Resumo
Gramsci tem uma reflexão própria e multifacetada sobre o fenômeno político que foi o fascismo. Acompanhou de olhos bem abertos, como intelectual e militante comunista, a conjuntura crítica do pós Primeira Guerra e o nascimento do movimento fascista italiano. Testemunhou e analisou no calor da hora os primeiros passos dessa corrente de extrema direita e forneceu, a meu juízo, algumas das primeiras fotos nítidas e de corpo inteiro desse fenômeno. Eram textos curtos, voltados para a análise de conjuntura, para o debate com os socialistas e, logo em seguida, para o debate interno do então recém-fundado Partido Comunista e publicados nos primeiros anos da década de 1920 principalmente no L’Ordine Nuovo, jornal que Gramsci fundara em 1919 com Palmiro Togliatti, intelectual e militante comunista como o nosso autor. Esses escritos – da fase pré-cárcere do dirigente comunista – colocam o jogo complexo de conflitos, de alianças de classe e de frações de classe diversas no centro da análise. Isso é feito de tal modo que esse procedimento diferencia tais textos, ao nosso ver, daqueles escritos posteriormente, durante a década de 1930, no período de prisão de Gramsci. Uma outra diferença é que em Cadernos do cárcere, Gramsci adotou um enfoque do fenômeno fascista que, além de dispor de uma perspectiva histórica maior, tinha a ambição de ser mais abrangente: situar o fascismo no conjunto da história moderna da Itália.
Referências
Enzo Santarelli, Gramsci sul fascismo. Roma: Editori Riuniti. pp. 133-135. Tradução do italiano por Gualtiero Marini.
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