Resumo
Sob a denominação genérica de folhas, determinadas espécies de plantas ocupam posição central nos rituais do candomblé, sendo-lhes atribuída eficácia simbólica (mágico-religiosa) e terapêutica (medicinal) tornando-as indispensáveis à própria existência do culto. Há, em Salvador – Bahia, uma dinâmica na comercialização dessas folhas que se articula com as práticas das religiosidades afrobrasileiras. Sendo as folhas bens simultaneamente econômicos e simbólicos, i.e., reiterando seu duplo caráter de mercadoria e de objeto portador de poder mágico-religioso (axé), ensaia-se uma análise da metamorfose dessa mercadoria, para discutir a transformação da matéria prima em produto-objeto por efeito do trabalho vivo, inspirada no esquema de Enrique Dussel (2012), em que comenta os Grundrisse de Marx. Realça-se então as alterações formais que afetam as folhas, desde a condição de coisa natural, sua circulação como valor de troca no mercado, até sua consumação (ritual/terapêutica) no âmbito religioso, quando assume a forma de ewê (erva sagrada) ao ser manipulada pelo babalorixá (sacerdote) e efetiva seu valor de uso. A singularidade do mercado das folhas em Salvador revela-se, dentre outros fatores, pela justaposição de duas esferas da circulação - simples e desenvolvida (Marx) - que se cruzam, dinâmicamente, articulando um mercado tradicional (de feitio “africano”) ao mercado capitalista contemporâneo.
Referências
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