un choix. Études Rurales. Paris: EHESS, n. 132-133, p. 19-37. 1993.

SIGAUD, Lygia. Ir à Justiça: os direitos entre trabalhadores rurais. In: NOVAES, Regina (org.). Direitos Humanos. Temas e Perspectivas. Rio de Janeiro: ABA/MAUAD, 2001.

SIGAUD, Lygia. Direito e coerção moral no mundo dos engenhos. Estudos Históricos, 9 (18), p. 361-388. 2006.

SIGAUD, Lygia. Uma saga pernambucana. In: ROSA, Marcelo C.; SIGAUD, Lygia; MACEDO, Marcelo Ernandez. Ocupações e acampamentos: sociogênese das mobilizações por reforma agrária no Brasil (Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Pernambuco) 1960 - 2000. Rio de Janeiro: Garamond, 2010, p. 267-323.

SIMMEL, Georg. As grandes cidades e a vida do espírito. Mana. Estudos de Antropologia Social, 11 (2), p. 577-591. 2005.

SIMMEL, Georg. A collective ethnographer: fieldwork experience in the Brazilian Northeast. Social Science Information, 47 (1), p. 71-97. 2008.

TEPICHT, Jerzy. Marxisme et agriculture: le paysan Polonais. Paris: Colin, 1973.

VON HAYEK, Friedrich August. Economia e Conhecimento. MISES: Revista Interdisciplinar de Filosofia, Direito e Economia, Vol. III, n. 1 (Edição 5), p. 55-70, jan./jun. 2015.

VON MISES, Ludwig. A incerteza. In: VON MISES, Ludwig. Ação humana. Um tratado de Economia. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010, p. 139-153.

WEBER, Max. Economia e sociedade. Fundamentos da sociologia compreensiva. Vol. 1. Brasília: Editora da UNB, 1991.

WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.

WOLF, Eric. Peasants Wars of the Twentieth Century. New York: Harper and Row, 1969.

Creative Commons License

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.

Copyright (c) 2020 RURIS (Campinas, Online)

Downloads

Não há dados estatísticos.