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A CONTRIBUIÇÃO DO DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO
ESCOLAR E ECONOMIA DA EDUCAÇÃO DA FEUSP À CONSTRUÇÃO DA ÁREA
DE ADMINISTRAÇÃO DA EDUCAÇÃO: TRAJETÓRIA
Maria Cecília Sanchez Teixeira
Universidade de São Paulo, Brasil
cila@usp.br
Maria do Rosario Silveira Porto
Universidade de São Paulo, Brasil
mdoporto@uol.com.br
Afrânio Mendes Catani
Universidade de São Paulo, Brasil
amcatani@usp.br
RESUMO
Este artigo tem por objetivo apresentar a contribuição do Departamento de Administração
Escolar e Economia da Educação da FEUSP aos estudos de Administração Escolar no Brasil.
Considerando a sua importância no cenário educacional e mesmo o seu papel pioneiro em
termos de pesquisa, produção e difusão do conhecimento, procuramos mostrar como, ao longo
da sua trajetória, ele vem contribuindo no delineamento do perfil epistemológico dessa área de
estudos, bem como influenciando, sobretudo através da atuação de seus docentes na pós-
graduação, a formação de pesquisadores, gestores e educadores para diferentes áreas de
atuação.
Palavras-chave: Administração escolar, Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo.
Para Beatriz Fètizon
Fonte inspiradora para aqueles que tiveram o privilégio de partilhar com ela
os desafios do EDA em sua busca por uma identidade plural e coerente com a
sua missão.
A CONSTITUIÇÃO DO CAMPO DA ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR NA
FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA USP E A ESPECIFICIDADE DA ÁREA
A formação em administração escolar existia anteriormente à criação da Faculdade
de Educação da Universidade de São Paulo como um conteúdo curricular do curso de Pedagogia
do Departamento de Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP
(FFCL/USP). Esse departamento funcionava, desde 1962, na Cidade Universitária “Armando
de Salles Oliveira”, onde ocupava parte do Centro Regional de Pesquisas Educacionais de São
Paulo CRPE/SP, ligado ao INEP.
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A transferência da Rua Maria Antônia, onde funcionava a FFCL, para o prédio do CRPE
foi um esforço empreendido por Laerte Ramos de Carvalho, que era professor do Departamento
de Pedagogia e pesquisador do CRPE, o qual antevia que a Cidade Universitária abrigaria, no
futuro, a Universidade de São Paulo e pela importância de unir as atividades de formação e de
pesquisa do CRPE ao curso de pedagogia.
Em 1973, foi decretada a extinção do CRPE pelo governo federal, as suas instalações
passaram a ser ocupadas definitivamente pela FEUSP. Quanto à biblioteca, esta passou
oficialmente para o acervo da FEUSP em 1983.
O Departamento de Educação da FFCL se organizava em três cadeiras e disciplinas
autônomas: Administração Escolar e Educação Comparada, com as disciplinas administração
escolar e educação comparada; História e Filosofia da Educação, com as disciplinas história da
educação e filosofia da educação; Didática Geral e Especial, com as disciplinas didática geral,
didática especial e métodos e técnicas de ensino e pesquisa pedagógica; e a Disciplina
Autônoma de Orientação Educacional.
A Lei 5540/68, que instituiu a Reforma Universitária e provocou a elaboração dos
novos Estatutos da Universidade de São Paulo, criou a Faculdade de Educação, aprovada pelo
Conselho Universitário em 16 de dezembro de 1969 e passando a funcionar efetivamente a
partir de 1º de janeiro de 1970.
Com a FEUSP, as cadeiras se transformaram em departamentos, a saber: Administração
Escolar e Economia da Educação EDA; Filosofia da Educação e Ciências da Educação
EDF; Metodologia Geral do Ensino e Educação Comparada EDM.
Os professores que iniciaram as atividades do EDA foram: Prof. Dr. Carlos Correa
Mascaro (prof. adjunto), Prof. Dr. Moyses Brejon (prof. assistente), Prof. Dr. José Augusto Dias
(assistente doutor), Lic. Roberto Moreira (auxiliar de ensino), Lic. Anita Favaro Martelli
(auxiliar de ensino), Lic. João Gualberto de Carvalho Menezes (auxiliar de ensino), Lic. José
Carlos de Araújo Melchior (auxiliar de ensino). O Prof. José Querino Ribeiro, embora tenha
sido um dos organizadores da área de Administração Escolar tanto no extinto Departamento de
Educação como na recém-criada Faculdade de Educação, pela ausência de professor titulado
que assumisse a chefia do EDM, como catedrático da antiga cadeira de Administração Escolar
e Educação Comparada, optou por se transferir para esse departamento, deixando para o Prof.
Mascaro a chefia do EDA
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.
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A denominação “professor catedrático”, na nova organização da USP, passou a ser “professor titular”.
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O EDA seria o responsável por habilitar diretores de escola e inspetores escolares, um
cargo que ainda existia no sistema escolar paulista. Seria encarregado das disciplinas
correspondentes a essas habilitações e pela disciplina Estrutura e Funcionamento do Ensino de
e 2º graus, nomenclatura adotada após a aprovação da Lei nª 5692/71 para os antigos ensinos
primário e médio, e pelas disciplinas vinculadas à área de Economia da Educação.
As disciplinas das duas habilitações seriam ministradas nos dois últimos anos do curso
de Pedagogia aos optantes por essas formações, e a disciplina Estrutura e Funcionamento do
Ensino de e Graus ofertada no primeiro ano a todos os ingressantes da Pedagogia e aos
alunos das Licenciaturas, tendo como objetivo introduzir os licenciandos no panorama geral do
sistema escolar brasileiro. Para tanto, constava de conteúdos relativos aos fins da educação, à
história da educação brasileira e ao estudo pormenorizado da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação vigente quanto à organização do sistema escolar brasileiro, referente aos aspectos
didáticos, administrativos, de financiamento etc. Orientava-se pelo livro homônimo, organizado
pelos professores da FEUSP, a maioria do EDA, funcionando como um conteúdo programático
para os ministrantes dessa disciplina. É importante destacar que todos os professores do
departamento teriam que estar aptos a ministrar esta disciplina, tanto que ela era sempre incluída
nos editais de concurso do EDA.
As disciplinas sobre Economia da Educação, por sua vez, entravam no segundo ano do
curso de Pedagogia e tinham o objetivo de introduzir os alunos no tema geral das diferentes
teorias econômicas e a história de seu desenvolvimento, e no tema específico do financiamento
em educação.
Ressalte-se que a disciplina Estrutura e Funcionamento do Ensino de e Graus
passou, posteriormente, a se chamar Política e Organização da Educação Básica. E a disciplina
Economia da Educação recebeu a denominação de Fundamentos Econômicos da Educação.
Ambas atualmente são ministradas na primeira metade do curso de Pedagogia.
No programa de pós-graduação, coube ao EDA a Área de Concentração em
Administração Escolar, com os níveis de mestrado e de doutorado.
Relativamente à formação do administrador escolar propriamente dita, esta passou- e
ainda passa por questionamentos quanto ao modo de como preparar os gestores e
administradores escolares.
Uma questão fulcral que sempre esteve presente nessas discussões foi a especificidade
do trabalho do diretor. Sendo uma função que deveria fazer a junção entre o pedagógico e o
administrativo, quais seriam os conteúdos adequados para essa formação. Decorre dessa outra
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questão: constituiria a administração escolar um campo específico de estudo? E mais: quais
conteúdos orientariam a elaboração do currículo?
Nessa questão, que se ressaltar a atuação de José Querino Ribeiro, que sempre esteve
à frente das discussões sobre administração escolar. em 1952, em seu livro Ensaio de uma
teoria de administração escolar, conforme nos mostra Paro (2009), ele ressaltava a condição
de mediação da administração e, no que diz respeito especificamente à administração escolar,
ele afirmava que esta seria um instrumento para a realização dos objetivos da educação. Ou
seja, indiretamente, o Prof. Querino admitia que a administração escolar seria um campo
específico do contexto maior de estudos de administração, onde encontraria seu fundamento
último.
Mais adiante, na mesma obra, ainda de acordo com Paro (2009), ele declara
expressamente que a administração escolar seria uma das aplicações da administração geral,
quanto à semelhança de aspectos, tipos, processos, meios e objetivos.
Em 1961 foi promovido pela FFCL o I Simpósio Brasileiro de Administração Escolar,
com o propósito, segundo Catani e Gilioli (2004, p. 25), de sistematizar as práticas de
administração escolar, definir as especificidades desse campo de estudo e disseminar seus
saberes nos meios acadêmicos e fora deles. O prof. Querino foi o presidente da comissão
organizadora e, conforme apontam Catani e Gilioli (id.ib.) ele ressaltou, em sua fala inicial, a
importância dos quatro grupos mais gerais das atividades da administração escolar: pessoal,
material, serviços e financiamento. Tais atividades específicas teriam dois vetores: um mais
teórico, voltado para a formação de especialistas, e outro mais prático, voltado para a formação
de profissionais.
O Prof. Querino também foi um dos idealizadores da Associação Nacional de
Professores de Administração Escolar (ANPAE)
2
, aprovada nesse I Simpósio e cuja
importância para a discussão sobre o campo da administração escolar foi e continua
imprescindível.
Discutindo a ideia de transposição dos princípios de formação da administração geral
para a escolar, de acordo com Paro (2009), fica claro que a intenção de Querino Ribeiro, ao
propor a aplicação na escola dos princípios e métodos da administração empresarial, era
procurar formas de realizar aí, de maneira tão eficiente quanto se realizava o trabalho nas
empresas, os importantes objetivos educacionais; não era transportar para a instituição escolar
as técnicas e estratégias de dominação presentes na empresa tipicamente capitalista, mas
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Atualmente denominada Associação Nacional de Política e Administração da Educação.
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encontrar estratégias de formação de administradores para atender a uma necessária expansão
dos sistema escolar em consonância com os ideais da Escola Nova, da qual era cultor.
Esta postura foi a que prevaleceu nesses primeiros anos da habilitação, expressa pelas
disciplinas que a compunha, tais como Princípios e Métodos de Administração Escolar,
Administração Financeira, Administração de Pessoal, Administração de Material, Legislação
do Ensino e Relações Públicas e Humanas. Como se vê, um currículo bem colado na formação
em administração de empresas, em que não faltavam os estudos das linhas de administração,
como os de Henri Fayol e Frederick Taylor, a escola de relações humanas etc., e as principais
teorias econômicas do liberalismo do mundo ocidental.
Relativamente às funções do diretor, o capítulo do livro Estrutura e Funcionamento do
Ensino de e Graus
3
acima citado, do Prof. José Augusto Dias, destaca sua complexidade
em pelo menos três aspectos: de autoridade escolar, de educador e de administrador.
Como autoridade escolar, ele seria o representante da escola na comunidade. Como
educador, participaria das atividades-fim da escola, ou seja, o ensino. Como administrador,
desenvolveria as quatros atividades básicas: planejamento, organização, coordenação e
avaliação dos resultados. Conteúdos que seriam preenchidos pelas outras disciplinas da área.
Pode-se dizer, portanto, que a formação de diretores pelo EDA, nesse momento, teria
uma tendência funcionalista, percepção que é ratificada pela bibliografia proposta para cada
disciplina, somada a uma tentativa de neutralizar uma postura essencialmente política da ação
administrativa. Em vez disso, dominava a ideia de racionalidade, eficiência e eficácia na ação
administrativa.
A habilitação em Inspeção Escolar seguia o mesmo currículo, substituindo-se apenas a
disciplina Princípios de Administração Escolar por Princípios de Inspeção Escolar.
Essa organização curricular começou a se enfraquecer já ao fim da década de 70, com a
entrada de novos professores e a adoção de uma bibliografia de linha progressista, em especial
seguindo as críticas marxistas à organização e funcionamento do sistema escolar, embora o
antigo currículo ainda dominasse. O realce aos processos de burocratização da escola, com a
consequente divisão do trabalho como processo de dominação capitalista, vai pondo em cheque
a grade curricular da habilitação em administração escolar. É o tiro inicial para as sucessivas
mudanças que o EDA vai sofrer na eterna busca pela identidade do diretor de escola agora
identificado como um dos gestores.
3
Em 1998, este livro foi revisado pelo Prof. João Gualberto de Carvalho Meneses e publicado pela Pioneira com
o título Estrutura e Funcionamento da Educação Básica: leituras, seguindo a nova nomenclatura proposta pela Lei
nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
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Essas mudanças foram possíveis pela chefia do Prof. José Carlos de Araújo Melchior,
que instaurou uma gestão democrática no EDA, a qual consistia na participação de todos os
professores nas tomadas de decisões sobre as principais questões relativas ao departamento,
posteriormente aprovadas pelo conselho do EDA. Esta forma de gestão foi se consolidando e
se tornou um traço importante da cultura departamental, juntamente com uma postura de
respeito às diferentes posições teóricas e ideológicas de cada um de seus professores.
No entanto, é importante lembrar que, apesar das diversas mudanças pelas quais o EDA
passou ao longo dos anos, a sua missão sempre permaneceu constante, qual seja, o seu
compromisso em desenvolver suas atividades de ensino, pesquisa e extensão em prol de uma
educação pública de qualidade.
DA FORMAÇÃO DO DIRETOR À FORMAÇÃO DO EDUCADOR: AMPLIAÇÃO E
DIVERSIFICAÇÃO DO CAMPO
Na década de 80, os professores sentiram necessidade de discutir e propor uma reforma
curricular da habilitação, ao mesmo tempo em que continuava uma renovação do seu quadro
docente.
O EDA sempre se destacou pela sua vocação multidisciplinar, não se limitando à seleção
apenas de professores com formação em pedagogia. Ao contrário, a política do EDA,
exaustivamente discutida nas reuniões, era ampliar e diversificar os estudos que poderiam
contribuir para a formação do administrador, do inspetor escolar e do educador de modo geral.
Por isso, seus professores provinham, e ainda provêm, de diferentes áreas do conhecimento:
sociologia, filosofia, antropologia, história, literatura, economia e até mesmo administração...
Os recortes proporcionados pelas diferentes disciplinas confirmam a postura teórico-
epistemológica mantida pelo EDA ao longo da sua existência e a pluralidade de visões de
mundo que permitiram a permanência dos traços comuns da cultura departamental e as
mudanças requeridas pelos novos tempos.
Influenciados por esse processo interno e pelos processos de democratização e
politização que vinham ocorrendo na sociedade e no campo educacional, seus professores
começaram a rever os programas das disciplinas e a discutir a formação de administradores e
inspetores escolares até então baseados nas propostas da década de 60.
A Lei Complementar 444/85, que estruturava e organizava o magistério público
paulista de e graus, extinguiu o cargo de inspetor escolar. Com isso, a habilitação em
Inspeção Escolar também foi extinta no EDA.
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Embora tais processos, iniciados ainda na década de 70, tivessem um certo peso, é
importante lembrar que o reconhecimento da função política da universidade e da educação
sempre esteve presente nas posturas teóricas e práticas de seus professores. Como bem lembra
Fétizon (2012), a função política da universidade e da educação é explicitada já nos primeiros
documentos que, à época da criação da universidade, determinaram os seus fins. E se tal
princípio ficou à sombra nos duros anos da ditadura, nem por isso deixou de ancorar a prática
dos docentes.
Assiste-se, então, a uma politização do campo da administração escolar que questiona
as suas bases teóricas de viés tecnocrático, mais precisamente o que Oliveira e Catani (1994)
chamam de “paradigma da empresa”. A este se opõe o enfoque que privilegia a “especificidade
da escola”. Não que esta última não estivesse presente nas primeiras propostas teóricas,
particularmente nas apresentadas por Querino Ribeiro que, apesar de advogar uma
administração escolar nos moldes da administração empresarial, inspirava-se nos princípios da
Escola Nova para conceber, contraditoriamente, uma educação como formação do homem em
sua integralidade, o que, no entender de Paro (2009), seria um paradoxo. no entanto, no seu
entender, não invalidaria a obra de Querino.
Uma nova concepção de administração escolar começou a se esboçar, dando origem a
um novo perfil profissional do diretor de escola: à formação técnica associa-se a formação
política. Dessa forma, de uma visão funcionalista, tecnocrática, passou-se a uma abordagem de
matriz marxista, sócio-histórica, que, ao mesmo tempo em que ensejou a redefinição do perfil
do administrador da educação e da sua identidade política, contribuiu para a revisão teórica da
área na qual “compromisso político” e “competência técnica” parecem, no dizer de Pereira &
Andrade, (2005), soldar as crenças capazes de conduzir os educadores às lutas por mudanças
sociais. Uma das frentes dessa luta é trazer a comunidade para a escola através da criação de
canais de participação. Surgiram, então, as teorias sobre participação, gestão democrática,
formas coletivas de gestão escolar, cuja concepção e divulgação foi em grande parte promovida
pelos seus professores, que viviam a experiência da gestão democrática no próprio
departamento.
Esse interesse pela participação e sua aplicação na escola, nem sempre bem
compreendida e acolhida pela comunidade escolar, fez o olhar de muitos professores se
voltarem para o cotidiano da escola e seu dinamismo. Mais precisamente, para a escola como
organização complexa, na qual os processos de gestão estão referenciados não no contexto
político e ideológico, como nos contextos cultural e organizacional.
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No início dos anos 90, um grupo de professores trouxe para o EDA os estudos da cultura
das organizações educativas, com a criação de disciplinas na graduação e na pós-graduação,
pois naquele momento também a pós-graduação passava por um processo de reformulação.
Antes vinculadas aos departamentos, as áreas de concentração Administração Escolar,
Didática e Filosofia da Educação -, foram substituídas por áreas temáticas interdepartamentais.
O EDA participou ativamente na criação de duas áreas temáticas: “Estado, Sociedade e
Educação” e “Cultura, Organização e Educação”.
A primeira abrangia investigações sobre as relações entre Estado, sociedade e educação
por diferentes perspectivas teóricas, epistemológicas e metodológicas, com ênfase nos direitos
educativos e nas políticas públicas que visassem à democratização da educação, e contemplava
temas sobre relações de gênero, educação e trabalho, raça/etnia, educação de jovens e adultos
e educação especial.
A segunda voltava-se para os estudos das organizações educativas e das culturas
concebida como sistemas simbólicos e das práticas sociais entendidas como práticas simbólico-
educativas, acolhendo projetos de pesquisa sobre a cultura afro-brasileira e outras culturas e
etnias, como a árabe, a chinesa etc. e suas repercussões na educação. Acolhia também temas de
pesquisa não necessariamente ligados à escola, mas sim a organizações educativas em sentido
amplo.
Assim, consoante a sua vocação multidisciplinar, as áreas temáticas propostas pelo EDA
passaram a acolher pesquisas que ofereciam olhares diversos sobre o cenário educacional
brasileiro, que mudava rapidamente com a introdução de novos atores.
Vinculados às áreas temáticas foram criados inicialmente dois centros de estudos: o
Centro de Memória da Educação, interdepartamental, à área de Estados, Sociedade e Educação,
com o objetivo de preservar e organizar acervos significativos para a pesquisa educacional; e o
Centro de Estudos do Imaginário, Cultura e Educação, com o objetivo de desenvolver pesquisas
sobre as complexas relações que se desenvolvem no cotidiano das organizações educativas.
Nessa perspectiva ampliada, o interesse investigativo do EDA passou a agregar ao
estudo das macroestruturas os das microestruturas, e ao estudo da sociedade o dos grupos e dos
sujeitos que atuam no cotidiano da escola.
É o momento em que, fiel à sua vocação multidisciplinar, o EDA iniciou a introdução,
no currículo da graduação, de estudos sobre a diversidade. Num primeiro momento as relações
de gênero na educação e a Educação Especial, depois a Educação de Jovens e Adultos, a
Pedagogia Social, e, mais recentemente, Cultura Afro-brasileira e Indígena.
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ORGANIZAÇÃO ATUAL DO EDA: ÁREAS TEMÁTICAS E DISCIPLINAS
Ao longo de sua trajetória o EDA foi se adaptando às diversas mudanças curriculares
que foram ocorrendo no Curso de Pedagogia e procurando desenvolver um currículo mais rico
e diversificado, contribuindo para a “afirmação de uma especialidade pedagógica como área
relevante no meio acadêmico e como carreira profissional de maior prestígio”. (Catani &
Gilioli, 2004, p. 71)
O atual currículo da Pedagogia, atendendo à nova configuração definida pelas Diretrizes
Curriculares para o Curso de Graduação/Licenciatura em Pedagogia (Resolução CNE/CP nº 1,
de 2015), oferece as seguintes habilitações: Magistério das Matérias Pedagógicas do Ensino
Médio, Magistério da Educação Infantil e Magistério das Séries Iniciais do Ensino Fundamental
e Habilitação Integrada: Administração Escolar da Educação Básica, Supervisão Escolar da
Educação Básica e Orientação Educacional da Educação Básica. Cabe ao EDA a formação nas
seguintes áreas: Política Educacional e Organização da Educação Básica, Administração
Escolar, Economia da Educação, Educação Especial, Relações de Gênero e Educação, Cultura
Escolar e Educação. (Currículo do Curso de Pedagogia)
Para dar conta dessa nova proposta de formação do educador, o currículo se estrutura
em torno de três princípios básicos: 1) a integração das antigas habilitações Administração
Escolar, Orientação Educacional, Supervisão Escolar e Educação Especial ao currículo
comum; 2) a flexibilização na organização curricular com a criação de três percursos
formativos, entendidos como áreas de aprofundamento: Política e Gestão da Educação;
Educação e Cultura; e Escolarização e Docência; e 3) a integração entre os departamentos na
oferta das disciplinas.
Dessa forma, o currículo assim concebido fortaleceu os vínculos entre os departamentos,
que “ao contrário do que ocorre em outras unidades, nas quais os departamentos apresentam
grande autonomia de objetivos, com programas próprios de graduação e pós-graduação,
possuem menor autonomia, pois suas atividades são marcadas por interdependência, integração
e articulação como necessidade para realizar os propósitos e missão da Unidade quais sejam: a
formação de profissionais competentes, críticos e socialmente responsáveis na construção e
difusão de conhecimentos e na prestação de serviços à sociedade.” (EDA, Projeto Acadêmico,
2019).
Com a inclusão da habilitação em Administração Escolar no Currículo Comum, o EDA
passou a oferecer as seguintes disciplinas obrigatórias: Fundamentos Econômicos da Educação,
Política e Organização da Educação Básica I, Política e Organização da Educação Básica II,
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Coordenação do Trabalho na Escola, Cultura e Educação Afro-brasileira e Indígena, além de
ser responsável pelo Programa Integrado de Estágio em Gestão, Política e Organização da
Educação Brasileira. Na Licenciatura o EDA continua a oferecer a disciplina: Política e
Organização da Educação Básica no Brasil.
Numa perspectiva multidisciplinar e de integração entre os departamentos, compartilha
com o EDF e o EDM as seguintes disciplinas: Educação Especial fundamentos, políticas e
práticas escolares; Pesquisa Educacional: questões teórico-metodológicas e prática pedagógica;
Projeto Integrado de Estágio em Docência em Educação Especial; e Educação Comparada.
Com a flexibilização da organização curricular e a criação de percursos formativos, o
EDA se responsabiliza por disciplinas em cada um dos três percursos, sendo que, em um deles,
Política e Gestão da Educação, que diz respeito à sua área de atuação, as disciplinas optativas
são ofertadas de forma “fixa”, enquanto que nos demais percursos são ofertadas de forma
“variável”.
No percurso Política e Gestão da Educação, que oferece fundamentos para a
compreensão de diferentes aspectos da política educacional e da gestão democrática, cabe ao
EDA as seguintes disciplinas: Teorias de Administração Escolar no Brasil, Direção de Unidade
Escolar, Fundamentos da Avaliação de Sistemas e Unidades Escolares e Política Educacional
e Diversidade.
No percurso Educação e Cultura, que tem por objetivo o aprofundamento da reflexão
sobre as relações entre educação e cultura, o EDA se responsabiliza pelas disciplinas: Cultura
e Educação I: teoria da complexidade e cultura escolar; Relações de Gênero e Educação I:
trabalho, educação e gênero; Cultura e Educação II: imaginário e processos simbólicos; Teoria
e Prática do Estatuto da Criança e do Adolescente na Educação; Literatura, Cultura e Educação:
hermenêutica e processos formativos.
no percurso Escolarização e Docência, que visa aprofundar temas relacionados às
atividades pedagógicas, o EDA oferece as disciplinas: Relações de Gênero e Educação II:
escola e relações de gênero; Paulo Freire: teoria, métodos e práxis; Trabalho e Educação na
Sociedade Brasileira; e Políticas Públicas de Educação de Jovens e Adultos.
Mas, além dessas, o EDA, também tem um rol de disciplinas optativas que são
oferecidas esporadicamente na medida das possibilidades de seus professores e que confirmam
a sua vocação multidisciplinar: Cinema e Educação: pressão pedagógica e imaginários
contemporâneos; Cultura & Educação III: mitologias uma introdução; Seminários de
Administração Escolar; Seminários de Economia Política da Educação; Educação Especial,
Inclusão Escolar e Políticas de Atendimento a Alunos com Deficiência, Transtornos Globais
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do Desenvolvimento e Altas Habilidades/Superdotação; Cultura e Organização I: a
multidimensionalidade do fenômeno sócio-organizacional educativo; Financiamento da
Educação Básica no Brasil; Teoria dos Campos Sociais: gênese e estrutura; Seminários de
Política Educacional; Políticas Sociais e Pessoas com Deficiência: transversalidade e
intersetorialidade; Introdução à Análise e Interpretação de Dados e Indicadores Educacionais.
Contudo, as reformas o se limitaram à graduação. A pós-graduação tem agora uma
nova configuração com a substituição das Áreas Temáticas por Áreas de Concentração que se
desdobram em Linhas de Pesquisa e o EDA atua mais especificamente em três Áreas de
Concentração: Cultura, Filosofia e História da Educação; Educação e Ciências Sociais
desigualdades e diferenças; e Educação, Estado e Sociedade.
A atuação do EDA se estende também à prestação de serviços à comunidade, um dos
três grandes objetivos da Universidade. Dessa forma, na área de Cultura e Extensão, o EDA
tem se destacado na formação de professores e outros profissionais das redes de ensino públicas
e privadas, colaborando em ações educacionais em diferentes âmbitos sociais em parceria com
órgãos governamentais, organizações não governamentais, sindicatos e movimentos sociais.
(EDA, Projeto Acadêmico, 2019)
O EDA é, ainda, responsável por diferentes espaços de formação, estudo e pesquisa,
como: o Centro de Memória da Educação, o Centro de Estudos e Pesquisas em Políticas
Públicas e Educação, o Laboratório Didático de Educação Especial, o Laboratório Experimental
de Arte-Educação & Cultura, o Núcleo de Avaliação Institucional e o Grupo de Pesquisa sobre
Relações Étnico-raciais, Educação, Gênero e Religião. (EDA, Projeto Acadêmico, 2019)
Como se constata, ao longo dos anos as atribuições do EDA foram se multiplicando e
se ampliando, mesmo sem a correspondente ampliação do seu quadro docente, como mostrado
no seu último Projeto Acadêmico (2019), o que tem levado os professores a redobrarem seus
esforços para fazer frente a todas as solicitações dos seus diferentes campos de atuação.
Assim, nesse novo contexto universitário e nesse novo quadro curricular, agora
estruturado em torno de percursos formativos e fazendo um estudo comparativo do currículo
dos primeiros anos do EDA com o atual, percebe-se que, no embate entre formação técnica e
formação político-pedagógica, esta última tornou-se prioritária, inclusive pela extinção de
disciplinas fundamentalmente de formação cnica e pelo oferecimento de disciplinas coerentes
com a própria orientação da FEUSP, que vem se aprimorando numa formação mais ampla e
profunda de seus alunos.
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Ao longo da sua trajetória observa-se que o objetivo inicial de criação e consolidação
de um campo de estudos específico sobre Administração Escolar foi alcançado, porque o EDA
sempre esteve ciente do seu papel no cenário educacional brasileiro, de modo que podemos
dizer que ele efetivamente contribuiu para a construção teórico-epistemológica dessa área,
ampliando e diversificando os estudos que lhe dão sustentação. E isso acontece porque o pano
de fundo da diversidade é a permanência de traços e padrões culturais presentes no EDA, traços
que permanecem e sustentam a sua identidade de instituição social destinada à educação das
novas gerações.
O EDA sempre esteve atento não só às questões de ordem prática como a reformulação
dos programas, com vistas a adequá-lo ao permanente processo de renovação pedagógica, mas,
principalmente, à produção de novos caminhos de formação pedagógica, que sempre esteve no
horizonte de seus professores, não só por meio de suas pesquisas como as de seus orientandos.
Como a FEUSP foi uma das primeiras a oferecer doutorado em educação no Brasil, o EDA
muito contribuiu para a disseminação do conhecimento da área, bem como para a formação de
pesquisadores e profissionais da educação das mais diversas instituições de ensino superior do
Brasil.
Dessa forma, para além das discussões sobre a competência técnica e do compromisso
político do diretor, o departamento sempre teve uma visão ampliada e plural da sua formação e
um compromisso com a formação do educador, como se pode ver no seu Projeto Acadêmico,
segundo o qual “...cabe ao EDA a iniciação nos estudos sobre organização escolar e políticas
públicas de educação, por meio do oferecimento de disciplinas teóricas, da pesquisa, da
realização de atividades práticas como correspondentes curriculares (PCC) e estágios. A partir
de uma sólida base reflexiva, contribuir para a formação de um profissional que possa responder
às questões contemporâneas e aos desafios da sala de aula, da gestão, da atuação em centros de
pesquisa, em movimentos e organizações governamentais e não governamentais. (EDA,
Projeto Acadêmico, 2019)
Podemos, pois, dizer que, em sua trajetória, o EDA foi consolidando a sua posição de
referência nacional, inclusive por sua participação efetiva na ANPAE, e mais recentemente
internacional, que confirmam a qualidade do trabalho desenvolvido por seus professores em
todas as frentes: ensino, pesquisa, extensão de serviços à comunidade, cumprindo com isso os
objetivos da universidade a qual pertence.
Mas, não poderíamos concluir este breve relato sobre o EDA sem lembrar que o trabalho
realizado por seus professores, ao longo dos anos, é pautado por uma filosofia de vida, um
ISSN 2447-746X
DOI: 10.20888/ridpher.v7i00.16025
13
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 7, p. 1-13, e021020, 2021.
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compromisso político com a formação do educador e uma opção pela escola pública. Porque
como diria Beatriz Fétizon,
Professor é menos uma profissão que uma forma de vida, uma
postura integral em face de si mesmo, do mundo e do outro; é uma
vocação de existência carregada de todas as opções que oneram a
sua assunção e seu desempenho e, nesse sentido, é de novo uma
profissão de fé, de valores, de atitudes que gravam (no plano do
conhecimento e da ação) vida e pessoa como um todo. (Fétizon,
2020, p. 23)
REFERÊNCIAS
BRASIL, Resolução CNE/CP n. 1, 2015.
CATANI, A. M.; GILIOLI, R. de S. P. Administração escolar, a trajetória da ANPAE na
década de 1960. Rio de Janeiro, DP&A, 2004.
EDA/FEUSP. Projeto acadêmico. 2019.
FÉTIZON, B. Sombra e luz, o tempo habitado. São Paulo: Zouk, 2002.
FÉTIZON, B. A universidade e sua alma endemoninhada. São Paulo, FEUSP, Estudos &
Documentos, v. 45, 2012.
FEUSP. Currículo do Curso de Pedagogia. http://www4.fe.usp.br/wp-
content/uploads/ppplp-12.pdf. Acessado em 2 de dezembro de 2021.
OLIVEIRA, R. P. de; CATANI, A. M. A pesquisa em administração escolar no Brasil.
Brasília, RBAE, v. 10, n. 1, p. 9-15, jan./jun. 1994.
PARO, V. Formação de gestores escolares: a atualidade de José Querino Ribeiro. Campinas,
Educação & Sociedade, v. 30, n. 107, p. 1-7, maio/agosto 2009.
PEREIRA, G. M.; LIMA DE ANDRADE, M. da C. A construção da Administração Escolar
na RBAE (1983-1996). Campinas, Educação & Sociedade, v. 26, n. 93, p. 1393-1411,
set./dez. 2005.
Recebido em: 15 de agosto de 2021
Aceito em: 21 de dezembro de 2021