As estratégias de ação organizadas pela população, contrária à queima dos
mísseis e foguetes em Perm, estão impulsionadas pelo sucesso de protestos
populares antecedentes. A resistência contra o programa de queimamento de
mísseis em Perm possui amplo apoio popular, principalmente da comunidade
de Zakamsk, além das ações de cinco grupos de ativistas que atuam na cidade:
Movimento Resistência Anarco-ecológica, União da Segurança Química,
Movimento Autônomo de Moscou e outras cidades russas, Movimento contra
a Violência de Ekaterinburgo, Guardiões do Arco-Íris. As atividades
realizadas pela população de Perm e pelos grupos de ativistas englobam uma
gama muito variada de ações: acampamentos permanentes de protesto na
frente da usina Kirovskii zavod, bloqueios de prédios da administração,
panfletagem, reuniões públicas, performances teatrais, atos e manifestações.
(MARIANA, 2008, p. 42).
No texto “O futuro do movimento antinuclear”, Murray Bookchin problematiza a
dinâmica de tais movimentos e os interpreta na importância central das ações diretas. Exalta
que a “riqueza do movimento antinuclear consiste em dar conta quase intuitivamente da
necessidade de romper com o sistema e de agir eficazmente fora dele” (1998, p. 16). Para
Bookchin, não bastam os slogans “Não ao Nuclear” e restringirmos nossa crítica política ao
tema específico da luta antinuclear. Se trata, em realidade, de uma superação das relações de
exploração hierárquica da sociedade sobre a natureza, assim como da exploração do ser humano
sobre o ser humano. E o princípio da ação direta, nesse sentido, facilita o desenvolvimento de
uma outra cultura política sensível às nossas capacidades de auto-organização da vida social –
para além de uma burocracia técnica de “experts” e políticos profissionais descomprometidos
com a garantia do equilíbrio ecológico da vida planetária.
O princípio da acção direta não é outra coisa senão o alargamento da
assembleia da cidade livre, o meio pelo qual cada indivíduo redescobre as
energias escondidas em si próprio e readquire a confiança nas suas
capacidades e nos seus próprios conhecimentos. A acção direta é o meio pelo
qual o indivíduo pode assumir diretamente o controlo da sociedade sem
recorrer a representantes que usurpam não só o poder, mas também a
personalidade de um eleitorado passivo e espectador que vive na sombra do
eleito. (BOOKCHIN, 1998, p. 18).
O princípio educativo intrínseco à cultura política da ação direta libertária
complexifica as noções restritas de cidadania voltada para a mera atuação nas esferas do Estado,
expandindo as potencialidades da educação para a vida social. A condição humana reduzida à
condição cidadã imposta pelas ordens estatais passa a ser questionada, e a própria possibilidade
de uma sociedade contra o Estado (CLASTRES, 1988) pautada em pressupostos da democracia
direta para além de aristocracias da democracia representativa (GRAEBER, 2011), reergue-se