Resumo
Silvia Federici propõe-se a resgatar as análises de Marx a respeito de gênero e trabalho em O Capital, fazendo uma avaliação da ambiguidade da contribuição de Marx. Segundo a autora, por um lado, Marx avaliou criticamente as relações entre o desenvolvimento do capitalismo e a exploração do trabalho operário feminino no período de surgimento da industrialização. Além disso, a autora identifica na crítica do trabalho no capitalismo uma referência importante para a formação da crítica feminista. Por outro lado, Federici mostra os diversos limites da abordagem de O Capital a respeito do problema do gênero. Dentre os tópicos apontados, destacam-se: (1) a ausência de uma abordagem analítica, e não apenas meramente descritiva, da
condição da mulher nas fábricas; (2) a omissão do papel do trabalho reprodutivo como um pilar do modo de produção capitalista; (3) a crítica à leitura de Marx que via no capitalismo um caminho necessário para criação das condições de emancipação da mulher; (4) e, por último, a crítica à tese de Marx de que no capitalismo só o trabalho industrial lançaria os fundamentos normativos para a organização do trabalho.
Contrariamente a Marx, Federici sustenta que também a dicotomia produtivo-reprodutivo é determinada historicamente pelo modo de produção capitalista, sem a qual a acumulação capitalista não poderia existir. Por fi m, a autora conclui que esses erros e omissões teóricas não são casuais, mas fruto de pontos de vista teóricos e políticos de Marx, que não encontrava respaldo numa refl exão acurada sobre os vínculos entre gênero e capitalismo.
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