Letramento em saúde e níveis de estresse como fatores impactantes na adesão ao tratamento medicamentoso e controle glicêmico de pacientes com diabetes mellitus tipo 1

Abstract

Letramento em Saúde (LS) corresponde a “competências cognitivas e sociais que determinam a motivação e a capacidade dos indivíduos para obterem acesso, compreenderem e utilizarem a informação em meios que promovam e mantenham uma boa saúde’’. No diabetes mellitus tipo 1 (DM1), o paciente deve entender e converter as orientações fornecidas em decisões que promovam o autogerenciamento adequado da sua doença. A adesão ao tratamento medicamentoso (ATM) é crucial no tratamento do DM1, e se adequada, pode diminuir os riscos de complicações agudas e crônicas da doença. O estresse relacionado ao diabetes, diabetes distress (DD), é comum em pacientes DM1 e diz respeito a sentimentos de tristeza, frustração, raiva, desapontamento, fadiga, desorganização e burnout. O objetivo deste estudo foi avaliar os níveis de LS e DD em pacientes DM1 e o possível impacto destes fatores na ATM e controle glicêmico. Estudo transversal realizado em ambulatório especializado de um hospital universitário no sudeste do Brasil entre março de 2015 e dezembro de 2017, com 111 pacientes DM1 acompanhados há pelo menos seis meses no serviço. Foram coletados dados sobre condições sociodemográficas, econômicas e clínicas e aplicados os instrumentos: Test of Functional Health Literacy in Adults – Short version (S-TOFHLA) para avaliar LS; Problem Areas in Diabetes (PAID) para DD e Brief Medication Questionnaire (BMQ), para ATM. Estudo aprovado pelo CEP da UNICAMP sob o parecer de número 1.546.255. As prevalências de LS e ATM adequados e DD elevado foram, respectivamente, 86,49%, 53,15% e 49,55%. Houve associação entre o maior tempo de estudo e LS adequado (p<.0001). A não ATM relacionou-se significativamente com estado civil - casado (p=0,0187; OR: 2,770; IC: 1,185-6,452), com HAS (p=0,0102; OR: 3,281; IC: 1,326-8,120) e maiores escores de PAID na subdimensão - problemas alimentares (p=0,0239; OR: 1,155; IC: 1,019-1,310). O escore total PAID (DD) apresentou associação com maiores valores de glicemia capilar ao momento da entrevista (p=0,0115), presença de neuropatia periférica (p=0,0053) e uso do esquema de insulina NPH e insulina análoga ultrarrápida (p=0,0345). Não houve associação significativa entre LS e DD e os níveis de HbA1c, exceto na subdimensão do PAID - problemas alimentares (p=0,0278). O LS foi adequado na maioria dos pacientes DM1 e os níveis de DD foram elevados em quase metade deles; entretanto, ambos, LS e DD, não impactaram no controle glicêmico e na ATM.