Em decorrência de medidas inicialmente oriundas da direção do ICB, o poder público
na Bahia, gradativamente, promoveu ações no sentido de integrar pessoas cegas em escolas
“comuns”, primeiro no âmbito do governo do Estado e, posteriormente, na capital Salvador,
sendo aos poucos incorporadas por outros municípios.
A partir de 1961, a dinâmica adotada pelo ICB para integração educacional dos
estudantes consistia em: encaminhamento dos alunos internos para a escola regular, onde
frequentavam os cursos primário e ginasial, tendo acesso ao currículo da base comum nacional
e, no turno oposto, eram realizadas atividades específicas (Braille, soroban, atividade da vida
diária, escrita cursiva, terapia ocupacional, fisioterapia, atendimento psicológico, dentre
outras). Ao completar dezoito anos ou concluir o ensino fundamental, os alunos deficientes
visuais eram automaticamente desligados do ICB, passando a conviver integralmente no seio
de suas famílias quando, de modo geral, para prosseguir os estudos, solicitavam o apoio do
Grupo de Voluntários Copistas, Ledores para Cegos (GVCLC)2.
Durante o já citado I Congresso Brasileiro de Educação de Deficientes Visuais,
realizado em 1964, a professora Josefa Calazans, ao apresentar a comunicação “Programa
Educacional para Atender as Necessidades dos Deficientes Visuais”, discorreu acerca do
trabalho desenvolvido pelo ICB, ratificando, em larga medida, a análise acima ao afirmar3:
O Instituto de Cegos da Bahia, embora tenha sido, por muito tempo, uma
espécie de “asilo para cegos”, vem passando por transformações radicais nos
últimos tempos.
Tendo iniciado em 1961 seu nôvo período de atividade educacional, contando
com apenas duas professôras especializadas em São Paulo, está, atualmente,
com um corpo de 14 professôres, sendo 10 especializadas, uma assistente
social e uma psicóloga, ambas tendo feito estágio na Fundação para o Livro
do Cego no Brasil. Mantém classes Braille no Instituto de Educação “Isaías
Alves” (Curso Ginasial, Colegial e Pedagógico) e na Escola Marquês de
Abrantes (Curso Primário), atendendo a 23 alunos com resultados os mais
satisfatórios. (ANAIS..., 1964, p. 47).
Para compreender e sistematizar a memória da educação especial, independentemente
qual seja o contexto, requer necessariamente uma imersão no legado produzido e difundido
pelas instituições especializadas, o que constitui fundamentos para refletir o debate atual sobre
a educação inclusiva. Reconhecer este contributo é o desafio posto para os estudiosos da história
da educação, principalmente aqueles que se dedicam a pesquisas sobre o patrimônio histórico
educativo.
2 O GVCLC presta auxílio educacional a estudantes cegos e com baixa visão, através de leituras em voz alta
realizadas por voluntários ledores; produção e distribuição de materiais adaptados (gravação em áudio de livros e
apostilas, transcrição para o sistema Braille, impressão em fonte ampliada e digitalização de textos e livros).
3 Preservou-se na citação a grafia da Língua Portuguesa utilizada pela autora, vigente à época.