em vista a implemetação da Lei 10.639/03. Acreditamos que é preciso repensar qual foi a
atuação europeia no Brasil, problematizando a ideia de colonização europeia, em primeiro
lugar, porque “nós nunca fomos colonizados pelos europeus, fomos invadidos e destruídos, mas
não colonizados. Portanto não existe nada a descolonizar e sim a retomar as bases africanas
modificadas no tempo e no espaço” (CUNHA JUNIOR, 2020, p. 63).
Souza (2016) diz que para superar as teorias eurocêntricas defendidas nas áreas do
conhecimento, em especial na geografia, é necessário ampliar o olhar sobre o espaço,
observando atentamente as contribuições da população negra e indígena que deixam marcas
importantes nos lugares. O real papel da ciência deve ser o de dimensionar conhecimentos sobre
a sociedade, bem como as interações culturais que modificam o espaço no tempo, demarcando
novos sentidos sociais através da materialidade e imaterialidade.
A expressividade social e os valores ancestrais das populações africanas e
afrodescendentes podem ser identificados nas sociabilidades e nas escritas das cidades
brasileiras. “[...] As cidades refletem as concepções de vidas, os valores dos grupos humanos,
as culturas e as relações sociais, neste sentido é que a compreensão da situação da população
negra passa pela compreensão das cidades [...]” (CUNHA JUNIOR, 2020, p. 63).
O fato é que as edificações arquitetônicas das cidades brasileiras são influenciadas pelas
formas urbanísticas das cidades africanas. Para entendermos tais influências, Diop (2014)
apresenta um relevante estudo sobre as unidades culturais na África, identificando as
mobilidades sociais, especialmente, as que foram realizadas pelos egípcios, nos quais
transportavam conhecimentos de escrita, edificações, religiões, sistemas políticos e
agropastoril. Esse estudo é basilar para que Cunha Junior (2020) reflita e construa o
conhecimento sobre as africanidades brasileiras, buscando reconhecer na escrita do espaço
geográfico, o sentido ancestral.
Ao problematizarmos sobre as formas urbanas brasileiras, é fundamental refletirmos
sobre as especialidades do trabalho africano na elaboração arquitetônica. Mesmo na condição
forçada do trabalho, os africanos ressignificaram e desenharam suas ancestralidades no urbano,
como meio de liberdade, de oralidade e de conectividade com suas raízes do passado e re-
enraizando uma nova história social e étnica em novos espaços.
No contexto brasileiro, as cidades se intercalam com uma diversidade de formas,
funções, relações sociais contra-hegemônicas, sistemas econômicos e a pluralidade cultural que
estão associados diretamente ao continente africano quanto à organização social e técnicas e
tecnologias inseridas nas construções arquitetônicas. A produção do tijolo, as simetrias dos
desenhos nas paredes de edifícios, casas e museus e a utilização da madeira para o telhado, são