Resumo
Este texto propõe algumas questões sobre o uso do conceito de burguesia interna para a análise do bloco no poder nos governos petistas. Partimos da teoria poulantziana para pensar a reprodução interiorizada e induzida do capital-imperialismo nas formações sociais dependentes através da atuação de aparelhos de hegemonia que operam associando a burguesia brasileira à estadunidense. Especificamente, investigamos as movimentações e posicionamentos da burguesia brasileira em relação à política externa e às reformas neoliberais nos governos do PT. Para isso, utilizamos como fonte o arquivo de telegramas enviados pela Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil para Washington e vazados pela WikiLeaks. A partir disso, observamos, ao contrário do esperado de uma burguesia interna neodesenvolvimentista, 1) a formação de consensos burgueses em favor da aproximação ao capital-imperialismo estadunidense e contra as políticas de coalizões sul-sul e de protecionismo da indústria e dos recursos naturais estratégicos, e 2) a unidade do conjunto burguês em torno do ajuste fiscal e da desestatização. Por fim, debatemos a centralidade das tensões entre as diferentes escalas de concentração e centralização do capital (isto é, entre o capital monopolista e o não-monopolista) para analisar os fracionamentos burgueses no período.
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