conquistados, em decorrência da atuação de grupos políticos ultraconservadores, o texto do
prefácio nos lembra que as universidades públicas se encontram sob ataque. As razões das
constantes investidas contra essas instituições encontram como justificativa a associação das
universidades a lugares contaminados por um “viés ideológico de esquerda”, invertendo assim
a própria lógica de existência dessas instituições, qual seja a de justamente fomentar uma
cultura acadêmica pautada pelos princípios da pluralidade de ideias, da liberdade de expressão
e da diversidade cultural. Esses ataques vêm provocando um forte impacto nas atividades de
ensino e pesquisa, sobretudo, nos cursos da área de humanidades, os quais, na visão dos
referidos grupos, não produziriam um “retorno imediato” à sociedade, num claro desprezo em
relação à relevância e à diversidade de conhecimento produzido dentro dessas instituições.
Nesse sentido, o texto do prefácio levanta a importância da obra em pronunciar as experiências
como forma de (re)conhecimento dos relatos ali presentes, mas também como forma de luta
contra o esquecimento e contra o silenciamento e, no limite, como forma de luta por uma
existência mais humana.
A obra, portanto, coloca em foco a potência de práticas docentes na área de História
sertão afora. Sua força está em mostrar em detalhes o trabalho dos professores: seus limites,
conquistas, dores e desafios, reafirmando a máxima freiriana de que, definitivamente, não existe
ensinar sem aprender (FREIRE, 2001).
As experiências relatadas asseveram o reconhecimento dos vários modos de ser e de
estar no mundo, o (re)conhecimento de um “outro”, que existe em sua concretude ou
abstratamente. Esse “outro” nos coloca diante de nós mesmos, nos convida a olhar além, a olhar
junto; mais do que a diferença, o que encontramos é um lado de nós mesmos, até então
desconhecido. Para além dos limites geográficos, poderíamos pensar o outro como tudo o que
nos circunda, cujo estranhamento alicerça as bases do reconhecer-se, seja esse outro aquele do
recôndito sertão amazônico, seja o outro ali da esquina.
É certo que ninguém escapa da história; mais certo ainda é que a história é um
constante processo de refazer-se, e cada nova experiência partilhada, tais como as relatadas na
obra, aponta em direção a um futuro em aberto, na medida em que as experiências carregam
consigo o potencial de iluminar o entendimento do vivido e inspirar a construção do novo. As
experiências dos outros quando olhadas num espelho negativo, conforme sugere Calvino,
refletem a nós mesmos, mas também aquilo que ainda não havíamos visto, aquilo que
permanece oculto, ainda futuro e que está por ser construído. É por isso que cada experiência
relatada na obra nos enche de esperança de que toda resistência não será em vão.