formas de precariedade social, e não necessariamente desprovido de identidade de classe
positiva, uma característica das subclasses, engendradas pela ação estatal.
À maneira de Bourdieu, o autor define o Estado como “monopólio da violência
simbólica legítima” (Dörre, 2022, p. 180-181), uma espécie de distribuidor de classificações
sociais, o que produz as subclasses. De maneira geral, estas seriam compostas pelos segmentos
dependentes da assistência social pública para subsistir ou, em vez de assistidos, são os mais
sujeitos à violência estatal das prisões em massa (caso dos EUA).
É sobre as subclasses que incidem os piores estigmas discriminatórios, um obstáculo à
conformação de identidades políticas positivas, daí serem os seus membros os mais sujeitáveis
ao populismo de extrema direita e à cooptação pelo terrorismo islâmico. A introdução da
dimensão simbólica na abordagem das classes constitui um dos pontos altos da análise de Dörre,
ao sublinhar aspectos não econômicos relevantes para a manutenção do regime de expropriação
neoliberal.
Em um mundo no qual o maior efeito social da competição acirrada pelo mercado de
trabalho dual é a intensificação da produção simbólica de vencedores e perdedores, as
subclasses, podemos concluir, seriam o maior perdedor entre os perdedores, pois estigmatizadas
em razão da dependência do Estado para sobreviver, de encontro à ideologia do
empreendedorismo. No que diz respeito à ação política coletiva, as formas de luta de frações
do precariado merecem atenção e não excluem de todo o otimismo; já com relação às subclasses
não haveria muito espaço para a esperança, estão muito à deriva.
Por fim, nem tudo é desolação, Dörre entende que a teoria crítica não pode se descolar
da reflexão sobre a superação do capitalismo, no entanto a sua obra contempla especialmente a
possibilidade de mudança no interior do capitalismo. Para o autor, seria vislumbrável “uma
nova transformação sistêmica do capitalismo” em sentido ecossocial, capaz de propiciar o
próximo “resgate temporário do sistema” (Dörre, 2022, p. 73-74). Obviamente, alternativa de
contenção defendida pelo autor.
Acima apontamos os pontos principais da obra, nem todos os temas foram abordados,
por exemplo, ficaram fora as considerações acerca da difícil convivência entre democracia e
regime de expropriação neoliberal, bem como as anotações sobre o Sul global e as menções à
esfera da reprodução social (à maneira dos estudos feministas).
Pela gama de questões levantadas e pelas respostas oferecidas, trata-se de uma leitura
bastante interessante. Entretanto, a escrita é um pouco árida, em vários momentos repetitiva
(talvez por reunir artigos), além de apresentar uma série de noções e/ou diferenciações, algumas
chamadas de conceitos, nem sempre elucidativas (precariedade marginal, precariedade