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MAURÍCIO TRAGTENBERG: FUNDADOR DOS ESTUDOS SOBRE EDUCAÇÃO
LIBERTÁRIA NO BRASIL: DA LUTA SOCIAL À UNIVERSIDADE
Doris Accioly e Silva
Universidade de São Paulo, Brasil
daccioly@usp.br
Foto de Maurício Tragtenberg. Fonte: Arquivo Particular Doris Accioly e Silva.
Ferrer, esse desertor da burguesia,
enfatizava o papel da educação na
renovação social, uma educação livre de
quaisquer ismos, na qual não atuasse a
violência refinada, a violência simbólica.
Ciência, liberdade e solidariedade se
constituíam no seu ideário pedagógico; o
combate à rotina e ao atavismo, em sua
meta. Quem sabe, por isso, seu nome não
conste nas histórias oficiais da educação
[...].
Maurício Tragtenberg
A questão política do esquecimento e da memória vem necessariamente à tona quando
se estuda o anarquismo. O apagamento da memória integra, em todas as épocas e lugares, a
luta e o estabelecimento das relações de exploração e dominação. Quando nos debruçamos
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sobre a história das lutas sociais no Brasil, emerge a importância dos anarquistas tanto no plano
político não institucional quanto no educacional e cultural. Essa importância foi silenciada ao
longo de décadas por impedimentos de variada natureza, desde a repressão política, até os
processos de fabricação do esquecimento que acompanham permanentemente os campos
político, cultural e educacional. No Brasil, Maurício Tragtenberg foi um dos primeiros
intelectuais a evidenciar a presença anarquista na história social e na vida cultural de nosso
país. A história de vida de Maurício Tragtenberg é um exemplo da inseparabilidade vida-obra,
quando se deseja apreender a complexidade das ligações que compõem uma biografia. A
trajetória de Tragtenberg inicia-se no Rio Grande do Sul, na cidade de Erebango, em 1929, na
colônia rural de imigrantes judeus ucranianos, que fugiam dos pogroms do leste europeu. Em
suas recordações, Tragtenberg referia-se ao avô como um camponês tolstoiano, profundamente
religioso. A família vivia numa gleba de 25 hectares recebidos do governo, na qual praticavam
a agricultura familiar, com base no apoio mútuo e na solidariedade, de inspiração makhnovista.
Com a repressão política bolchevista, muitas colônias anarquistas foram destruídas, o que
provocou a imigração de trabalhadores e camponeses para diversas regiões, como Estados
Unidos, França e América do Sul. Os camponeses de Erebango recebiam periodicamente
jornais libertários desses países, tais como Tierra e Libertad, Volontá, La Protesta, A Plebe,
Voz do Trabalhador, Ação Direta, O Libertário. Nessa época, em Erechim e regiões próximas,
surgem associações de trabalhadores imigrantes de orientação libertária. Em seu Memorial,
Tragtenberg conta que os camponeses:
[...] ajudados pela imprensa libertária, aprimoraram o sendo coletivo de vida
e trabalho aprendendo uns com os outros. Todos eram alunos e professores e
aprendiam, ao mesmo tempo, os segredos do cultivo da terra. À luz de vela, à
noite, aprendiam e ensinavam português, espanhol, russo e esperanto. Liam-
se, em Erebango, muitos autores anarquistas russos, como Kropotkin,
Bakunin, especialmente, Tolstoi, com seu anarquismo religioso anticlerical,
que era o autor preferido. [...] Liam-se os clássicos da literatura russa, como
Pushkin e Tchekov. Paralelamente, as colônias conseguiram a autosuficiência
em alimentos, elevaram o aprimoramento educacional e a autoaplicação dos
princípios anarquistas no cotidiano de suas vidas. (TRAGTENBERG, 1998,
p. 80)
Tal foi o ambiente que marcou a infância de Tragtenberg e constituiu sua visão de
mundo. Por volta de 1936, Tragtenberg mudou-se com a família para Porto Alegre, vivendo
no bairro judeu do Bonfim. Frequentou o Grupo Escolar Luciana de Abreu, no bairro Azenha,
durante o Estado Novo, ocasião em que Tragtenberg presenciou uma passeata integralista
liderada por Plínio Salgado, fato que causou grande aflição no meio judaico, pelo temor de que
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se repetisse o antissemitismo do leste europeu. A família deslocou-se para São Paulo, em 1938,
indo viver no bairro do Bom Retiro; frequentou a escola judaica ortodoxa Thalmud Torá, até
a quarta série do primário, quando começou a trabalhar para contribuir no orçamento
doméstico. Seu pai faleceu e sua mãe trabalhava como costureira. Essa circunstância
determinou a interrupção dos seus estudos, seu ingresso no mundo do trabalho, desenhando
um conjunto de experiências que ele chamava de “minhas universidades”, à semelhança de
Maximo Gorki. Assim, ele denominava o conjunto de experiências vividas nas dimensões
social, política e intelectual, abarcando o convívio diário com trabalhadores de diversas
nacionalidades e profissões, muitos emigrados, que traziam a memória das lutas operárias
travadas em seus países de origem. Em seu Memorial (1998), ao recordar os temas das
conversações naquele quadro social, ele dizia: “não eram temas de academia e sim expressões
de relações sociais e políticas vividas”. No convívio com esses trabalhadores, Tragtenberg
revivia sua infância em Erebango e os ecos da repressão bolchevique aos marinheiros de
Kronstadt e aos camponeses makhnovistas. Com a redemocratização de 1945, Tragtenberg
chegou a filiar-se ao Partido Comunista e convivia com trotskistas, anarquistas, socialistas, que
costumavam reunir-se na Galeria Prestes Maia e criticavam os rumos da revolução russa. Essa
rebeldia acarretou a expulsão de Tragtenberg do PCB. Nessa ocasião, Tragtenberg frequentava
a sede do Partido Socialista Brasileiro e os cursos que promovia nos finais de semana, como o
de História do Brasil, ministrado por Antonio Candido e o de Sindicalismo e Burocracia, por
Azis Simão. Também o Centro de Cultura Social dos anarquistas foi uma de suas
“universidades”; conheceu Edgar Leunenroth, Pedro Catallo, a feminista Anita Carrijo e o
escritor rio Ferreira dos Santos, que lecionaram naquele importante centro libertário.
Tragtenberg trabalhava, nessa época, no Departamento de Águas e Energia Elétrica, empresa
pública que lhe abriu os olhos para a burocracia como estrutura de poder institucional, como
ritualismo na interação social, apatia do funcionário frente ao trabalho e os graus de status,
legitimados pelos diplomas escolares:
Assim, na década de 1950, muito antes de aparecer Bourdieu como
celebridade, percebia eu no Departamento de Águas de Energia Elétrica que
o estamento dos engenheiros atendia alguém se esse alguém usasse o
tratamento de Doutor’ dirigindo-se a ele. Caso contrário, não havia interação.
Percebi como, na burocracia pública, funcionava o sistema feudal do
‘patrocínio’, seu status dependia de a quem você estivesse ‘ligado’ na
burocracia. Você trabalhava ou ficava na ociosidade, dependendo do prestígio
do seu ‘padrinho’. (TRAGTENBERG, 1998, p. 84)
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Outra de suas “universidades” foi a Biblioteca Municipal Mário de Andrade, onde
conviveu com intelectuais como Bento Prado Jr., Flávio Rangel, Arakcy Martins Rodrigues,
entre outros. Nessa época, foi muito importante a amizade com o jornalista Hermínio Sachetta
e com a família Abramo, trotskistas. No decorrer da década de 1950, tendo apenas concluído
o quarto ano primário, por sugestão de Antonio Candido e com base na legislação da época,
Tragtenberg apresentou a monografia intitulada Planificação: desafio do século XX (1967), à
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Nesse texto, analisa
os mecanismos socioeconômicos que conduzem ao planejamento econômico, tanto no
capitalismo privado, quanto no capitalismo de Estado. Sobre este livro, escreveu Antonio
Candido na apresentação (1967): “com honestidade e heterodoxia, longe de dogmas e
preconceitos, o autor circula entre fatos históricos, sociais e econômicos com uma formosa
liberdade, manifestando a cada instante uma equação pessoal que não se quer omitir e que atua
como presença fecundante”. O autodidatismo que marcou a trajetória de Maurício Tragtenberg
conferiu-lhe uma liberdade intelectual pouco vista na universidade, o que não significa
ausência de rigor conceitual e analítico. Em 1963, a convite do professor Wilson Cantoni,
lecionou Cultura Brasileira na recém criada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, de São
José do Rio Preto, primeiro Instituto Isolado de Ensino Superior do Estado de São Paulo, hoje
campus da UNESP (ACCIOLY E SILVA, 2004). Esta faculdade reuniu um brilhante grupo de
jovens professores, recém formados pela USP, num projeto político pedagógico avançado, que
incluiu a participação paritária de alunos e professores e todas as decisões do Departamento de
Pedagogia. Além disso, a alfabetização de trabalhadores rurais e urbanos pelo método Paulo
Freire, uma intensa vida cultural no interior da faculdade, com grupo de Teatro e Cineclube.
Afirmou-se o compromisso do Ensino Superior com as necessidades dos trabalhadores,
socializando-se o conhecimento, por meio de uma formação de professores que aliava o
rigoroso conhecimento da realidade local e regional ao cultivo da cultura clássica e
humanística. Participaram desta experiência, entre 1957 e 1964, professores brasileiros e
estrangeiros, que a ditadura dispersou após a repressão que se abateu sobre a faculdade, em
1964. Tragtenberg foi duramente atingido com dois Atos Institucionais. Com esgotamento
nervoso, internou-se no Instituto Aché, por três meses. Perdera tudo o que havia conquistado
até então, numa vida de luta e estudo. estava casado com Beatriz Romano Tragtenberg,
desde fins dos anos de 1950, com quem teve três filhos, Marcelo, Lívio e Lucila. Os meses de
internação não arrefeceram o seu sentido crítico, permitiram-lhe estudar o poder psiquiátrico e
a burocratização da prática médica. Estruturou, a partir de então, sua tese de doutorado
Burocracia e Ideologia, que defendeu na Universidade de São Paulo, em 1973. Nela, analisou
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os fundamentos ideológicos das teorias da administração e seu caráter legitimador da
dominação e da exploração no capitalismo. Com heterodoxia, lança mão dos conceitos de Marx
e de Weber, para criticar a burocracia dos países ocidentais e a burocracia do capitalismo de
Estado. Sobre essa temporada hospitalar, ele escreveu, em seu Memorial: “saí do hospital sem
cargo, sem trabalho e com dívidas a pagar, por aí a gente como um currículo não pode ser
somente ‘edificante’ e ‘vitorioso’: é também composto de indecisões, incertezas e derrotas”
(idem, p.86). No final dos anos de 1960, Tragtenberg e um grupo de professores, entre eles
alguns remanescentes da experiência de São José do Rio Preto, foram contratados como
docentes por intermédio do professor Sergio Bandeira de Mello, pela Faculdade Barão de
Mauá, instituição privada de Ribeirão Preto. Em 1975, juntaram-se a esse grupo Bento Prado
Jr. Octávio Ianni e Edgard de Assis Carvalho e criaram um Programa de pós-graduação em
Letras e Ciências Sociais, de grande importância no interior do Estado de São Paulo, driblando
o cerco ditatorial às universidades públicas. Tragtenberg lecionou até o fim da vida (1998) na
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, aposentando-se na Faculdade de Educação da
UNICAMP e na Fundação Getúlio Vargas. Foi um dos fundadores da Revista Educação e
Sociedade, na UNICAMP, publicação que ele compreendia como necessária interligação das
Ciências Humanas, da literatura e da Educação, o que havia sublinhado num artigo publicado
na década de 1950, chamado A importância da literatura para o homem de cultura universitária,
qualquer que seja sua especialização; texto no qual sublinha o papel integrador da literatura
em nossa época de extremas especializações. Entendia a fragmentação do conhecimento como
fruto da instrumentalização do saber pelo poder. Ele foi coerente com essa visão, não apenas
como professor, mas como orientador, ao longo das décadas em que formou e orientou alunos
da graduação e da pós-graduação. No campo educacional, Tragtenberg iniciou os estudos
universitários sobre a pedagogia anarquista com o artigo Francisco Ferrer e a Pedagogia
Libertária, publicado em 1978, no primeiro número da Revista Educação e Sociedade. Assim,
Tragtenberg tirou da obscuridade parte substancial da História da Educação no Brasil, até então
ignorada pelos currículos oficiais de Pedagogia. A prática pedagógica de Tragtenberg
caracterizava-se pela generosidade; partilhava com os alunos a vasta erudição de uma vida,
sem dar importância ao controle de presença e às avaliações burocráticas, afirmando que o
professor tem um saber relativo e os alunos uma ignorância transitória. Ao modo de Max
Weber, de quem foi um leitor ardoroso, enfatizando em sua obra a crítica à burocracia,
Tragtenberg não confundiu a cátedra com o púlpito, sugerindo aos seus alunos, jamais serem
leitores de um autor. Não cultivou discípulos, por respeito à autonomia intelectual e por
coerência à sua crítica das hierarquias e das organizações centralizadas, que estão no âmago
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das sociedades desiguais. A militância política jamais se limitou às universidades; ele convivia
com os movimentos sociais permanentemente e escreveu durante oito anos no jornal Notícias
Populares uma coluna denominada No Batente, que era lida por várias categorias de
trabalhadores, com quem estava sempre em diálogo, sendo essa coluna uma caixa de
ressonância das lutas sociais rurais e urbanas. Assim, a militância de Tragtenberg abrangia a
escrita permanente em jornais, desde a década de 1950, assim, tendo começado na Folha
Socialista, continuou até o fim de sua vida, escrevendo para jornais como Folha de São Paulo,
Jornal da Tarde, Coojornal de Porto Alegre, O São Paulo, da Cúria Metropolitana e o Notícias
Populares.
Em artigo que chocou a comunidade acadêmica, intitulado Delinquência acadêmica,
desvendou a vinculação estreita entre a pesquisa e o poder militar, o poder econômico,
especialmente das grandes empresas, bem como a cumplicidade de intelectuais com a ditadura
militar, que afastara tantos professores de seu trabalho. Criticava ao mesmo tempo, o
tecnicismo e um certo humanismo abstrato, que transforma a universidade brasileira em
multiversidade, onde se ensina tudo aquilo que o aluno pode pagar. Um fio condutor do
pensamento de Tragtenberg é a relação entre meios e fins, na qual os últimos condicionam os
primeiros, “[...] a universidade vista como prestadora de serviços, perde o senso de
discriminação ética e da finalidade social da sua produção [...] se vende no mercado ao primeiro
comprador, sem averiguar o fim da encomenda” (1990, p.3). A reflexão de Maurício
Tragtenberg interroga sempre: a quem serve o conhecimento e para o que serve? Nesse sentido,
ele define a separação entre o pensar e o agir, como uma das dimensões da delinquência
acadêmica, permitindo ao intelectual separar seus compromissos políticos e os valores
essenciais da justiça e da liberdade. Completando essa crítica, Tragtenberg frisava que no
escopo das faculdades de educação, essa atitude permite criar reformas educacionais que são
verdadeiras restaurações, permitindo a continuidade do poder:
Referindo-se às universidades do século XIX, mandarinescas e pseudo-
humanistas, diz que naquelas o professor cumpria o papel de cão de guarda
do sistema, sendo produtor e reprodutor da ideologia dominante. Hoje, esse
cão de guarda transformou-se em cão pastor, acompanhando a passagem para
a universidade tecnocrática na qual os critérios lucrativos da empresa privada
operam no sentido de produzir fornadas de colarinhos brancos para o
mercado de trabalho estando o próprio professor submetido a avaliações de
desempenho nas quais o que conta é a produção de artigos sem se questionar
sua utilidade e importância social. Nessa perspectiva, a avaliação se reduz a
um mecanismo de subordinação do professor à lógica burocrática do sistema
geral. (TRAGTENBERG, 2018, p. 216)
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DA crítica de Tragtenberg expressa sempre a possibilidade de superação de uma dada
realidade, assim, ele indica a autogestão pedagógica como possibilidade prática de ultrapassar
a pedagogia burocrática. A radicalidade crítica de Maurício é sucedida da proposta que são a
autogestão pedagógica e as concepções anarquistas de educação como alternativas de educação
realmente ligadas aos interesses dos trabalhadores e à fundação de uma nova prática social,
uma vez que a pedagogia libertária institui a possibilidade de outro mundo. Nos fundamentos
da crítica tratenbergana à escola e à educação, estão a recusa do Estado e do capital como
agentes educativos, indicando as práticas educacionais anarquistas como essenciais para a
criação de uma nova sociedade, Tragtenberg nos propõe revisitar alguns dos pontos nucleares
dessas práticas: a coeducação de classes e sexos, o ensino com base nas conquistas da ciência
e não na fé, na interligação das humanidades, artes, filosofia e ciências da natureza, com vista
à formação integral dos seres humanos, nos planos afetivo e racional. Com Bakunin e Paul
Robin, abraçava a ideia de educação integral, a valorização da solidariedade e não da
competição, as relações igualitárias e não os juízos discriminatórios, a recusa ao burocratismo
pedagógico, a negação dos prêmios e castigos que amparam a alienação por meio do controle
social. No primeiro artigo publicado na universidade brasileira sobre o educador libertário
catalão Francisco Ferrer, ele sublinha sua atualidade como o “pedagogo dos que nada ou pouco
tem a perder, porque nada possuem”. A presença de Maurício Tragtenberg nos lembra sempre
que formar na liberdade é não apenas ser capaz de criticar a burocracia educacional, mas de
propor e praticar outra pedagogia.
REFERÊNCIAS
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conhecer. In: REGO, Teresa Cristina. Educadores Brasileiros: ideias e ações de nomes que
marcaram a educação nacional. Curitiba: Editora CRV, 2018.
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caso. In: WHITAKER, D.C.A. VELOSO, T.M.G. (orgs). Oralidade e subjetividade, os
meandros do infinito da memória. Campina Grande: EDUEP, 2004.
TRAGTENBERG, M. Administração, Poder e Ideologia. São Paulo: Unesp, 2003.
TRAGTENBERG, M. Burocracia e Ideologia. São Paulo: Unesp, 2005.
TRAGTENBERG, M. Memorial. Educação e Sociedade, ano XIX, n. 65, p. 9-15, dez.
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política e sindicalismo. São Paulo: UNESP, 2004.
TRAGTENBERG, M. A delinquência acadêmica. Revista Espaço Acadêmico, v. 2, n. 14,
jul. 2002.
Recebido em: 30 de outubro de 2022
Aceito em: 22 de dezembro de 2022