Resumo
Introdução: A endometriose é uma ginecopatia de natureza progressiva, condição inflamatória crônica caracterizada pela presença de tecido endometrial fora do útero, afetando entre 1,5% a 15% das mulheres que frequentam serviços terciários. Dentre as queixas estão dismenorreia, dor pélvica crônica, esterilidade, dispareunia, dor ao urinar ou evacuar, frequentemente associados a sintomas psicológicos/emocionais. Pesquisas em clínicas especializadas sugerem que mulheres com endometriose apresentam piora da qualidade de vida, da saúde mental/emocional quando comparadas com a população em geral. Objetivo: Para além da condição física, o Ambulatório de Endometriose promove a integração da Psicologia auxiliando nas questões psicológicas/emocionais que surgem no decorrer da doença. Metodologia: Os atendimentos psicológicos às mulheres com diagnóstico de endometriose são realizadas inicialmente no Ambulatório de Endometriose, que acontece às sextas-feiras no período da manhã sob a supervisão dos Docentes responsáveis Dra. Cristina Laguna e Dr. Oswaldo Grassiotto pelo ambulatório, mediante encaminhamento dos médicos residentes. Após o primeiro acolhimento psicológico à paciente é esclarecida a demanda emocional envolvida na endometriose, havendo consentimento e interesse da paciente, é iniciado um acompanhamento terapêutico para lidar e auxiliar no tratamento da doença, sendo este realizado pelas treinandas da Psicologia Daniela Godoi e Tamires Morais, sob supervisão de Psicóloga contratada Mariana Gerzeli. Resultados: A mulher com endometriose convive com incertezas do diagnóstico e uma série de frustrações e conflitos emocionais como raiva, angústia, ansiedade, medo, sentimentos que podem ser comuns em pessoas que descobrem alguma doença crônica e progressiva. Os sentimentos das mulheres com endometriose podem passar despercebidos no tratamento pela mulher, por falta de tempo em se dedicar às próprias emoções. O acompanhamento psicológico é fundamental para reconhecimento dos impactos sofridos pela dor e mudanças na vida da paciente, isto não significa que os sintomas desaparecerão, o objetivo de considerar o aspecto emocional no tratamento da endometriose é de compreender a associação existente entre esse fator com a doença e seus sintomas, para estabelecer um tratamento mais efetivo, garantindo atenção para as queixas físicas e emocionais. A partir desta percepção a paciente pode ser capaz de enfrentar a doença e suas repercussões mais ativamente sentindo-se mais segura para superar as dificuldades do tratamento. Como evidenciado no estudo de Menichini e Rasore (2001), o suporte psicoterapêutico é fundamental para suportar a desmotivação e os efeitos colaterais do tratamento. Conclusão: O acompanhamento psicológico é uma das formas de diminuir a angústia gerada pela doença, compartilhando sofrimento e conhecendo a respeito da doença. Na fala a mulher passa a se familiarizar com a doença e a se apropriar dos processos envolvidos, superando limites da endometriose. A "cura" nem sempre está acessível para enfermidades crônicas/progressivas (endometriose), entretanto, é possível minimizar seus efeitos a partir do atendimento psicológico descobrindo que vivências desencadeiam as crises e trabalhando esses aspectos no sentido de haver um preparo para essas vivências.
Referências
ABRÄO, Mauricio S. Perfil epidemiológico e clínico da endometriose: Estudo de 180 casos. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, 7, 779-84, 1995.
CULLEY, Lorraine; LAW, Caroline; HUDSON, Nicky; DENNY, Elaine; MITCHELL, Helene; BAUMGARTEN, Miriam, et al. The social and psychological impact of endometriosis on women’s lives: a critical narrative review. Hum Reprod Update. 2013;19(6):625-639.
OHNSON, Neil P.; HUMMELSHOJ, Lone. Consensus on current management of endometriosis. Hum Reprod. 2013; 28:1552-1568
MENICHINI, U.; RASORE, E. Aspetti psicosomaticidell’endometriosi. Médicine. Psicossomatique, 46,109-119, 2001.
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