Além de Kropotkin, o jornal A Terra Livre também foi influenciado por outros
conhecidos militantes vinculados ao anarco-comunismo, tais como Élisée Reclus e Errico
Malatesta. Reclus foi o autor que teve o primeiro livro publicado pela Biblioteca da Terra Livre,
a sua obra Evolução, Revolução e Ideal Anarquista aparece sendo vendida já na terceira edição
do jornal por um valor de 1$000 reis e com um total de 152 páginas (ATL, 07/02/1906, p.03).
Nessa obra em específico Reclus não trata do anarco-comunismo, mas dos conceitos de
revolução e evolução de forma positiva e se contrapondo aos setores conservadores da
sociedade que tendem a rejeitar os processos revolucionários, colocando-os como sempre
bruscos e violadores da ordem natural da sociedade (RECLUS, 2002). Entretanto, na edição de
19 de janeiro de 1910 o jornal publicou o artigo “Por que somos revolucionários?” em que
Reclus defende abertamente as finalidades do anarco-comunismo:
Quanto a grande causa das ferocidades e das baixezas, ela deixara de existir
entre nós. A terra tornar-se-á propriedade coletiva, as barreiras serão
destruídas, e de ai em diante o solo, pertencente a todos, poderá ser disposto
para a alegria e para o bem-estar de todos. Os produtos pedidos serão
precisamente os que a terra pode melhor fornecer, e a produção respondera
exatamente as necessidades, sem que nada se perca como no trabalho
desordenado que se faz hoje. Do mesmo a distribuição de todas essas riquezas
entre os homens será arrancada ao explorador particular far-se-á pelo
funcionamento normal da sociedade inteira.
Não queremos nem podemos traçar antecipadamente o quadro da sociedade
futura: a ação espontânea de todos os homens livres cabe cria-la e dar-lhe a
sua forma, aliás incessantemente mutável como todos os fenômenos da vida.
Mas o que sabemos é que qualquer injustiça, qualquer crime de lesa-majestade
humana achará sempre de pé para o combater. Enquanto durar a iniquidade,
nós, anarquistas comunistas internacionais, permaneceremos em estado de
revolução (RECLUS, ATL, 19/01/1910, p. 01).
Errico Malatesta, por sua vez, teve algumas de suas obras publicadas em italiano
disponíveis de serem comprados por meio da Biblioteca da Terra Livre, tais como L´Anarchia,
Al Caffé e La politica parlamentare nei movimento socialista e também teve vários artigos
publicados no jornal A Terra Livre. No que diz respeito ao anarco-comunismo de modo
específico, existem no jornal dois artigos desse autor, o primeiro que aparece na edição 25 de
janeiro de 1908, e se intitula “O Comunismo Livre”, e o segundo que se chama “Que Querem
então os anarquistas?” e aparece na edição de 01 de janeiro de 1910. O primeiro desses artigos
aparece no formato de diálogo entre dois indivíduos em que o primeiro questiona o segundo
sobre a viabilidade do anarco-comunismo na vida prática da sociedade caso triunfasse a
revolução social, sendo logo respondido pelo segundo, que destacou que não tinha uma resposta
pronta para tudo o que viria ocorrer em uma sociedade em processo de transformação