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PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO EDUCACIONAL DO COLÉGIO
DE APLICAÇÃO DA UFS E O INCREMENTO DA PRODUÇÃO DO
CONHECIMENTO HISTORIOGRÁFICO DA EDUCAÇÃO
Joaquim Tavares da Conceição
Universidade Federal de Sergipe, Brasil
jtc20111@academico.ufs.br
Anne Emilie Souza de Almeida Cabral
Universidade Federal de Sergipe, Brasil
anneemiliecabral@gmail.com
RESUMO
Este artigo discorre a respeito de três aspectos relacionados com as ações de preservação do
patrimônio histórico educacional no Colégio de Aplicação da UFS. O primeiro aborda a história
institucional do Colégio; o segundo é uma incursão a respeito do centro de memória da
instituição (CEMDAP), guardião do acervo documental desta instituição; e o terceiro evidencia
a relação entre o aumento da produção do conhecimento histórico com as ações de organização
documental. A pesquisa utilizou como fonte documentos de escrituração escolar, regimento
escolar, legislação educacional, relatos orais, e produções acadêmicas. As iniciativas
preservacionistas realizadas na documentação do Colégio foram acompanhadas de um
substancial crescimento das produções da história da educação.
Palavras-chave: Colégio de Aplicação. Centro de Memória. História da Educação. Sergipe.
PRESERVACIÓN DEL PATRIMONIO HISTÓRICO EDUCATIVO DEL
COLÉGIO DE APLICAÇÃO DE LA UFS Y EL INCREMENTO DE LA
PRODUCCIÓN DE CONOCIMIENTO HISTORIOGRÁFICO DE LA EDUCACIÓN
RESUMEN
Este artículo discute sobre tres aspectos relacionados con las acciones de preservación del
patrimonio histórico educativo en la Colégio de Aplicação de la UFS. El primero trata de la
historia institucional del Colegio; el segundo es una incursión acerca del centro de memoria de
la institución (CEMDAP), guardián del acervo documental de la institución; y, el tercero,
destaca la relación entre el aumento de la producción de conocimiento histórico con las acciones
de organización documental. La investigación utilizó como fuente documentos del archivo
escolar, reglamento escolar, legislación educativa, informes orales y producciones académicas.
Las iniciativas de preservación realizadas en la documentación del Colegio fueron
acompañadas de un sustancial crecimiento en las producciones de la historia de la educación.
Palabras clave: Colégio de Aplicação. Centro de la memoria. Historia de la Educación.
Sergipe, Brasil.
PRESERVATION OF THE EDUCATIONAL HISTORICAL HERITAGE OF THE
UFS LABORATORY SCHOOL AND THE INCREASE IN THE PRODUCTION OF
HISTORIOGRAPHIC EDUCATION KNOWLEDGE
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ABSTRACT
This study addresses three aspects related to the preservation actions of historical educational
heritage at the Laboratory School of the Federal University of Sergipe (UFS). The first one
deals with the institutional history of the School; the second is an incursion into the institution's
memory center (CEMDAP), guardian of the institution's documental collection; and the third
highlights the relationship between the increase in the production of historical knowledge and
document organization initiatives. This investigation used school bookkeeping documents,
school regulations, educational legislation, oral reports, and academic productions as sources.
The preservation undertakings carried out in the School's documentation were accompanied by
a substantial growth in the number of works within the history of education.
Keywords: Laboratory School. Memory Center. History of Education. Sergipe, Brazil.
LA PRÉSERVATION DU PATRIMOINE HISTORIQUE ÉDUCATIF DU COLÉGIO
DE APLICAÇÃO DE L'UFS ET AUGMENTATION DE LA PRODUCTION DE
CONNAISSANCE HISTORIOGRAPHIQUE DE L'ÉDUCATION
RÉSUMÉ
Cet article aborde trois aspects liés aux actions de préservation du patrimoine éducatif
historique au sein du Colégio de Aplicação de l'UFS. Le premier traite de l'histoire
institutionnelle; le second est une incursion sur le centre de mémoire de l'institution
(CEMDAP), le gardien du fonds documentaire de l’institution, et le troisième, met en évidence
la relation entre l'augmentation de la production de connaissance historique avec les actions
d'organisation documentaire. La recherche a utilisé comme source des documents de
comptabilité scolaire, des règlements scolaires, des lois sur l'éducation, des rapports oraux et
des productions académiques. Les initiatives de préservation réalisées dans la documentation
du Colégio de Aplicação accompagnent une croissance substantielle de la production de
l'histoire de l'éducation.
Mots-clés: Colégio de Aplicação. Centre de Mémoire. Histoire de l'éducation. Sergipe, Brésil.
INTRODUÇÃO
Este artigo apresenta três vertentes resultantes das ações de preservação do patrimônio
histórico-escolar no Colégio de Aplicação da UFS. A primeira aborda a história institucional
do Colégio, produzida com a finalidade de nortear o processo de organização da documentação
permanente (histórica) do arquivo escolar; a segunda vertente é uma incursão a respeito do
Centro de Pesquisa, Documentação e Memória, locus das atividades de organização documental
realizadas e o guardião da documentação; e a terceira vertente procura demonstrar o incremento
da produção do conhecimento histórico como um dos resultados das investidas na organização
da documentação escolar do referido Colégio de Aplicação.
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A produção do conhecimento histórico a respeito do Colégio de Aplicação da UFS foi
realizada para compreender a “evolução institucional da entidade produtora” (BELLOTTO,
2006, p. 141) a fim de nortear o processo de organização da documentação permanente do
arquivo do Colégio. Esse processo de organização da massa documental acumulada por este
colégio de aplicação resultou na construção de um plano de classificação e na produção do
Inventário
1
do Acervo Permanente do Colégio de Aplicação, partes resultantes da tese de
doutorado intitulada: Organização do arquivo escolar do Colégio de Aplicação da UFS:
preservação do patrimônio histórico e educacional e potencialidades para a escrita da história
da educação (CABRAL, 2023). as ações de preservação do patrimônio histórico escolar
iniciadas em 2013 resultaram na organização, ocorrida no ano de 2016, do Centro de Pesquisa,
Documentação e Memória, guardião da documentação do Colégio de Aplicação da UFS. Essas
iniciativas preservacionistas foram acompanhadas de um incremento da produção
historiográfica a respeito deste colégio de aplicação e/ou dos seus agentes educativos.
A investigação delineada neste artigo integra o projeto Identidade e responsabilidade
histórica. Organização e preservação de documentos no Centro de Pesquisa Documentação e
Memória do Colégio de Aplicação UFS (CEMDAP),
2
que, entre outras finalidades, busca
produzir compreensões historiográficas a respeito do Colégio de Aplicação e seus agentes
educativos conjugadas com o desenvolvimento de ações preservacionistas na documentação
custodiada no CEMDAP. Além disso, a discussão e os resultados apresentados igualmente se
inserem no conjunto significativo de investigações relacionadas com o denominado patrimônio
histórico educacional e/ou patrimônio histórico-escolar, produzidas de modo expressivo na área
da História da Educação, especialmente no eixo América Latina e Europa (Espanha, Itália e
Portugal). São investigações que resultam em compreensões históricas a respeito de instituições
educacionais de diferentes níveis e propósitos, em geral, acompanhadas ou resultantes de
intervenções preservacionistas nos acervos documentais das instituições pesquisadas e em
alguns casos derivando na organização de centros de memórias e/ou de documentação e
pesquisa (CUNHA, CAMPOS, 2020; ESCOLANO, 2020; FRAGO, 2011; MENEZES, 2012;
PAULILO, 2023).
A produção da escrita deste artigo foi resultante de pesquisa documental, com a
utilização de fontes documentos de escrituração escolar, regimento escolar, legislação
1
Inventário da documentação permanente (histórica) do Colégio de Aplicação disponível em:
https://ri.ufs.br/bitstream/riufs/17597/3/ANNE_EMILIE_SOUZA_ALMEIDA_CABRAL-Inventario.pdf
Acesso em 31.5.2023.
2
Projeto de pesquisa financiado por meio da Chamada Universal CNPq/MCTI/FNDCT Nº 18/2021.
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educacional, relatos orais, entre outros , levantadas no acervo do Centro de Pesquisa,
Documentação e Memória do Colégio de Aplicação da UFS (CEMDAP), como também a
interlocução com teses e dissertações que abordam temáticas da história do Colégio de
Aplicação da UFS, dentre outros temas correlatos.
Além dessa introdução, o artigo está estruturado quatro tópicos. O primeiro, intitulado
De Ginásio de Aplicação da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe a Colégio de
Aplicação da Universidade Federal de Sergipe, trata de um esboço histórico do Colégio de
Aplicação da UFS, destacando de forma particular a evolução da organização administrativa e
pedagógica do Colégio; o segundo, intitulado Centro de Pesquisa, Documentação e Memória
do Colégio de Aplicação da UFS. Preservação do patrimônio histórico educacional; aborda a
constituição, acervo, finalidades e atividades do Cemdap; já o terceiro, denominado Produção
do conhecimento histórico educacional resultante da preservação da documentação
permanente do Colégio de Aplicação da UFS, apresenta e discute o incremento das produções
historiográficas decorrentes da utilização como fonte da documentação custodiada no Cemdap;
por fim, são apresentadas as considerações finais.
DE GINÁSIO DE APLICAÇÃO DA FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE
SERGIPE A COLÉGIO DE APLICAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE
SERGIPE
O atual Colégio de Aplicação da UFS foi fundado em 1959 como Ginásio de Aplicação
da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, por iniciativa da Sociedade Sergipana de Cultura
sociedade civil mantenedora da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe , através de ato
do bispo diocesano de Aracaju, Dom José Vicente Távora, presidente da Sociedade, que
incumbiu o monsenhor Luciano Cabral Duarte da tarefa de fundar o Ginásio de Aplicação
(CONCEIÇÃO, 2023; CEMDAP. Procuração..., 1959). Esse tipo de estabelecimento decorreu
da determinação do decreto federal, legislação específica que obrigava a existência de um
colégio de aplicação nas faculdades de filosofia (BRASIL, 1946). Era uma medida que refletia
contextos de discussão em torno da formação de professores para o ensino secundário, iniciado
nos anos 20, entre intelectuais e educadores ligados à Escola Nova (ABREU, 1992).
Segundo o mencionado decreto que determinou a criação de ginásios de aplicação nas
faculdades de filosofia , essas escolas deveriam ser organizadas seguindo o que determinava
a legislação do ensino secundário. De acordo com a Lei Orgânica do Ensino Secundário de
1942, a autorização e o funcionamento de um estabelecimento escolar de nível ginasial
dependiam de avaliação prévia realizada pela Diretoria do Ensino Secundário (BRASIL, 1942).
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Assim, no decorrer do ano de 1959 ocorreu o processo de “reconhecimento” do Ginásio de
Aplicação (GA) com a realização das inspeções federais, que resultaram na autorização ou
reconhecimento do estabelecimento, ficando apto a iniciar o funcionamento em 1960 com a
oferta do ciclo ginasial do ensino secundário, em regime de externato e com o ensino misto. Já
em 1965, o Ginásio de Aplicação foi autorizado pela Inspetoria Seccional do Ensino Secundário
a ofertar o segundo ciclo do Ensino Secundário, o Curso Colegial, o que resultou na mudança
de denominação do estabelecimento para Colégio de Aplicação da Faculdade Católica de
Filosofia de Sergipe (CEMDAP. Relatório, 1959; CEMDAP. Ficha, 1959; CEMDAP. Ofício,
1959).
Autorizado a funcionar, o Ginásio de Aplicação foi instalado no prédio da Faculdade
Católica, localizado em bairro nobre da capital Aracaju. A escolha do local estava em
consonância com o que determinava o decreto-lei que autorizou o funcionamento de ginásios
de aplicação, ao determinar que essas escolas deveriam funcionar na própria sede da faculdade
ou em local próximo (BRASIL, 1946). Nas memórias de estudantes egressos do Ginásio de
Aplicação, as características do espaço escolar são evidenciadas. A esse respeito, o estudante
Arnaldo Dantas Barreto Neto recorda do prédio como um espaço amplo, construído em “[...]
dois andares, tinha uma praça central de convívio muito bom e atrás uma pequena praça de
esporte” (BARRETO NETO, 2018). Além disso, os relatórios da inspeção federal do processo
de reconhecimento, destacam a salubridade do lugar e as condições adequadas de disposição e
organização do prédio escolar, como também a existência de instalações adequadas para o
funcionamento de uma escola (CONCEIÇÃO, 2023).
O Ginásio de Aplicação tinha uma organização administrativa composta pela direção,
secretaria, tesouraria, auxiliares de administração e disciplinas, corpo docente, orientação
educacional e corpo discente. O regimento interno do Ginásio de Aplicação de 1961
determinava que o diretor fosse escolhido pela Sociedade Sergipana de Cultura (mantenedora
do GA) e aprovada pela Diretoria do Ensino Secundário (CEMDAP. Regimento, 1961). Um
grupo formado por professores da própria Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe foi
relacionado pelo monsenhor Luciano Cabral Duarte para compor o quadro inicial de docentes
do Ginásio de Aplicação, e, no decorrer dos anos esse quadro foi sendo ampliado. Já o corpo
discente inaugural foi constituído por estudantes aprovados no “exame de admissão”, como
determinava a Lei Orgânica do Ensino Secundário (BRASIL, 1942). Para este fim, ainda no
final do ano de 1959, a direção do estabelecimento promoveu a abertura e publicação de edital
na imprensa convocando os interessados para a realização do exame de admissão do ano letivo
de 1960 (GINÁSIO DE APLICAÇÃO. A Cruzada, 1959).
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Utilizando a documentação custodiada no Cemdap, sobretudo os dossiês dos estudantes,
foi possível traçar um perfil socioeconômico dos estudantes da fase do Ginásio de Aplicação
(1960 a 1968). Isso permitiu concluir que os estudantes matriculados no estabelecimento, em
sua grande parte, eram constituídos “[...] por filhos de famílias de estratos econômicos médios
ou ricos, residentes em bairros da capital sergipana (Centro, São José e Treze de Julho) onde se
concentravam populações de maior poder aquisitivo e provenientes de escolas privadas”
(MELO, CONCEIÇÃO, 2021, p. 21). Entre outros motivos, esse perfil era resultante do
processo de ingresso através do “exame de admissão” e por ser o GA uma instituição particular
que cobrava mensalidades dos estudantes.
O regimento do GA seguia basicamente as determinações da legislação do ensino
secundário. Apenas no final do regimento, no capítulo das disposições transitórias, eram
evidenciados aspectos relacionados com o perfil da escola, ou seja, aquilo que caracterizava o
estabelecimento em sua natureza de “ginásio de aplicação”. Nesse sentido, o regimento
estabelecia que a supervisão do ensino ministrado no Ginásio de Aplicação deveria ser realizada
pelo Conselho Técnico da Faculdade Católica de Filosofia, por iniciativa direta dos professores
da disciplina Didática Geral e Especial da faculdade. E, os estudantes da Faculdade,
matriculados nesta disciplina, deveriam realizar as práticas didáticas nas turmas do Ginásio de
Aplicação, com assistência do professor da mencionada disciplina (CEMDAP. Regimento,
1961). Portanto, o que deveria ser a finalidade principal do GA servir como campo de estágio
para estudantes dos cursos de licenciatura da Faculdade acabou disciplinada de forma breve
no final do regimento.
Com a fundação da Universidade Federal de Sergipe ocorrida em 1968, a outrora
Faculdade Católica de Filosofia e seu Colégio de Aplicação foram incorporados à Universidade,
passando, respectivamente, a serem denominados de Faculdade de Educação e Colégio de
Aplicação da UFS. Quanto ao local de funcionamento, o Colégio de Aplicação continuou
instalado no antigo prédio da Faculdade Católica, em Aracaju. No ano de 1975 foi aprovado o
segundo regimento do Colégio de Aplicação, o primeiro depois de sua incorporação à UFS, e
que estabeleceu mudanças na organização administrativa e pedagógica do colégio. Diferente
do antigo regimento do Ginásio de Aplicação, o regimento de 1975 mencionava no seu
primeiro artigo que, além da oferta do ensino de 1º e 2º Graus, o Colégio teria como finalidade
ser campo de experimentação e estágios para os estudantes da Faculdade de Educação da
Universidade. Também é o primeiro regimento a mencionar a possibilidade de realização de
experimentações pedagógicas no Colégio, como já ocorria em outros colégios de aplicação, a
exemplo da instalação das “classes experimentais”, nos anos 60 do século XX, organizadas no
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Colégio de Aplicação da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil,
posteriormente denominada de Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ (ABREU,
1992).
Na estrutura da Universidade, o Colégio estava integrado à Faculdade de Educação e
sua organização administrativa e pedagógica era constituída pelo diretor e assistente de direção,
assembleia geral, coordenadores de área (Comunicação e Expressão; Estudos Sociais; Ciências
e Matemática; e Área de Profissionalização), serviço de orientação pedagógica, serviço de
orientação educacional e o conselho técnico (diretor, orientador educacional, coordenador de
estágios e orientador pedagógico), secretaria e auxiliares de disciplina (CEMDAP. Regimento,
1975). A nova organização pedagógica trouxe como novidade as coordenações de área, onde
estavam alocados os professores, além disso instituiu o conselho técnico e os serviços de
orientação educacional e pedagógica. Essa nova organização refletia as discussões pedagógicas
relativas ao funcionamento das escolas brasileiras nos anos de 70 do século XX, especialmente
decorrentes da Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971, que fixou as Diretrizes e Bases para o ensino
de 1º e 2º graus (BRASIL, 1971).
Além dos órgãos administrativos e pedagógicos, havia outros que faziam parte da
organização do Colégio de Aplicação, como as associações estudantis (centro cívico e grêmio
escolar) e a associação de pais e mestres. Segundo o regimento, as organizações estudantis
poderiam ser criadas para fins literários, científicos, artísticos, religiosos, desportivos e
assistenciais. As associações previstas no regimento eram o Centro de Civismo e o Grêmio
Estudantil. No caso do centro cívico, a finalidade, segundo o regimento, era “[...] desenvolver
o espirito patriótico dos alunos” e todas as entidades discentes deveriam estar ligadas ao Centro
de Civismo (CEMDAP. Regimento, 1975). A previsão da organização de um cento cívico nas
escolas brasileiras era uma observância do que determinavam os decretos que implantaram e
regulamentaram a “doutrina de Educação Moral e Cívica” nas escolas e eram decorrentes do
ideário da Ditadura Militar instalada no Brasil no ano de 1964 (BRASIL, 1969, 1971). Assim,
o centro cívico era um tipo de associação estudantil que servia ao propósito do regime
autoritário em promover a tutela dos estudantes em prol de uma adesão ao patriotismo
conservador (MOTTA, 2014). Deste modo, buscava-se evitar o engajamento dos estudantes em
movimentos políticos de contestação ao regime autoritário. Das três associações previstas no
regimento de 1975, foram detectados documentos com informações a respeito da organização
e funcionamento, no Colégio de Aplicação da UFS, do centro cívico e relatos orais a respeito
do grêmio estudantil, mas não foram encontradas evidências da organização da associação de
pais e mestres no decorrer da década de 70 do século XX.
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A escolha do diretor do Colégio de Aplicação da UFS era realizada através de votação
entre professores da Faculdade de Educação, resultando em uma lista tríplice enviada para a
escolha e nomeação pelo reitor da Universidade. o assistente de direção era designado pelo
reitor a partir de uma lista tríplice apresentada pelo diretor do colégio, na qual faziam parte os
professores do Colégio de Aplicação (CEMDAP. Regimento, 1975). Os docentes que atuavam
no Colégio estavam vinculados administrativamente e pedagogicamente à Faculdade de
Educação.
Quanto ao corpo discente, o regimento estipulava os seus direitos e deveres, mas deixou
de regulamentar a forma de seleção para o ingresso na série inicial do Colégio. Somente através
de uma investigação no conjunto da escrituração escolar foi possível verificar a adoção, nos
anos 70 do século XX, de diferentes formas de ingresso de estudantes, ou seja, a seleção por
meio de provas de conhecimentos e a utilização do sorteio de vagas. Essas mudanças na forma
de seleção para o ingresso acabaram por demonstrar significativas alterações na constituição do
perfil socioeconômico dos estudantes, sobretudo com a adoção do sorteio de vagas que permitiu
o ingresso de estudantes provenientes de escolas públicas, residentes em bairros periféricos da
capital Aracaju, de concentração da população de renda salarial baixa (ALMEIDA, 2021).
Enquanto a seleção por meio de provas foi responsável por um perfil discente formado por
estudantes provenientes de escolas particulares e de famílias com um maior poder aquisitivo, a
utilização do sorteio acabou resultando em um perfil heterogêneo do corpo discente,
ocasionando reações contrárias a essa forma de seleção por parte do corpo docente. Essas
reações contribuíram para o retorno, no início dos anos 80, da aplicação das provas de
conhecimentos para a seleção de ingresso de estudantes no Colégio.
Em 1979, o Regimento Geral da UFS (UFS/CONSU, 1979) modificou a condição do
Colégio na estrutura da universidade, transformando-o em “órgão suplementar” vinculado
diretamente à Reitoria e não mais à Faculdade de Educação, como estava previsto no regimento
do Colégio de 1975. O novo regimento interno do Colégio, aprovado em 1981, acompanhando
o regimento da Universidade, também passou a indicar essa nova condição de vinculação do
estabelecimento à Reitoria e enfatizou a articulação das atividades do Colégio com o Centro de
Educação e Ciências Humanas e com os Departamentos da Universidade. Segundo o regimento
de 1981, a finalidade do Colégio era a de ofertar o ensino de e Graus, ser campo de
experimentação pedagógica, de pesquisa e de estágios para a Universidade Federal de Sergipe
(CEMDAP. Regimento, 1981). O regimento de 1981 inovou ao determinar também como
função do Colégio a realização de atividades de pesquisa, não prevista nos regimentos
anteriores. A estrutura administrativa e pedagógica se manteve parecida com a anterior, assim,
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permanecia prevista uma organização composta pelo diretor, conselho técnico (diretor,
orientador educacional, supervisor escolar, coordenadores de áreas), serviço de orientação
educacional, serviço de supervisão escolar, coordenadores de área, conselho de professores e
secretaria.
Além deste novo regimento, o início da década de 80 do século XX traria outras
novidades para o funcionamento do Colégio de Aplicação. É que a partir do ano de 1981, o
Colégio de Aplicação foi transferido para o recém-inaugurado Campus Universitário (Cidade
Universitária Prof. José Aloísio de Campos), no município de São Cristóvão, limítrofe à
Capital, Aracaju. No Campus Universitário, o Colégio de Aplicação passou a funcionar
improvisado no pavimento superior do prédio da Didática III, que fora previamente planejada
para aulas dos cursos de graduação. Além desse edifício, os estudantes circulavam em todo o
espaço do Campus e utilizavam outros espaços da Universidade, como a biblioteca central,
refeitório e complexo esportivo (CONCEIÇÃO et.al, 2020). O novo lugar da escola, dentro da
estrutura do Campus Universitário, conforme indicado na figura a seguir, é significativo e
recorrentemente recordado por estudantes egressos da década de 80 do século XX. Em geral,
remontam à ideia de uma escola “sem muros”, em que os estudantes podiam circular com
liberdade pelos espaços do campus e interagir com os estudantes dos cursos de graduação e os
estagiários (MENDONÇA, 2018; SILVA, 2018). Durante a década de 90 do século XX, o
Colégio mudou novamente o lugar de funcionamento, agora passando a funcionar em um prédio
próprio, originalmente planejado para o seu funcionamento, construído no Campus
Universitário. Na figura a seguir são indicadas essas duas localizações do Colégio de Aplicação
no Campus Universitário da UFS.
FIGURA 1 Planta do Campus Universitário da Universidade Federal de Sergipe (1981),
com a indicação dos locais de funcionamento do Colégio de Aplicação
Fonte: Acervo da Diretoria de Projetos e Estruturas Físicas da UFS (DOFIS/UFS).
Legendas inseridas pelos autores.
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No ano de 2008 foi aprovado pelo Conselho Universitário (Consu) um novo regimento
para o Colégio de Aplicação. De acordo com esse novo regimento, a escola apresentava uma
estrutura administrativa e pedagógica composta de um diretor e um vice-diretor, a secretaria, o
setor técnico-pedagógico, os órgãos colegiados, as coordenações de área e um núcleo de estudo,
pesquisa e extensão. O Colégio de Aplicação continuava como órgão suplementar da
Universidade, vinculado administrativamente à Reitoria e pedagogicamente à Pró-Reitoria de
Graduação (CEMDAP. Regimento, 2008). Uma das grandes inovações, que provocou impacto
no perfil discente, foi a determinação da utilização do sorteio público para o ingresso de
estudantes no estabelecimento, rompendo um longo período de realização de concorridos
exames de seleção para o ingresso de estudantes por meio da aplicação de provas de
conhecimento
3
.
O regimento de 2008 também inovou ao determinar a escolha do diretor através de
eleição com participação da comunidade escolar e instituiu instâncias colegiadas com
atribuições e competências específicas, ou seja, o conselho geral, o conselho técnico-
pedagógico, o conselho pedagógico e o conselho de classe. Além disso, seguiu a tendência,
inaugurada no regimento de 1981, de dar relevância ao desenvolvimento de pesquisa e também
de atividades de extensão como finalidades do Colégio, especialmente, pela instituição do
denominado Núcleo de estudo, pesquisa e extensão em educação básica (NEPEEB), com as
atribuições de “[...] normatizar, promover, realizar, coordenar, incentivar e apoiar todas as
atividades voltadas ao estudo, pesquisa e extensão que dizem respeito à educação básica”
(CEMDAP. Regimento, 2018).
O quadro em sequência apresenta um sumário das configurações do Colégio de
Aplicação da UFS, com a indicação das denominações, vinculações, do modelo de ensino e
respectivos níveis de ensino ofertados, no período de 1959 (fundação do Ginásio de Aplicação),
até os dias atuais.
QUADRO 1 - Configurações do Colégio de Aplicação da UFS vinculação, denominação e
níveis de ensino.
Denominação da escola e vinculação
Período
Modelo de ensino
Ensino propedêutico
Nível de ensino
Ginásio de Aplicação da Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe
1959-1965
Curso Secundário
Ciclo Ginasial
Colégio de Aplicação da Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe
1965-1968
Curso Secundário
Ciclo Ginasial
Ciclo Colegial
3
A respeito de formas de ingresso e relações com o acesso, permanência e desempenho nos Colégios de Aplicação
vinculados às IFES (CAps-IFES), especialmente no Colégio de Aplicação da UFS, consultar Bispo, 2018.
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Colégio de Aplicação da
Universidade Federal de Sergipe
1968-1971
Curso Secundário
Ciclo Ginasial
Ciclo Colegial
1971-1994
1º e 2º Graus
1º Grau (da 5ª a 8ª
série) e 2º Grau
1994-atual
Educação Básico
Ensino
Fundamental (6º a
8º série / 6º ao 9º
ano) e Ensino
Médio
Fonte: Quadro produzido a partir de informações coletadas em documentos do acervo do Cemdap.
Como visto, ao longo dessa trajetória, o Colégio de Aplicação mudou de denominação
e local de funcionamento, ofertou diferentes níveis de ensino e procurou desenvolver atividades
de ensino, pesquisa e extensão, transformações que repercutiram na quantidade significativa de
documentação produzida e que constitui patrimônio histórico educacional da instituição,
atualmente preservado no acervo do Centro de Pesquisa, Documentação e Memória
(CEMDAP).
CENTRO DE PESQUISA, DOCUMENTAÇÃO E MEMÓRIA DO COLÉGIO DE
APLICAÇÃO DA UFS. PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO
EDUCACIONAL
O Centro de Pesquisa, Documentação e Memória do Colégio de Aplicação da UFS
(CEMDAP) surgiu com o desenvolvimento de projetos de pesquisa que visavam a reunir e
organizar parte da documentação do colégio que se encontrava em diferentes armários e espaços
do prédio. Um desses projetos foi denominado de Constituição de Acervo Documental do
Colégio de Aplicação. Organização de Documentação Escolar Permanente (Histórica)”,
executado no ano de 2013, e teve como objetivos identificar e organizar documentos produzidos
pela escola no decorrer da sua existência e preservar a memória da instituição. Com esse projeto
foi possível organizar aproximadamente cem pacotilhas, que ficaram guardadas em um armário
metálico. No ano de 2016, o Conselho Geral do Colégio de Aplicação da UFS aprovou a criação
do Centro de Pesquisa, Documentação e Memória do Colégio de Aplicação da UFS
(CEMDAP), que passou a funcionar em local específico do prédio escolar.
O CEMDAP tem como finalidade captar, reunir, preservar e divulgar a documentação
e/ou o patrimônio material e imaterial a respeito da memória institucional e igualmente atuar
como centro de referência para a reunião de pesquisas e informações sobre a trajetória da
instituição, de suas atividades e de outros temas correlatos (CONCEIÇÃO, 2021). Além de
salvaguardar documentos produzidos no decorrer da trajetória da escola, o Cemdap também
produz informações. A esse respeito, é ilustrativa a execução de projetos que resultaram na
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produção do “banco de histórias” constituído de entrevistas com professores e estudantes do
Colégio. Essa perspectiva é enfatizada por Camargo e Goulart (2017) ao indicarem a existência
em centros de memórias de documentos produzidos por meio da utilização da história oral que
“[...] criam panoramas sobre a gênese da organização e sobre situações emblemáticas por ela
vivenciadas, como a implantação de áreas e frentes de trabalho, o desenvolvimento de certos
produtos e tantas outras”. (CAMARGO; GOULART, 2015, p. 71). No caso do Cemdap, a ação
de composição de banco de histórias resultou na constituição do “Banco de Histórias do Colégio
de Aplicação da UFS. Identidade e pertencimento nas memórias de estudantes e professores”,
atualmente composto por 56 entrevistas com professores e estudantes em formato audiovisual
(CONCEIÇÃO et.al, 2018; CONCEIÇÃO, 2022).
A respeito da constituição do acervo, o infográfico apresentado na figura a seguir
demonstra os gêneros da documentação custodiada no Centro de Pesquisa, Documentação e
Memória do Colégio de Aplicação da UFS (CEMDAP).
FIGURA 2 - Infográfico com indicação dos gêneros da documentação do acervo do
CEMDAP
Fonte: Conceição, 2022.
Entre os gêneros indicados na figura anterior destacam-se, em maior escala de
quantidade, os documentos textuais, principalmente formados por documentos de escrituração
escolar e os dossiês de estudantes. Essa documentação foi descrita e catalogada no instrumento
de pesquisa denominado Inventário de Acervo Documental do Colégio de Aplicação da UFS,
que demonstra a classificação dos documentos e as suas séries documentais de acordo com a
função de cada um deles (CABRAL, 2023). Os objetos tridimensionais são constituídos por
objetos da cultura material escolar, como os troféus e equipamentos utilizados em práticas de
ensino; a documentação iconográfica, é formata por algumas fotografias de cunho histórico; a
documentação audiovisual é constituída principalmente pelas entrevistas, anteriormente
mencionadas e que compõe o banco de histórias; e o material bibliográfico é formado por livros
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relacionados com o Colégio e/ou resultantes da produção literária ou científica de professores
ou estudantes.
As ações desenvolvidas no Cemdap também envolvem a produção de informações ou
de conteúdo de valorização da memória institucional e de educação patrimonial. A esse
respeito, no ano de 2019, quando o Colégio de Aplicação da UFS completou 60 anos de
fundação, a equipe do CEMDAP, juntamente com a comunidade escolar, organizou a
“Exposição comemorativa: 60 anos do Colégio de Aplicação”, momento em que também ficou
reconhecida e valoriza pela comunidade escolar e universitária a importância da preservação
do patrimônio histórico educacional do Colégio.
FIGURA 3 Aspecto da Exposição Comemorativa. 60 anos do Colégio de Aplicação.
Hall da Biblioteca Central da UFS (2019)
Fonte: Acervo do Cemdap. Registro fotográfico de Rísia Rodrigues.
No espaço do Cemdap também são realizadas atividades de ensino que envolvem a
educação patrimonial, na perspectiva do patrimônio histórico educacional, utilizando-se
diferentes gêneros da documentação do acervo. Podem ser indicadas as visitas pedagógicas dos
estudantes do próprio Colégio, além de atividades executadas por estagiários, e graduandos
inseridos em projetos do Programa de Residência Pedagógica (RP) ou no Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid). Desta forma, no CEMDAP, a ênfase
está voltada para a salvaguarda e valorização do patrimônio histórico educacional, e nessa
perspectiva, ocorrem o desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa e extensão,
considerando-se que um centro de memória deve ser:
[...] representativo das múltiplas funções que a organização exerce e exerceu
ao longo do tempo, tanto do ponto de vista endógeno (atividades meio e
atividades fim) quanto exógeno (injunções de natureza econômica, social e
política que pautaram sua atuação). É necessário, portanto, que o centro de
memória, independentemente de uma eventual descentralização de sua
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custódia física, possa mobilizar os documentos e colocá-los à disposição dos
usuários. (CAMARGO, GOULART, 2015, p. 100)
Portanto, a existência do Centro de Memória no espaço escolar, levando em conta a
experiência do CEMDAP, contribui para a preservação da memória institucional e do
patrimônio histórico educacional e potencializa a produção do conhecimento por meio da
disponibilização do acervo preservado, como será discutido no tópico a seguir.
PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO HISTÓRICO EDUCACIONAL RESULTANTE
DA PRESERVAÇÃO DA DOCUMENTAÇÃO PERMANENTE DO COLÉGIO DE
APLICAÇÃO DA UFS
Os acervos escolares passaram a despertar o interesse dos historiadores da educação na
medida em que as pesquisas da área começaram a problematizar o funcionamento de
instituições escolares, especialmente a partir da ênfase na denominada “cultura escolar”. Deste
modo, a documentação produzida no cotidiano escolar passou a ser tomada como fonte de
pesquisa e a partir dela foram produzidas contribuições a respeito da cultura educacional no
Brasil e em outros países. Nesse sentido, documentações escolares, a exemplo de cadernetas
escolares (diários de classe), atas de reuniões pedagógicas, cadernos, planos de aula, ofícios e
comunicações da instituição e dossiês, passaram a fazer parte do rol de fontes de pesquisadores
da história da educação.
Contudo, para o acesso aos documentos produzidos no interior da escola, os
pesquisadores precisaram se “aventurar” nas salas de arquivos escolares, muito vezes
denominados como “arquivo morto”. Essa inadequada designação aplicada aos arquivos
permanentes (históricos) denota, como indica Joel Martins Luz (2013), um “estereótipo”, como
se ali se tratasse de “[...] meros depósitos de papel velho” (p. 45). A imersão dos pesquisadores
nos arquivos escolares também resultou em diagnósticos que dão conta da conservação,
desorganização e até mesmo desprezo com a preservação da massa documental acumulada por
instituições escolares brasileiras. Além dos prejuízos causados aos acervos escolares, o
descuido com a documentação dificulta o acesso aos documentos e consequentemente fragiliza
a preservação da memória institucional e educacional do país, como também ocasiona
dificuldades para a produção do conhecimento histórico. Essa situação tem desafiado e
impulsionado ações de intervenção com o objetivo de preservar essa documentação, dando a
ela um caráter de patrimônio histórico educacional.
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Por conseguinte, os processos efetivados de organização da documentação de arquivos
escolares ou da educação têm contribuído para o incremento das compreensões historiográficas
ao potencializar o acesso às informações documentais de forma mais racional. A esse respeito,
as intervenções preservacionistas realizadas no acervo documental do Colégio de Aplicação da
UFS foram acompanhadas de substancial ampliação de pesquisas a respeito do Colégio e de
seus agentes educativos, conforme indicado no quadro 2, a seguir.
QUADRO 2 - Pesquisas realizadas tomando como fonte documentos do acervo documental
do Centro de Pesquisa, Documentação e Memória do Colégio de Aplicação da UFS
(CEMDAP)
Autor
Título/Tipo/Instituição
Foco da pesquisa
Ano
SOUZA, Luza
Mabel
Magalhães de
Esboço histórico do Colégio de
Aplicação da UFS4 Monografia
pós graduação lato sensu (UFS)
A função do Colégio de
Aplicação de acordo com o
Decreto-lei nº 9056, de 1946.
1989
SANTOS,
Maria de
Fátima
Evangelista de
Amorim
Características dos estudantes
selecionados no Colégio de
Aplicação da Universidade
Federal de Sergipe5.
Monografia pós graduação lato
sensu (UFS)
Aspectos da clientela do Colégio
de Aplicação em face da
realização do exame de seleção
classificatório.
1994
NUNES,
Martha
Suzana Cabral
Ginásio de Aplicação da
Faculdade Católica de Filosofia de
Sergipe (1959-1968).
Dissertação. PPGED/UFS
História do Ginásio de
Aplicação da Faculdade Católica
de Filosofia de Sergipe (1959 e
1968)
2008
MACIEL, Ane
Rose de Jesus
Santos
Entre fatos e relatos: as trajetórias
de Carmelita Pinto Fontes e
Rosália Bispo dos Santos na
educação sergipana (1960-1991).
Dissertação. PPGED/UFS
Trajetórias das intelectuais
Carmelita Pinto Fontes e Rosália
Bispo dos Santos, ex-professoras
do Ginásio de Aplicação da
Faculdade Católica de Filosofia
de Sergipe.
2016
MARTIRES,
José
Genivaldo
“Flagrando a vida”: trajetória de
Lígia Pina - professora, literata e
acadêmica (1925-2014).
Dissertação. PPGED/UFS
Trajetória docente de Maria
Lígia Madureira Pina, professora
de História do Colégio de
Aplicação da UFS.
2016
GUIMARÃES
, Mariza Alves
Um olhar sobre a história da
organização curricular da
educação física no Colégio de
Aplicação da Universidade
Federal de Sergipe (1959-1996).
Dissertação. PPGED/UFS
A configuração histórica da
disciplina Educação Física no
Colégio de Aplicação da UFS
(1959-1996).
2016
SANTOS,
Joelza de
Oliveira
Memórias de estudantes egressos
do Ginásio de Aplicação da
Faculdade Católica de Filosofia de
Sergipe (1960-1968).
Dissertação. PPGED/UFS
Percepções de estudantes a
respeito de práticas educativas
vivenciadas no Ginásio de
Aplicação da Faculdade Católica
de Filosofia de Sergipe (1960-
1968).
2018
4
Trabalho monográfico impresso. Não publicado.
5
Trabalho monográfico impresso. Não publicado.
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SANTOS,
Ricardo Costa
dos
Ecos de um Brasil francófono: a
língua francesa no Colégio de
Aplicação da Universidade
Federal de Sergipe (1960-2013).
Tese. PPGED/UFS
A história do ensino da Língua
Francesa no Colégio de
Aplicação da UFS (1960- 2013).
2020
ALMEIDA,
Sayonara do
Espírito Santo
Cartografia estudantil no Colégio
de Aplicação da Universidade
Federal de Sergipe (1969-1981).
Tese. PPGED/UFS
Perfil discente do Colégio de
Aplicação da Universidade
Federal de Sergipe (1969-1981).
2021
SANTOS,
Alfredo
Bezerra dos
Educação, ensino e literatura: a
trajetória da professora Maria da
Conceição Ouro Reis no Colégio
de Aplicação da UFS (1973-1991).
Dissertação. PPGED/UFS
Trajetória da professora Maria da
Conceição Ouro Reis no Colégio
de Aplicação e relações com sua
produção literária
2022
CABRAL,
Anne Emilie
de Almeida
Organização do arquivo escolar do
Colégio de Aplicação da UFS:
preservação do patrimônio
histórico e educacional e
potencialidades para a escrita da
história da educação. Tese.
PPGED/UFS
Organização intelectual da
documentação permanente do
Colégio de Aplicação da UFS,
custodiada no Cemdap
2023
Fonte: Conceição, 2022 e dados atualizadas levantados no Repositório Institucional da UFS.
No quadro anterior, estão arroladas pesquisas executadas antes das ações de organização
da documentação do arquivo escolar do Colégio de Aplicação (trabalhos 1, 2 e 3, do quadro 2),
A primeira foi o estudo monográfico de Luza Mabel Magalhães de Souza (1989), em que a
autora buscou investigar se o Colégio estava atuando de acordo com o propósito original de
criação dos colégios de aplicação, conforme determinado no Decreto-Lei 9.053, de 12 de março
de 1946, que determinava: “As Faculdades de Filosofia federais, reconhecidas ou autorizadas
a funcionar no território nacional, ficam obrigadas a manter um ginásio de aplicação destinado
à prática docente dos alunos matriculados no curso de didática(BRASIL, 1946 grifo nosso).
O segundo, foi o trabalho de Maria de Fátima Evangelista de Amorim Santos, que resultou em
uma caracterização do perfil estudantil do Colégio, relacionando o mesmo com a forma
utilizada para o ingresso dos estudantes (números 1 e 2, quadro 2). E, o terceiro, foi a pesquisa
produzida por Martha Suzana Cabral Nunes (2008), em que a autora discorre sobre a criação e
cultura escolar do Ginásio de Aplicação (1958-1968). Nesses três trabalhos inaugurais as
autoras utilizaram dados coletados na documentação do antigo arquivo escolar do Colégio de
Aplicação da UFS. Especialmente na dissertação de Nunes (2008), produzido no âmbito da
linha História da Educação, os documentos do arquivo escolar livros de atas, livros de
registros de notas, livros de exames, documentos da fundação da escola estiveram em
destacada conta como fonte para as compreensões produzidas pela autora.
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Ainda no quadro 2, encontram-se descriminadas pesquisas que utilizaram com fonte
parte da documentação organizada em pacotilhas nas primeiras ações preservacionistas
efetivadas na documentação histórica do Colégio de Aplicação da UFS realizadas a partir de
2013 (trabalhos 4, 5 e 6, quadro 2). Inicia-se, então, um crescimento da produção do
conhecimento histórico motivado pelas ações de organização documental e produzidos na linha
História da Educação. Neste grupo, a pesquisa de Mariza Alves Guimarães (2016) buscou
compreender a configuração curricular da disciplina Educação Física no Colégio de Aplicação
da UFS. No mesmo período, José Genivaldo Martires (2016), executou uma pesquisa a fim de
compreender a trajetória e as práticas de ensino de História da professora Maria Lígia Madureira
Pina. Também foi uma pesquisa beneficiada pelo trabalho inicial de organização da
documentação histórica do Colégio o estudo de Ane Rose de Jesus Santos Maciel (2016). Essa
autora buscou analisar as trajetórias das professoras Carmelita Pinto Fontes e Rosália Bispo dos
Santos, especialmente a atuação delas no antigo Ginásio de Aplicação da Faculdade Católica
de Filosofia de Sergipe.
Documentos utilizados como fontes por Guimarães (2016), Mártires (2016) e Maciel
(2016) para a produção de sua dissertação (2016) foram consultados nas pacotilhas do
CEMDAP, em blocos documentais organizados como resultado do projeto Constituição de
acervo documental do Colégio de Aplicação. Organização de documentação escolar
permanente (2013-2015), que resultou na organização de uma lista de documentos e na
organização de mais de 100 pacotilhas contendo documentos de cunho histórico do acervo do
Colégio, especialmente da fase de Ginásio de Aplicação (CONCEIÇÃO, 2021, 2022).
As dissertações ou teses indicadas nos números de 7 a 11 do quadro 2 constituem-se em
um segundo grupo de pesquisas, no âmbito da História da Educação, que priorizaram como
fonte a documentação preservada no Colégio de Aplicação, quando parte ou toda a
documentação já estava custodiada no Centro de Pesquisa, Documentação e Memória, além de
entrevistas do banco de histórias. Nesse grupo, Joelza Santos pôde utilizar as fontes orais
produzidas pelo CEMDAP constantes do “Banco de Histórias do Colégio de Aplicação da UFS.
Identidade e pertencimento nas memórias de estudantes e professores” (CONCEIÇÃO, 2018),
mas também cruzou essas informações com documentos escritos que estão acondicionados no
Centro de Memória do Colégio de Aplicação. Ricardo Santos (2020) pesquisou sobre a
Língua Francesa presente no currículo do Colégio de Aplicação, desde a fundação do referido
colégio, e igualmente se valeu de documentos organizados no CEMDAP.
Por sua vez, Sayonara do Espírito Santo Almeida (2021), que pesquisou o perfil discente
dos alunos do Colégio de Aplicação, pode prospectar seus dados nos dossiês de estudantes
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também organizados no Cemdap. A tese da autora é uma das contribuições à configuração
discente do Colégio de Aplicação da UFS. Segundo a estudiosa, foram elementos que
interferiram no perfil dos estudantes o processo de federalização da instituição, as modificações
na legislação educacional, as redefinições da finalidade do Colégio e mudanças na forma de
ingresso de estudantes (ALMEIDA, 2021). Para chegar a essa constatação, a autora analisou
cerca de 710 dossiês, que se encontram atualmente armazenados no Cemdap.
Também foi nas pacotilhas de documentos do CEMDAP que Alfredo Bezerra dos
Santos coletou as principais fontes para a escrita de sua dissertação sobre a trajetória no Colégio
de Aplicação da UFS da professora e literata Maria da Conceição Ouro Reis. No acervo do
CEMDAP o autor identificou materiais produzidos e/ou coordenados pela professora
investigada (livros, projetos, jornal estudantil), além de ter se valido de entrevistas do banco de
histórias (SANTOS, 2022).
A pesquisadora Anne Emilie de Almeida Cabral (2023) selecionou como objeto de sua
tese a documentação do arquivo permanente do Colégio e propôs uma organização desta
documentação utilizando as técnicas da arquivologia conjugadas com as reflexões do acervo
escolar como patrimônio histórico educacional. A autora criou um plano de classificação
denominado Plano de Classificação do Acervo Documental Permanente do Colégio de
Aplicação da UFS, que propõe a organização da documentação nas seguintes funções e
subfunções: Administração (Diretivo, Educacional, Técnico-Docente), Ensino Aprendizagem
(Didático-pedagógico, Técnico-pedagógico), Pedagógico Científico (Estágio, Extensão,
Pesquisa), Pedagógico Cultural (Cultural, Esportivo) (CABRAL, 2023). A partir deste plano,
Cabral (2023) produziu um instrumento de pesquisa, mais especificamente o Inventário de
Acervo Documental Permanente do Colégio de Aplicação da UFS, onde estão catalogados os
documentos da referida pesquisa, o que permitirá também a “[...] organização física da
documentação e oferecer ao usuário uma ferramenta que possibilite o acesso à informação sem
precisar adentrar espaços insalubres e de difícil acesso (CABRAL, 2023, p. 147).
Afora a produção de dissertações e teses, a documentação custodiada no Cemdap
possibilitou também o desenvolvimento de projetos de pesquisas e respectivos planos de
trabalho de iniciação científica que resultaram na elaboração de relatórios de pesquisa e artigos
científicos. Nesse sentido, pode ser citado o projeto “Ginásio de Aplicação da Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe: Agentes da ação educativa, espaço escolar e práticas
educativas (1959-1968)”, que apresentou compreensões sobre o perfil socioeconômico e
carreira dos estudantes da fase de Ginásio de Aplicação (1959 a 1968). Para isso, também foram
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utilizadas como fontes principais os dossiês dos estudantes do período, além de outros
documentos escritos e orais do acervo do CEMDAP (MELO, CONCEIÇÃO, 2021).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As investidas em prol da organização d documental realizadas no Colégio de Aplicação
da UFS formaram relações e refletem afinidades com os caminhos percorridos em outros
projetos desenvolvidos no Brasil e mesmo em países da América Latina e na Europa. Ou seja,
as ações preservacionistas da documentação escolar partiram de uma motivação inicial focada
na potencialidade de fontes da massa documental para a escrita da história da educação e foram
adquirindo também outra dimensão ao considerar essa documentação no âmbito da noção de
patrimônio histórico educacional, justificando um maior alcance para a preservação
documental, evitando descartes, ainda quando permitidos.
O processo de organização da documentação permanente (histórica) do Colégio de
Aplicação da UFS, custodiada no CEMDAP, foi antecedido de prospecções na documentação
a ser organizada, sobretudo com a finalidade de entender a evolução da organização
administrativa e pedagógica da escola a fim de nortear o processo de organização. Esse trabalho,
especialmente através do estudo dos regimentos escolares vigentes na história da instituição
revelaram as principais funções atribuídas ao Colégio de Aplicação e seus enquadramentos e
finalidades na estrutura organizacional, primeiro da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe,
e depois da Universidade. Nesse sentido, a trajetória do Colégio de instituição de natureza
privada, ligada a Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, sofreu mudanças ao tornar-se
colégio público, inserido na estrutura universitária, passando de um estado de dependência da
Faculdade de Educação para órgão suplementar ligado à Reitoria. E, inserido na Universidade,
experienciou reformulações na sua organização administrativa e pedagógica e adotou diferentes
formas de ingresso de estudantes como o sorteio de vagas e passou a desenvolver atividades
de pesquisa e extensão.
Conforme demonstrado nas pesquisas indicadas ao logo deste artigo, à medida que
dados históricos e documentos eram levantados e organizados, sobretudo do arquivo
permanente (histórico) do Colégio de Aplicação da UFS, permitiu-se um maior acesso dos
pesquisadores a esses documentos, o que resultou em considerável aumento da produção de
compreensões historiográficas a respeito desta instituição e/ou de seus agentes educativos e
mesmo de temas correlatos. Assim, tomando como parâmetro inicial a criação do Centro de
Pesquisa, Documentação e Memória (CEMDAP), em 2016, foram defendidas três teses e cinco
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dissertações, no âmbito da linha História da Educação, do Programa de Pós-Graduação em
Educação da UFS. Todas essas produções, como visto, tomaram como fundamento, em maior
ou menor proporção, a documentação custodiada no CEMDAP e se encontravam vinculadas a
projeto integrado (guarda-chuva).
As dissertações e teses produzidas com a documentação organizada revelaram
compreensões historiográficas a respeito de disciplinas escolares, perfil e carreira discente,
trajetória e prática docente que caracterizaram o percurso histórico do Colégio de Aplicação da
UFS. Os trabalhos focaram como periodização principal o período de 1959, ano de fundação
do Colégio, até a década de 80 do século XX. Além dos documentos escritos, foram utilizadas
nas pesquisas fontes orais constantes do banco de história do acervo do CEMDAP. Nesse último
caso, evidencia-se o papel e importância de centros de memória, no sentido de também produzir
documentação com foco na memória institucional e tornar-se via de pesquisas e fomentar
conhecimentos.
Além do mais, a existência do CEMDAP contribuiu tanto no acesso à informação
quanto nas condições de bem-estar em ambientação de pesquisa, pois a documentação no antigo
Arquivo do Colégio de Aplicação da UFS encontrava-se desorganizada e o espaço era insalubre.
Acrescente-se também que o cuidado com o patrimônio histórico educacional relativo ao
Colégio de Aplicação da UFS redundou em uma via de mão-dupla, ou seja, ao prospectar fontes
para as suas pesquisas, ou mesmo tomando essa documentação como objeto de estudo, alguns
dos pesquisadores no decorrer da execução de suas pesquisas também contribuíram com as
ações de organização da documentação do Colégio.
Por fim, nas dissertações e teses produzidas que tomaram como objeto a história do
Colégio de Aplicação da UFS, percebe-se uma maior recorrência a fontes documentais, do
acervo documental de escrituração escolar, e a consulta a elas, desde a implantação do Centro
de Pesquisa, Documentação e Memória do Colégio de Aplicação da UFS, colocando em relevo
o trabalho de salvaguarda documental realizado pelo CEMDAP.
REFERÊNCIAS E FONTES
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1948 a 1968. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1992.
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da Universidade Federal de Sergipe (1969-1981). 2021. 202 f. Tese (Doutorado em
Educação) Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2021. Disponível em:
https://ri.ufs.br/jspui/handle/riufs/14876
ISSN 2447-746X
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BARRETO NETO, Arnaldo Dantas. Banco de Histórias do Colégio de Aplicação da UFS.
Identidade e pertencimento nas memórias de estudantes e professores. Entrevistador: José
Genivaldo Martires. São Cristóvão/SE, 12/09/2018.
BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Arquivos permanentes: tratamento documental. Rio de
Janeiro: FGV, 2006.
BISPO, Marlucy Mary Gama. O Colégio de Aplicação da Universidade Federal de
Sergipe: entre excelência e referência. 2018.169 f. Tese (Doutorado em Educação) -
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Recebido em: 04 de julho de 2023.
Aceito em: 14 de setembro de 2023.