Resumo
Introdução: A enfermagem, que corresponde à maior categoria profissional atuando na saúde, é considerada pilar essencial no combate à pandemia de covid-19, posicionando-se à beira dos leitos 24 horas por dia. Além da alta exposição aos riscos de infecção pelo SARS-CoV-2, esses profissionais enfrentam, historicamente, um cenário marcado por precariedade nas condições de trabalho, com sobrecarga de tarefas, baixos salários e ausência de programas e apoio necessário para assisti-los integralmente e dignamente. O Brasil perdeu ao menos um profissional de saúde a cada 19 horas para a covid-19, sendo a enfermagem a categoria profissional mais afetada. Objetivo: Este trabalho tem como objetivo descrever os casos confirmados e óbitos pelo covid-19 em profissionais de enfermagem no Brasil. Metodologia: A análise foi realizada por meio de coleta de dados de domínio público disponibilizados pelo Observatório de Enfermagem do Conselho Federal de Enfermagem (http://observatoriodaenfermagem.cofen.gov.br/) e referentes ao período de março de 2020 a setembro de 2022. Foram inclusos os registros de casos confirmados de covid-19 e óbitos por essa causa em auxiliares de enfermagem, técnicos de enfermagem e enfermeiros. Avaliaram-se distribuição geográfica, perfil epidemiológico quanto ao sexo e faixa etária, bem como a evolução clínica e temporal dos casos e óbitos ao longo do período de analisado. Resultados: Os resultados demonstraram que no período de janeiro de 2020 a setembro de 2022 o Brasil registrou 64.603 casos confirmados por covid-19 nos profissionais da enfermagem, 872 deles evoluindo para óbito; isso representa uma taxa de letalidade de 2,29% entre estes profissionais. Em relação à distribuição geográfica dos casos, a maior parte dos casos confirmados (12.341) e dos óbitos (105) foi atribuída ao Estado de São Paulo, o que pode ser explicado pelas características demográficas do Estado e também por concentrar a maioria dos trabalhadores de enfermagem no país. No contexto dos trabalhadores de enfermagem, constatou-se um predomínio de técnicos, tanto em relação aos casos confirmados (62,9%), quanto na evolução para óbito (58.6%). Foi observado um predomínio de casos entre indivíduos na faixa etária de 31 a 40 anos (36,4%), mesma idade em que se concentra a maioria dos trabalhadores de Enfermagem. Houve um predomínio no quantitativo de casos e de óbitos no sexo feminino (85,26% e 68%, respectivamente), divergindo-se este último dado com o percentual de mortalidade geral por covid-19 no Brasil, onde 58% dos casos ocorreram em pacientes masculinos; isso pode ser justificado pelo fato de a equipe de enfermagem ser, em sua maioria, do sexo feminino. Conclusão: Identificou-se alto número de casos em profissionais da enfermagem, com maior incidência e mortalidade no Estado de São Paulo. Tal quadro revela um ambiente de trabalho de risco, marcado por inegáveis desafios, com um cenário epidemiológico desfavorável que expõe a desvalorização da categoria. Esta, embora seja protagonista na linha de frente, com atribuições técnicas, organizacionais, operacionais e educativas, não possui importância refletida em condições laborais justas, sendo necessário lutar por tratamento igualitário na equipe multiprofissional, jornada e piso salarial dignos.
Referências
ALVES, L. S.; RAMOS, A. C. V.; CRISPIM, J. et al. Magnitude e severidade da covid-19 entre profissionais de enfermagem no Brasil. Cogitare Enfermagem, 25, e74537, 2020. DOI: http://dx.doi.org/10.5380/ce.v25i0.74537.
BRITO, V. P.; CARRIJO, A. M.; FREIRE, N. et al. Aspectos epidemiológicos da COVID-19 sobre a enfermagem: uma análise retrospectiva. Población y Salud en Mesoamérica, 19(1), 2021. Doi: 10.15517/psm.v19i2.45253.
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