ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
1
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
ENTRE A FINALIDADE REVOLUCIONÁRIA E OS MEIOS DE LUTA: O ANARCO-
COMUNISMO E O SINDICALISMO REVOLUCIONÁRIO NO JORNAL A TERRA
LIVRE (1905-1910)
Andre Rodrigues
Universidade Estadual de Maringá, Brasil
andre_rskt@hotmail.com
RESUMO
O presente documento tem por objetivo analisar a trajetória do jornal A Terra Livre e a sua
relação com o anarco-comunismo e o sindicalismo revolucionário. De modo crítico à
interpretação produzida pela historiografia brasileira do movimento operário da década de
1980, que colocava A Terra Livre como um jornal anarcossindicalista e que fazia uma
contraposição às concepções de La Battaglia, visto como anarco-comunista e contrário à luta
sindical, procuramos demonstrar que o jornal tinha uma relação muito próxima com os
princípios anarco-comunistas, tal como aparece nas obras de Piotr Kropotkin, Errico Malatesta
e Élisée Reclus, e que o posicionamento favorável às lutas sindicais sustentado por seus editores
não era anarcossindicalista, mas uma concepção anarquista organizacional do sindicalismo
revolucionário.
Palavras-chave: A Terra Livre. Anarco-comunismo. Sindicalismo revolucionário.
INTRODUÇÃO
O presente artigo tem por objetivo analisar a trajetória do jornal A Terra Livre e a sua
relação com o anarco-comunismo, visto como uma finalidade a ser alcançado pela revolução
social e com o sindicalismo revolucionário, compreendido aqui como um instrumento de luta a
ser utilizado pelos anarquistas para se chegar a esse fim.
De forma crítica à perspectiva historiográfica do movimento operário produzida nos
anos 1980, que colocava esse jornal como partidário do anarcossindicalismo e que fazia uma
contraposição ao viés anarco-comunista do periódico libertário La Battaglia, que era contrário
à organização sindical dos trabalhadores, acreditamos que essa tese está parcialmente
equivocada, pois, apesar desses dois jornais terem perspectivas distintas sobre o movimento
operário e o sindicalismo, em nenhum momento o jornal A Terra Livre se autodenominou
anarcossindicalista e muito menos se posicionou contra o anarco-comunismo, tal como aparece
nas obras clássicas de Errico Malatesta, Piotr Kropotkin e Élisée Reclus.
1
1
Como exemplo dessa vertente, podemos destacar as obras Anarquismo e anarcossindicalismo de Giuseppina
Sferra (1987) e O movimento anarquista em São Paulo (1906-1917) de Silvia Ingrid Lang Magnani (1982).
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
2
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
Dessa forma, acreditamos que essa perspectiva historiográfica fez um uso equivocado
dos conceitos de anarco-comunismo e de anarcossindicalismo, pois as ideias anarco-comunistas
tiveram uma influência enorme sobre o corpo editorial do A Terra Livre e que o posicionamento
favorável à organização operária defendida por esse jornal não era anarcossindicalista, mas uma
concepção anarquista do sindicalismo revolucionário, fortemente influenciada pela
Confédération Générele du Travail (CGT), que era uma espécie de central sindical francesa.
Também partimos de uma perspectiva crítica às intepretações historiográficas mais
recentes, como o caso da historiadora Edilene Toledo (2004a) (2004b), que tenta desvincular o
sindicalismo revolucionário do anarquismo no Brasil, colocando-os como movimentos
separados, sendo que o primeiro foi a corrente hegemônica dentro no movimento operário na
Primeira República. Ao analisarmos a trajetória do A Terra Livre, o principal jornal anarquista
de viés organizacional de São Paulo na primeira década do século XX, o sindicalismo
revolucionário parece ter sido mais um meio de atuação no movimento operário fortemente
impulsionado pelo anarquismo do que um movimento político que se bastava a si próprio. Dessa
forma, a intepretação de Tiago Bernardon de Oliveira (2018, p. 217-218) sobre a relação do
anarquismo com o sindicalismo revolucionário no Brasil nos parece ser a mais plausível:
Neste sentido, embora possamos, de fato, verificar militantes ligados a
correntes políticas distintas em entidades que se apresentavam como
sindicalistas revolucionários “puros”, entendo que, para o caso brasileiro, o
sindicalismo revolucionário não se constituiu exatamente como uma corrente
com um corpo político próprio, mas, antes de tudo, um conjunto de princípios
que funcionariam como balizas para permitir à militância anarquista promover
sua propaganda nos meios operários. Ou, dito de outra forma, a relevância do
sindicalismo revolucionário no Brasil deveu-se ao movimento anarquista; e o
movimento anarquista, por sua vez, teve no sindicalismo revolucionário o
principal canal (ainda que não único), de difusão de suas ideias junto à classe
operária brasileira, conferindo-lhe relevância como corrente política durante
a Primeira República.
Para o desenvolvimento do presente estudo iremos nos valer de alguns conceitos
relacionados ao movimento anarquista que foram aprofundados no campo acadêmico por
alguns pesquisadores simpáticos a essa corrente política, como o caso de Felipe Correa (2018)
e Lucien Van der Walt (2016). Esses autores têm trazido à tona as divisões que ocorriam dentro
do próprio movimento anarquista e também melhor compreendido as ligações dessa corrente
política com as organizações sindicais e os movimentos sociais dos trabalhadores.
De acordo com Lucien Van der Walt (2016, p. 95-96) o movimento anarquista tem se
dividido historicamente entre dois grupos principais que defendem estratégias distintas de ação
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
3
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
para tentarem chegar à revolução social. O primeiro grupo é o anarquismo insurrecional,
também conhecido como antiorganizacional, que defende que as reformas, mesmo que surjam
devido às lutas sociais, tem caráter ilusório e acabam por colaborador com a manutenção do
status quo, afastando assim os trabalhadores de caminharem definitivamente à revolução e
fazendo com que gastem suas energias lutando apenas por melhorias imediatas. Essa corrente
geralmente defende associações informais, fragilmente estruturadas e que atuam por meio da
educação, propaganda e/ou ações violentas, sendo contrários a organizações formais como os
sindicatos, que são entendidos como órgãos autoritários e reformistas, ineficazes para fomentar
uma transformação social (CORRÊA, 2015, p. 244). Mesmo que de forma crítica, muitos
anarquistas antiorganizacionistas participaram dos movimentos sociais, como greves, mas
sempre querendo afastar os trabalhadores do reformismo e tentando impulsionar medidas mais
radicais rumo à revolução social.
O segundo grupo é o anarquismo de massas, também conhecido como organizacional.
Essa perspectiva defende que somente as organizações sociais de massa são capazes de
impulsionar uma revolução social e que as lutas sociais por reformas e ganhos imediatos não
são ilusórios, mas importantes para que os trabalhadores aprendam a se organizar por si mesmos
e a tomarem medidas cada vez mais radicais contra o capitalismo (VAN DER WALT, 2016, p.
96-97). Para grande parte dos anarquistas partidários de um viés organizacional o sindicalismo
de intenção revolucionária foi um importante meio de atuação junto às camadas populares.
Conforme destaca Felipe Correa (2018, p.29) o anarquismo ao longo dos seus mais de
150 anos de existência se utilizou primordialmente do sindicalismo de intenção revolucionária
para se inserir nos movimentos sociais dos trabalhadores, dentro do qual abarca o
anarcossindicalismo e o sindicalismo revolucionário. Por anarcossindicalismo compreendem-
se aquelas organizações sindicais que adotaram o anarquismo como ideologia política dos
sindicatos, enquanto que por sindicalismo revolucionário compreendem-se aquelas
organizações operárias que não mantiveram vínculos políticos explícitos com essa ideologia,
privilegiando a “neutralidade política” dos sindicatos como forma de manter a união operária.
Mas apesar dessa distinção necessária entre anarcossindicalismo e sindicalismo revolucionário,
ambas as formas de organização mantiveram inúmeros pontos de convergência, como a
autonomia do movimento operário, à rejeição a política parlamentar, uma forte crença no poder
das greves parciais e gerais e também no modelo organizativo federalista ao invés de uma
organização mais rígida e centralizada como propunham os sindicatos de orientação marxista.
A partir dos conceitos explicitados acima, acreditamos que o caminho para
compreendermos o A Terra Livre é caracterizá-lo como um periódico anarquista organizador
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
4
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
fortemente influenciado pelas finalidades políticas comunistas libertárias e que defendia os
preceitos do sindicalismo revolucionário como um importante meio de atuação militante para
se chegar a esses fins.
O JORNAL A TERRA LIVRE E OS SEUS ASPECTOS HISTÓRICOS E EDITORIAIS
A Terra Livre teve o seu período de circulação entre os anos de 1905 e 1910. Surgido
em dezembro de 1905, o jornal teve como objetivo dar continuidade ao trabalho anarquista
organizador de O Amigo do Povo, que havia deixado de circular no ano anterior.
2
Na primeira
edição do periódico, os editores deixam claro as suas perspectivas sobre o movimento operário:
“Tomamos parte activa no movimento operário. O isolamento levar-nos-ia à esterilidade, ou
reduziria o anarquismo a um simples movimento político, da extrema liberal a um tom torneio
filosófico de distantes em passeio filosófico da teoria” (ATL, 01/12/1905, p.01).
O jornal, assim como outros periódicos libertários brasileiros da Primeira República,
teve uma vida bastante difícil, marcada pelas dificuldades financeiras e irregularidades, pois
era um produto anticapitalista, que não visava lucro e seu público leitor era constituído por
trabalhadores de escassos recursos financeiros. Durante a sua fase de existência, que ocorreu
entre os anos 1905 e 1910, apesar das inúmeras queixas de dificuldade financeira, A Terra Livre
publicou 75 edições, que apareciam geralmente de forma quinzenal e era publicado em quatro
páginas (ALGARENGA, 2018, p. 46). Embaixo do título do periódico, em boa parte de suas
edições, aparecia a seguinte frase atribuída a Goethe: “O homem livre sobre a Terra Livre”. Os
recursos para manter o periódico eram adquiridos por meio dos próprios militantes, que
ajudavam com a sua manutenção via subscrição voluntária e assinaturas. Mas apesar desse
auxílio financeiro, os editores do jornal sempre se queixavam dos déficits do periódico
(ALGARENGA, 2018).
Embora tenha surgido em São Paulo, o jornal foi editado por um curto período no Rio
de Janeiro entre 1907 e 1908, por questões que estão intrinsecamente relacionados ao
crescimento do anarquismo e do movimento operário na então capital brasileira, que inclusive
sediou em 1906 o Primeiro Congresso Operário Brasileiro (SAMIS, 2017, p. 27). Na edição do
jornal que saiu em 10 de maio de 1907, A Terra Livre destaca que passara a ser editado na
cidade do Rio de Janeiro e que iria se fundir com o jornal anarquista carioca Novos Rumos, mas
2
O Amigo do Povo foi um jornal anarquista editado em São Paulo entre os anos de 1902 e 1904, contando com
artigos publicados em português, espanhol e italiano. Com o fim do jornal, alguns dos seus antigos colaboradores
como Manuel Moscoso e Neno Vasco vão passar a atuar em A Terra Livre.
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
5
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
mantendo o seu nome (ATL, 10/05/1907, p.01). Entretanto, em setembro de 1908, sem
explicitar os motivos, o jornal anuncia que estava voltando a ser editado na capital paulista
(ATL, 03/09/1908, p.04). (FIGURA 1).
FIGURA 1 Capa do A Terra Livre (Edição 5, 1906)
Fonte: Arquivo Edgard Leuenroth (UNICAMP)
O jornal, assim como outros periódicos anarquistas do período, foi um produto
coletivo, contanto com o auxílio de vários militantes, mas, ainda assim, duas figuras históricas
do anarquismo organizador foram de suma importância para a circulação do jornal: Edgard
Leuenrotrh, que foi o administrador do jornal, e Neno Vasco, que além de contribuir com vários
artigos e traduções, também foi o responsável pela parte das correspondências do jornal
(ALGARENGA, 2018).
A Terra Livre surgiu em um momento em que estavam se consolidando as táticas do
sindicalismo revolucionário no movimento anarquista, passando inclusive os próprios editores
do periódico a tomar parte ativa no movimento operário. Entretanto, esse viés organizativo e
sindical que o jornal adotou desde a sua primeira edição não tinha nada de contrário ao anarco-
comunismo.
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
6
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
O ANARCO-COMUNISMO E A TERRA LIVRE
O movimento anarquista surgiu historicamente na década de 1860, fortemente
vinculado a Mikhail Bakunin e seus seguidores, defendendo um programa político baseado na
dissolução do Estado e das instituições autoritárias da sociedade burguesa, abolição dos direitos
de herança, socialização dos meios de produção e em um sistema de remuneração baseado no
trabalho realizado, que ficou conhecido posteriormente conhecido como anarquismo
coletivista.
3
Os anarquistas coletivistas acreditavam que todos os adultos capazes deveriam
exercer atividades produtivas, sendo remunerados de acordo com a sua produção individual
(WOODCOCK, 2007, p. 183-184). Mas tinham a consciência de que a sociedade deve garantir
os meios de subsistência para os idosos, crianças e pessoas inválidas para o trabalho e também
manter instituições públicas para cumprir com as necessidades coletivas.
Por volta do início da década de 1870, surgiram críticas à forma de distribuição das
riquezas preconizada pelos anarquistas coletivistas entre alguns setores anarquistas militantes
da AIT, dando início ao surgimento do anarco-comunismo.
4
Em 1876, publicou-se em Genebra
uma brochura do grupo anarquista L´Ávenir, em que pela primeira vez se utilizou o termo
anarco-comunismo e, logo no ano seguinte, foi realizado na cidade belga Verviers um
congresso da Internacional de Saint-Imer em que os princípios anarco-comunistas se mostraram
dominantes (WOODCOCK, 2008).
5
Nesse evento, militantes anarquistas de diversos países da
Europa e da América estiveram presentes e determinaram nas resoluções do congresso os
princípios comunistas anarquistas, que estabeleciam que com o advento da revolução social e
a socialização dos meios de produção e consumo, a divisão da riqueza deveria ser organizada
3
O moderno movimento anarquista teve a sua origem relacionada à radicalização do campo antiautoritário e
federalista da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) (1864-1876) e teve como a primeira organização
especificamente anarquista a Aliança Democrática Socialista (ADS), surgida em 1968, que era constituída por
revolucionários instruídos. Muitos militantes da ADS, como o próprio Bakunin, participaram ativamente da AIT.
4
Kropotkin, por exemplo, colocou a forma de retribuição individual baseada no trabalho como injusta: “A
apropriação pessoal não é justa nem proveitosa. Tudo é de todos, visto que todos precisam de tudo, visto que todos
tem trabalhado na medida das suas forças, e que é materialmente impossível determinar a parte que poderia
pertencer a cada uma na produção atual das riquezas” (KROPOTKIN, 2011, p. 24).
5
Em meio as contradições existentes entre Marx e Bakunin na Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT)
e que levaram o segundo a ser expulso dessa organização, foi realizado em 1873, na cidade suíça de Saint-Imer,
um congresso socialista constituído por várias correntes anti-marxistas, que acabaram por constituir uma
organização a parte da AIT, a Internacional de Saint-Imer (WOODCOCK, 2008, p. 14). Por volta de 1876 os
anarquistas eram um grupo bastante expressivo nessa nova organização e conseguiram exercer notável influência
em seus congressos.
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
7
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
de acordo com as necessidades pessoais e coletivas, e não com base no trabalho individual
(WOODCOCK, 2008, p. 24).
6
Nas últimas décadas do século XIX houve alguns debates entre os anarquistas
coletivistas e os anarco-comunistas, mas as ideias defendidas pelo segundo grupo acabaram por
se tornar dominantes tanto entre os anarquistas organizadores quanto entre os
antiorganizadores. Sobre esse impacto do anarco-comunismo, Felipe Correa (2015, p. 209) nos
relata o seguinte:
A adoção do comunismo como maneira mais adequada de distribuição dos
produtos do trabalho consolidou-se em 1880, no Congresso de L Chau-de-
Founds da Federação Jurassiana, por influência de vários anarquistas que já o
defendiam, dentre os quais se encontram Kropotkin, Reclus e Cafiero. Desde
então, o comunismo torno-se hegemônico. A defesa do comunismo realizado
por Kropotkin foi a que teve maior impacto entre os anarquistas.
A Terra Livre, embora não se intitulasse como um periódico anarco-comunista,
diferentemente do que aconteceu com La Battaglia, que desde a primeira edição assumiu esse
rótulo, ao longo de suas edições é possível observar uma forte vinculação do periódico com
essa corrente, pois circulou em um momento em que essas ideias eram dominantes dentro do
movimento anarquista internacional.
7
Dentre os grandes nomes do anarco-comunismo, foi com
o russo Piotr Kropotkin que o jornal teve um contato mais estreito.
Ao longo das edições de A Terra Livre, é bastante perceptível que havia uma grande
admiração dos redatores do jornal a Kropotkin como autor, o que se deve ao fato de que entre
o findar do século XIX e início do XX ele havia se tornado um dos principais escritores
anarquistas a nível mundial e a sua fama se alastrou por praticamente todos os continentes. O
seu livro A Conquista do Pão, por exemplo, teve um grande impacto sobre vários movimentos
sociais e militantes revolucionários ao longo do século XX, sendo praticamente uma leitura
obrigatória a todos os anarquistas:
Não foi por acaso que A Conquista do Pão ganhou uma legião de leitores ao
longo do século XX. Foi importante para os revolucionários russos de 1905 e
1917 e para os milicianos na Revolução de 1936; não ficaram indiferentes a
ele os estudantes de 1968 e ainda encontrou muitos leitores na Rússia, após o
6
Os anarco-comunistas seguem o seguinte lema: “De cada um, de acordo com seus meios; para cada um, de acordo
com suas necessidades” (WOODCOCK, 2007, p. 183).
7
La Battaglia foi um importante jornal anarquista redigido em italiano que circulou em São Paulo entre os anos
de 1904 e 1913 de forma semanal e com uma tiragem bastante expressiva, chegando durante certo tempo a
imprimir 5000 exemplares a cada edição. Embora o seu grupo editorial liderado por Oreste Ristori tivesse uma
posição oficial anti-organizadora, acabou por abrir espaço para que todas as tendências libertárias pudessem
expressar o seu ponto de vista por meio de suas páginas (BIONDI, 1998).
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
8
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
fim da União Soviética, em 1991. Na América Latina, especificamente no
Brasil das primeiras décadas do século passado, foi largamente recomendado
como leitura básica para anarquistas e sindicalistas revolucionários (SAMIS,
2011, p. 11).
O grupo editor do jornal mantinha uma pequena livraria chamada de Biblioteca da Terra
Livre, que tinha por objetivo vender livros, opúsculos e panfletos a um valor acessível.
Kropotkin foi um dos autores que teve mais obras disponíveis à venda por meio da Biblioteca
Terra Livre, o que é possível de ser constado por meio vários anúncios que aparecem no jornal
divulgando obras desse autor vindas da Europa e publicadas em idioma italiano, espanhol e
português.
8
Além da venda das obras de Kropotkin vindas do continente europeu, a Biblioteca da
Terra Livre também publicou em português algumas obras desse autor, tais como: As bases
científicas da Anarquia, sob o formato de opúsculo de 32 ginas, e O Comunismo Anárquico,
opúsculo de 33 páginas, constituído pelos três primeiros capítulos do livro A Conquista do Pão.
Ao anunciarem essas obras à venda, em nenhum momento o jornal A Terra Livre demonstrou
alguma rejeição às ideias Kropotkin, muito pelo contrário, o discurso foi sempre de adesão e
admiração ao pensamento comunista anárquico defendido por esse autor. Na edição de 9 de
janeiro de 1908, por exemplo, o opúsculo O Comunismo Anárquico aparece sendo divulgado
do seguinte modo:
O Comunismo Anárquico
Por Pedro Kropotkine
Este opúsculo de 33 páginas é constituído pelos três primeiros capítulos da
magnífica obra de Kropotkine A CONQUISTA DO PÃO. O primeiro AS
NOSSAS RIQUEZAS mostra as riquezas, fruto do labor coletivo, que a
humanidade possui e pode produzir com os seus poderosos meios, quando
estes estiverem à disposição de todos e forem destinados a garantir o BEM-
ESTAR PARA TODOS. Este, como explica o segundo capítulo, é
impossibilitado pela propriedade privada, que impede de produzir e deve ser
destruída pela expropriação revolucionária. No terceiro capítulo, o autor
mostra que a sociedade caminha para O COMUNISMO ANÁRQUICO e que
ao comunismo, regime de propriedade comum, corresponde à uma nova forma
política, a anarquia, a sociedade sem governo, baseada sobre o livre pacto.
Estes três capítulos formam uma boa brochura, completa; mas mais tarde, em
sucessivas brochuras publicaremos os outros capítulos da CONQUISTA DO
PÃO, ficando então o famoso livro completo. A tarefa será tanto mais fácil,
quanto mais depressa for vendida esta edição e as que se seguirem (ATL,
09/01/1908, p. 04).
8
Vale também destacar que no jornal foram publicados vários textos de Kropotkin que tratam dos mais diversos
temas, tais como a Comuna de Paris, os atentados terroristas e o efeito negativo das prisões sobre os indivíduos.
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
9
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
Além de Kropotkin, o jornal A Terra Livre também foi influenciado por outros
conhecidos militantes vinculados ao anarco-comunismo, tais como Élisée Reclus e Errico
Malatesta. Reclus foi o autor que teve o primeiro livro publicado pela Biblioteca da Terra Livre,
a sua obra Evolução, Revolução e Ideal Anarquista aparece sendo vendida já na terceira edição
do jornal por um valor de 1$000 reis e com um total de 152 páginas (ATL, 07/02/1906, p.03).
Nessa obra em específico Reclus o trata do anarco-comunismo, mas dos conceitos de
revolução e evolução de forma positiva e se contrapondo aos setores conservadores da
sociedade que tendem a rejeitar os processos revolucionários, colocando-os como sempre
bruscos e violadores da ordem natural da sociedade (RECLUS, 2002). Entretanto, na edição de
19 de janeiro de 1910 o jornal publicou o artigo “Por que somos revolucionários?” em que
Reclus defende abertamente as finalidades do anarco-comunismo:
Quanto a grande causa das ferocidades e das baixezas, ela deixara de existir
entre nós. A terra tornar-se propriedade coletiva, as barreiras serão
destruídas, e de ai em diante o solo, pertencente a todos, poderá ser disposto
para a alegria e para o bem-estar de todos. Os produtos pedidos serão
precisamente os que a terra pode melhor fornecer, e a produção respondera
exatamente as necessidades, sem que nada se perca como no trabalho
desordenado que se faz hoje. Do mesmo a distribuição de todas essas riquezas
entre os homens será arrancada ao explorador particular far-se-á pelo
funcionamento normal da sociedade inteira.
Não queremos nem podemos traçar antecipadamente o quadro da sociedade
futura: a ação espontânea de todos os homens livres cabe cria-la e dar-lhe a
sua forma, aliás incessantemente mutável como todos os fenômenos da vida.
Mas o que sabemos é que qualquer injustiça, qualquer crime de lesa-majestade
humana achará sempre de para o combater. Enquanto durar a iniquidade,
nós, anarquistas comunistas internacionais, permaneceremos em estado de
revolução (RECLUS, ATL, 19/01/1910, p. 01).
Errico Malatesta, por sua vez, teve algumas de suas obras publicadas em italiano
disponíveis de serem comprados por meio da Biblioteca da Terra Livre, tais como L´Anarchia,
Al Caffé e La politica parlamentare nei movimento socialista e também teve vários artigos
publicados no jornal A Terra Livre. No que diz respeito ao anarco-comunismo de modo
específico, existem no jornal dois artigos desse autor, o primeiro que aparece na edição 25 de
janeiro de 1908, e se intitula “O Comunismo Livre”, e o segundo que se chama “Que Querem
então os anarquistas?” e aparece na edição de 01 de janeiro de 1910. O primeiro desses artigos
aparece no formato de diálogo entre dois indivíduos em que o primeiro questiona o segundo
sobre a viabilidade do anarco-comunismo na vida prática da sociedade caso triunfasse a
revolução social, sendo logo respondido pelo segundo, que destacou que não tinha uma resposta
pronta para tudo o que viria ocorrer em uma sociedade em processo de transformação
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
10
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
revolucionária, mas que o anarco-comunismo deve se manter fixo como objetivo a ser
alcançado, mesmo ocorrendo em cada localidade problemas singulares a serem resolvidos:
-Escuta. Antes de tudo, nós, os socialistas anarquistas, como já temos dito
muitas vezes, não podemos agora afirmar o que amanhã sucederá
precisamente, pois não podemos dizer hoje, de modo rigoroso, que isto ou
aquilo há de organizar-se e funcionar desta ou daquela maneira. Não podemos
afirmar tal, primeiro porque somos revolucionários e não formalistas; e
segundo porque cada localidade, cada grupo se organizará como melhor lhe
parecer e conforme os serviços, bem como a índole e capacidade dos seus
componentes. Embora o fundo possa ser sempre o mesmo comunismo em
economia, anarquia como regime político - todavia certa forma particular de
organização pode ser boa para aqui, mas imprópria para acolá, esplendida, por
exemplo, no Rio Grande, e defeituosa no Amazonas (MALATESTA, ATL,
25/01/1908, p. 03).
no segundo artigo, Malatesta demonstra que os anarquistas ao analisarem de modo
crítico os problemas sociais da sociedade burguesa, acreditam que a atual ordem social deve ser
destruída e que sobre as suas ruínas deve ser edificada uma sociedade comunista libertária:
Estudando a miséria e as suas causas, os males que a todos advém do regime
da propriedade privada e do Estado, as injustiças do salariato, o modo de
produção e os progressos da indústria e das máquinas, entendem que é
possível e necessário substituir a presente maneira de viver dos homens uns
com os outros por uma organização social mais justa e harmônica, mais
conforme as atuais possibilidades de produção e com as necessidades urgentes
dos seres humanos.
Os anarquistas são, em geral, partidários do comunismo (ramo do socialismo).
Querem a abolição da propriedade particular da terra, matérias primas e
instrumentos de trabalho, que passarão a ser de todos, para que ninguém tenha
meios de viver desfrutando o trabalho de outrem e para que todos, tendo
seguros os meios de produção e de vida, sejam verdadeiramente
independentes e possam associar-se aos outros livremente, tendo em vista o
interesse comum e em conformidade com as suas simpatias (MALATESTA,
ATL, 01/01/1910, p. 03).
Em A Terra Livre não se encontra uma oposição ao pensamento anarco-comunista e
nem mesmo algum texto colocando essa corrente como sinônima de anarquismo
antiorganizacional, muito pelo contrário, no jornal é bastante claro que os seus editores eram
anarquistas organizadores e tinham uma forte ligação com o comunismo anárquico e atuaram
como importantes divulgadores dos seus princípios no Brasil da primeira cada do século XX,
ao publicarem no jornal artigos de Kropotkin, Malatesta e Reclus e também vendendo livros e
opúsculos desses autores por meio da Biblioteca da Terra Livre.
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
11
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
O SINDICALISMO REVOLUCIONÁRIO E A ESCOLHA PELA NEUTRALIDADE
SINDICAL
Em fins de 1905, quando surgiu o jornal A Terra Livre, o anarco-comunismo existia
há algumas décadas como uma corrente bem definida, mas o mesmo processo de consolidação
ainda não havia ocorria com o sindicalismo de intenção revolucionária, que se encontrava nesse
contexto em pleno processo de constituição como um meio de luta do movimento operário
organizado, tanto no que se refere ao anarcossindicalismo, quanto ao sindicalismo
revolucionário. Os editores do jornal acompanharam atentamente esse processo histórico e,
mesmo que não discutindo isso massivamente, se posicionaram pela neutralidade sindical e
adotaram o sindicalismo revolucionário, se mantendo firmes em não querer que os sindicatos
se vinculassem de forma estreita uma ideologia, permanecendo como instituições livres a todos
os trabalhadores.
Ainda que em se em princípio o anarcossindicalismo não existisse com esse nome, ele
teve suas origens na Argentina, com os anarquistas hegemonizando a Federación Obrera
Argentina (FOA) e, logo em seguida, também alcançou o Uruguai e outros lugares da América
Latina e Europa.
9
Em 1903 foi realizado o III Congresso da FOA, no qual se observava
claramente a hegemonia dos anarquistas, como nas resoluções que declaravam que os
trabalhadores jamais deveriam enviar petições aos poderes públicos e que a luta política
parlamentar deveria ser negada. Já com o seu V Congresso realizado em 1905, a FOA muda o
seu nome para Federación Obrera Regional Argentina (FORA) e aprova a recomendação de
divulgar os princípios ideológicos do comunismo anarquista entre os trabalhadores
(SANTILLAN, 2005, p. 151). Em 1905 surgiu a Federación Regional Uruguaya (FORU),
que inspirada na FORA também adotou o comunismo anárquico como finalidade a ser
alcançada pela luta do movimento operário.
Os anarquistas de A Terra Livre, durante o período de circulação do jornal, não
debateram a adoção do anarco-comunismo pelas organizações sindicais da Argentina e do
Uruguai. Somente em um momento posterior, já nas páginas do jornal A Voz do Trabalhador,
o órgão oficial da Confederação Operária Brasileira (COB), é que Neno Vasco vai se
9
A utilização do termo anarcossindicalismo se tornou algo comum por volta da década de 1920, com a organização
sindical espanhola Confederación Nacional del Trabajo (CNT), que surgiu em 1909: “A CNT não se definia como
sindicalista revolucionária, e sim anarcossindicalista. Isso queria dizer que a organização sindical vinculava
expressamente seus pontos de vista à ideologia anarquista, mesmo que não fosse obrigatório se declarar anarquista
para fazer parte da organização” (POMINI, 2021, p. 42).
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
12
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
posicionar de forma crítica à orientação da FORA e também da Federação Operária Local de
Santos (FOLS), que influenciada pelas organizações sindicais anarquistas uruguaias e
argentinas, adotou o anarquismo como finalidade política. Em um artigo publicado em A Voz
do Trabalhador no ano de 1913, por exemplo, Vasco acusa a FOLS de estar importando da
Argentina uma doutrina divisora do operariado e que está em contradição com o anarquismo e
o movimento sindical:
Tenho visto defendido pelo jornal Germinal e expressa numa “declaração de
princípios” da Federação Operária de Santos uma doutrina que me parece estar
em contradição, não só com as bases e necessidades da organização de classe
do proletariado, mas ainda poderia dizer, e sobretudo com o anarquismo.
Mal inspiradamente importada da Argentina, onde ela é causa de divisão do
operariado num terreno onde este pode e deve estar unido, essa doutrina
consiste em fazer adotar nos estatutos e congressos sindicais o comunismo
anarquista como finalidade dos sindicatos e suas federações (VASCO, 2014
[1913], p. 35).
O sindicalismo revolucionário, por sua vez, surgiu na França, por volta de 1902, quando
a Fédération des Bourses du Travail (FBT) veio a se fundir com a CGT.
10
A primeira bolsa
de trabalho surgiu em 1886 na cidade de Paris e tinha por objetivo funcionar como uma espécie
de agência de emprego e organização fraternal dos trabalhadores e, logo nos anos seguintes,
apareceram várias bolsas de trabalho por todo território francês e que recebiam auxílio
financeiro dos governos municipais para funcionar. Em 1892 foi formada a FBT, por meio da
união de várias federações locais de bolsas de trabalho, e, em 1894, essa organização
demonstrava que havia se radicalizado, quando realizou um congresso em Nantes em que
convocou as bolsas de trabalho a realizarem uma greve geral e recomendou que separassem as
atividades de luta econômica dos trabalhadores dos partidos políticos (MITCHELL, 1990, p.
28).
A CGT foi fundada em 1895 quando militantes operários organizaram um congresso
na cidade de Limoges com o intuito de fundar uma nova central sindical a nível nacional.
Poucos anos após a sua fundação, a CGT realizou em 1898 um importante congresso em
Rennes em que se debateu o alcoolismo entre os trabalhadores, a campanha pela jornada diária
10
Embora tenha surgido no início do século XX, o sindicalismo revolucionário é um herdeiro direto do movimento
anarquista militante da AIT: “James Guillaume escrevia, em 1905, que a Confederação Geral do Trabalho da
França era a continuação da Primeira Internacional. Todavia, na Primeira Internacional, só uma tendência, que se
tornou majoritária, defendeu o conjunto dos princípios que sempre constituirão o corpo da doutrina do sindicalismo
revolucionário, aquela do socialismo federalista-antiautoritário cujo criador, inspirador e animador principal foi
Bakunin” (LEVAL, 2007, p. 22).
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
13
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
de 8 horas e a semana de cinco dias e meio de trabalho. Nesse congresso os anarquistas
estiveram presentes e se fizeram notar. Émile Pouget, que era um anarquista e operário têxtil,
influenciou decisivamente a CGT a adotar a tática da sabotagem como arma de luta do
movimento operário (MITCHELL, 1990, p. 28).
Em 1902 é realizado um congresso em Montpellier em que a FBT escolhe se fundir
com CGT (MITCHELL, 1990, p.28). Para muitos historiadores é dessa união que surge o
sindicalismo revolucionário, que tem na Carta de Amiens de 1906 o seu principal documento
definidor de princípios e estratégias de luta. A Carta de Amiens estabelece em suas resoluções
os seguintes pontos: os sindicatos revolucionários devem agrupar todos os trabalhadores
independentemente da escola política que seguem, a luta de classes em torno dos interesses
econômicos, a luta pelas melhorias das condições de vida dos trabalhadores, a defesa da greve
geral como meio de combate aos patrões; e que os sindicatos, que no sistema capitalista são
órgãos de resistência, serão após o processo revolucionário os novos responsáveis pela
organização da produção e distribuição das riquezas (MAITRON, 2003, p. 157-158).
Entre fins de 1905 e 1906, período em que ocorre a consolidação do sindicalismo
revolucionário no Brasil, marcado pela realização do Primeiro Congresso Operário Brasileiro
em 1906, no Rio de Janeiro, A Terra Livre atuou como um importante difusor do modelo
sindicalista revolucionário. O jornal procurou trazer textos que confrontavam os modelos
sindicais em diversas partes do mundo com o sindicalismo que surgiu com a CGT francesa. As
organizações operárias alemãs hegemonizadas pela socialdemocracia eram vistas como
compostas por milhares de associados, porém, apesar de toda essa grandeza, eram incapazes
de ir além do reformismo e dos limites da política institucional.
11
A Terra livre também
dedicou críticas similares aos trade unions ingleses e as organizações sindicais reformistas
estadunidenses:
Especialmente nos Estados Unidos e na Inglaterra a sociedade operária é uma
espécie de aristocracia do trabalho. As corporações de ofício agem
isoladamente e a sua ação reduz a melhoramentos em favor dos associados,
sem mesmo tender a abolição do privilégio capitalista. A trade union
(expressão inglesa: união de ofício) faz política parlamentar, apoiando o
candidato que mais promessa lhe fazer, seja qual for o seu partido! Este “trade
unionismo” vai morrendo por culpa dos seus erros e defeitos (A TERRA
LIVRE, 13/01/1906, p. 01).
11
O jornal nos relata o seguinte sobre o sindicalismo alemão: “Por isso não como a Alemanha para mostra a
impotência tanto da formula mutualista e legalista da organização econômica, como da forma parlamentar da luta
e organizações políticas. Com um milhão de associados nas organizações econômicas, com bem providas caixa,
com três milhões de eleitores e mais de oitenta deputados socialistas, o proletariado alemão não um passo
reformístico para fora da estrita legalidade dum império militarista e semi-autocrata” (ATL, 12/04/1906, p.03).
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
14
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
o sindicalismo revolucionário do modo que surgiu na França, abertamente contrário
ao capitalismo e à política estatal, é percebido como o modelo ideal:
A sociedade de resistência mais perfeita e a mais completa, embora não sem
defeitos, é o “sindicato” francês, aderente a Confederação Nacional Geral do
Trabalho. É puramente de resistência, facilitando a entrada a todos,
procurando agrupar o maior número, mas sem por isso deixar de agir
constantemente. Trata de conquistar melhoramentos (sobretudo redução de
horas), fazendo assim exercício para a greve geral revolucionário e para a
expropriação dos meios de produção e de transporte. Não aceita a política
parlamentar, fazendo, porém, luta política (contra o Estado, contra o governo,
desde o ministra a polícia, mas especialmente contra o militarismo) pois o
poder político é defensor do capitalismo. Mas essa luta (assim como a
econômica é pela ação direta, operária, e não indireta por meio dos deputados
no parlamento (IBIDEM).
Após o Congresso de Amiens, surgiu da parte de alguns jovens militantes operários que
vieram do anarquismo, uma nova concepção sobre o sindicalismo revolucionário. Eles passaram
a observar o sindicalismo revolucionário como uma corrente política autônoma, distanciada do
anarquismo e do socialismo parlamentar. Entre 24 e 31 de agosto de 1907, é realizado o
Congresso Anarquista de Amsterdã em que ocorre o conhecido debate entre o veterano
militante anarquista Errico Malatesta, de 53 anos, com o jovem militante Pierre Monatte, na
época com 25 anos, representando essa nova posição sobre o sindicalismo revolucionário. Nesse
debate, ficaram bastante explícitas as divergências entre os militantes e grupos anarquistas, que
viam nos sindicatos importantes meios de luta, mas que nunca dariam conta de substituir o
anarquismo como finalidade a ser alcançada, dos jovens sindicalistas franceses, que agora viam
o sindicalismo revolucionário como uma nova ideologia que se bastava a si próprio.
Nesse debate, Monatte (1981) [1907] destacou que existem vários pontos de
convergência entre o anarquismo e o sindicalismo revolucionário, sendo que ambos se
influenciavam mutuamente, e o primeiro havia colaborado em muitos aspectos para o
desenvolvimento do corpo de princípios que geria as bases do segundo. Apesar de destacar os
pontos de contato entre o anarquismo e o sindicalismo, Monatte salienta que o segundo era uma
nova corrente política: “a doutrina que no sindicato um órgão de transformação social e a
greve geral como o meio de obtê-la”. (MONATTE, 1981 [1907], p. 200). Mesmo sendo uma
doutrina com finalidades próprias, Monatte também procurou destacar que o sindicalismo
revolucionário não é excludente e nem autoritário, muito pelo contrário, aceita que os militantes
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
15
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
das mais diversas correntes políticas, como anarquistas e socialistas, se façam presentes nos
sindicatos, desde que não tentem impor as suas ideologias a outros trabalhadores.
A Terra Livre, que tinha uma afinidade de ideias com Malatesta, publicou na íntegra a
opinião desse autor sobre esse debate. Errico Malatesta, em resposta a Monatte, destacou que o
sindicalismo era um fato real da sociedade capitalista que não podia ser ignorado e que os
militantes libertários deveriam adentrar nas organizações operárias para difundir a ideologia
anarquista entre os trabalhadores. Apesar de ver no sindicalismo um meio de atuação anarquista,
Malatesta, assim como Monatte, acreditava que os sindicatos deveriam ser livres e neutros,
abertos aos trabalhadores de todas as tendências políticas: “Quero sindicatos largamente abertos
a todos os trabalhadores que começam a sentir a necessidade de se unir com os seus camaradas
para a luta contra o patronato” (MALATESTA, ATL, 10/02/1908, p. 03). Entretanto, na
concepção de Malatesta, os sindicatos mesmo que adornados com o rótulo de revolucionários,
não podem ser mais que um movimento que luta pelas melhorias econômicas dos trabalhadores
e pela conquista de algumas liberdades, sendo incapazes de substituir o papel revolucionário dos
anarquistas, que consiste em “manter sempre ardente o fogo do ideal e orientar tanto quanto
possível todo o movimento no sentido das conquistas do futuro, no sentido próprio da revolução”
(MALATESTA, ATL, 10/02/1908, p. 03).
Na época de circulação do jornal A Terra Livre, não havia no Brasil um grupo expressivo
como o de Pierre Monatte na França, que sustentava que o sindicalismo revolucionário era uma
corrente política que se bastava a si próprio. Muito pelo contrário, o sindicalismo revolucionário
brasileiro da Primeira República, assim como sustenta Tiago Bernardon de Oliveira (2018),
parece ter sido muito mais um meio de atuação no movimento operário fortemente vinculado aos
anarquistas organizadores, que instrumentalizavam os meios de atuação da CGT francesa, mas
que não se esqueciam das lições de Errico Malatesta, que sustentava que apesar da importância
dos sindicatos, estes nunca seriam capazes de suplantar o papel dos militantes anarquistas e da
ideologia anarco-comunista, que permanecia no horizonte como a finalidade última a ser
alcançada.
12
12
Edilene Toledo (2004, p. 51) afirma que São Paulo teve o seu Monatte, que foi o italiano Giulio Sorelli, que
segundo a autora sustentava teorias anarquistas, mas na prática atuava como sindicalista revolucionário junto a
FOSP. Mas analisando o jornal Il Libertario, que tinha Sorelli como redator, chegamos à conclusão de que ele
fazia parte do anarquismo organizador paulista, que instrumentalizava o sindicalismo revolucionário, mas sem
esquecer os fins anarquistas, diferente de Monatte, que queria que o sindicalismo superasse o anarquismo como
ideologia política: “Pur tenendo fisso lo sguardo e dedicandoci al fine al qual miramo, alla realizzazione delle
nostre aspirazioni, all’Anarchia, non trascureremo completamente il movimento associativo operaio del quale
dobbiamo riconoscere l’utilita coeficiente, ma procureremo orientarlo, coi consigli e colla discussione, in quella
manera che, secondo noi, è la migliore perchè possa dare tutto il suo aiuto alle idee di rivendicazione umana”
(SORELLI, Il Libertário, 10/10/ 1906, p. 01).
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
16
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
Entre os dias 15 de 22 de abril de 1906 é realizado o Primeiro Congresso Operário
Brasileira no Centro Galego do Rio de Janeiro, contado com 43 delegados representando 28
associações operárias de várias partes do Brasil (SAMIS, 2009, p.135). Os preparativos para
esse encontro começaram em fins de 1905, sendo que no mês de novembro desse ano circulava
pela imprensa uma convocatória ao I Congresso Operário Brasileiro, a ser realizado no então
Distrito Federal, no qual poderiam tomar parte os elementos socialistas, ficando de fora os
militantes revolucionários (OLIVEIRA, 2018, p. 215). Os anarquistas, mesmo que não
convocados para esse evento, se fizeram presentes e tiveram uma participação decisiva para que
o congresso adotasse as teses do sindicalismo revolucionário, que estabeleciam a
descentralização, a greve geral, o modelo organizativo federalista, a ação direta, a neutralidade
sindical e autonomia operária frente aos partidos políticos (SAMIS, 2009, p.135).
13
A Terrra Livre acompanhou atentamente a realização do Primeiro Congresso Operário
Brasileiro e certamente os seus colaboradores tiveram uma participação bastante significativa
para que o sindicalismo revolucionário predominasse nesse evento. Na edição de 24 de março
de 1906 o jornal anunciava que as ligas de resistência vinculadas a Federação Operária de São
Paulo (FOSP) por meio de uma reunião escolheram Julio Sorelli, Manuel Moscoso e Edgard
Leuenroth como representantes das organizações sindicais paulistas no congresso operário
(ATL, 24/03/1906, 04).
14
Nota-se que esses três eram anarquistas, sendo que os dois últimos
eram estritamente vinculados ao grupo editor de A Terra Livre e, mesmo o primeiro, publicou
alguns artigos no jornal.
Após a realização do Primeiro Congresso Operário Brasileiro, o jornal A Terra Livre fez
uma avaliação totalmente positiva sobre o evento na edição de 13 de junho de 1906. O jornal
ficou bastante satisfeito que o Congresso não procurou se vincular ao anarquismo, mas agrupar
os trabalhadores pelos interesses econômicos que tinham em comum:
O Congresso não foi, de certo, uma vitória do anarquismo. Não o devia ser. A
internacional, desfeita por causa das lutas de partido no seu seio, deve ser
memorável lição para todos. Se o Congresso tivesse tomado um caráter
libertário, teria feito obra de partido, não de classe. O nosso fim não é
constituir duplicadas dos nossos grupos políticos.
13
No campo prático, o Congresso decidiu pela criação da Confederação Operária Brasileira, que entrou em
funcionamento dois anos depois e pela criação do jornal A Voz do Trabalhador, como seu órgão de imprensa
(SAMIS, 2009, p. 135).
14
Todavia, as resoluções do Primeiro Congresso Operário apontam que o número de representantes de FOSP foi
maior: Pela Federação Operária de São Paulo, representando seis sindicatos, Fernando Frejeiro, Manoel
Domingues de Almeida, Giulio Sorelli, Edgard Leunroth, Ulysses Martins, Caralampio Trillas, Carlos Dias,
Manoel Moscoso, Fernando Bondad e Jose Sarmento” (PINHEIRO; HALL, 1979, p. 44).
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
17
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
Ainda mesmo que, hipótese pouco provável, o sindicato, abrangendo a
totalidade ou quase totalidade da corporação, fosse todo composto de
anarquistas, ele não deveria declara-se anarquista e fechar as suas portas aos
outros trabalhadores, com ideias políticas diversas, mas com interesses
econômicos idênticos (ATL, 13/06/1906, p. 04).
A Terra Livre também nos demonstra que mesmo o congresso não se filiando ao
anarquismo, foi indiretamente benéfico à causa libertária, pois serviu para que muita gente
deixasse de ter uma visão depreciativa sobre os anarquistas:
Mas se o Congresso não foi à vitória do anarquismo, foi, porém indiretamente
útil a difusão das nossas ideias. Muita gente, graças a uma lenda, filha da
ignorância e da malícia, forma dos anarquistas um conceito estranho e
supersticioso: fisicamente, imagina-os monstros, de pelo hirsuto, olhos
esgazeados, berro atroadores, com as mãos cheias de dinamite. Ora ao publico
viu-os, e a imprensa se encarregou de os mostrar ainda mais. Um jornal diz,
com espanto ingênuo:
È de justiça que se saliente que a harmonia reinante nesta numerosa
assembleia, onde no mais aceso das discussões não foi quebrada a linha de
conduta compatível com homens laboriosos e animados pelo sincero desejo
de que dos seus trabalhados resulte verdadeiro benefício para as dignas classes
interessadas.
Uma coisa, entretanto, se tornou notável: - o elemento em cujo seio mais
ponderação se manifestava era justamente no grupo dos anarquistas, que ali
estão representados em grande número. Nas dúvidas, acaso surgido, nos
naturais atritos verificados no correr dos debates, era sempre o elemento
anarquista o apaziguador conciliando, explicando os mínimos detalhes
(IBIDEM).
Em São Paulo o processo de consolidação do sindicalismo revolucionário começou a
ocorreu em fins de 1905, quando surgiu a FOSP. O jornal dos carpinteiros foi quem teve a
iniciativa de propor a reunião das diversas organizações sindicais de São Paulo em uma
federação operária sobre objetivos comuns e que tivesse como um dos seus fins colaborar para
que novas ligas de resistência viessem a surgir (TOLEDO, 2004a, p. 72).
15
A FOSP se constitui
em novembro de 1905 com cinco ligas aderentes e teve como seu primeiro secretário o anarquista
Julio Sorelli. Já no ano seguinte, a organização colaborou para que surgissem novos sindicatos
(TOLEDO, 2004a, p.75).
15
A historiadora Edilene Toledo (2004a, p. 72-73) destaca que a proposta da formação da FOSP partiu dos próprios
trabalhadores e não dos grupos políticos de São Paulo que tinham seus próprios jornais: “É interessante observar
aqui que a proposta de formação de uma federação para coordenar as atividades das diversas ligas existentes
não parte do grupo socialista do Avanti! e nem dos anarquistas de A Terra Livre, mas dos próprios trabalhadores
ligados ao grupo do jornal o Carpinteiro”. Entretanto, se a FOSP surgiu em novembro de 1905 e A Terra Livre
teve a sua primeira edição em dezembro desse mesmo ano, não teria mesmo a possibilidade de um jornal que nem
existia ter colaborado para formar uma organização que surgiu um pouco antes.
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
18
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
No período de circulação de A Terra Livre, a FOSP realizou dois importantes encontros
estaduais, o primeiro em dezembro de 1906 e o segundo em abril de 1908, nota-se que nesses
congressos os anarquistas também foram figuras marcantes. Na edição de 22 de setembro de
1906 A Terra Livre publicou um manifesto da FOSP convidando os “mais ativos elementos do
interior do Estado” a tomar parte no Primeiro Congresso Operário Estadual de São Paulo a ser
realizado em fins desse ano (ATL, 22/09/1906, p. 04). O Primeiro Congresso Operário Estadual
aconteceu entre os dias 6, 7 e 8 de dezembro de 1906 e as suas resoluções foram inspiradas no
sindicalismo revolucionário e no Primeiro Congresso Operário Brasileiro, que ocorreu alguns
meses antes. Mesmo que reclamando da falta de discussão prévia antes de ser realizado o
encontro, A Terra Livre observou de modo positivo a realização do congresso operário: “Em
todo caso, alguma coisa se ganhou, ao menos travou-se um conhecimento mais íntimo entre os
elementos ativos das localidades do estado onde organizações que puderam enviar
representantes” (ATL, 22/12/ 1906, p. 01).
o segundo Congresso Operária Estadual de São Paulo ocorreu entre os dias 17, 18 e
19 de abril de 1908, contando com a participação de sindicatos de várias cidades de todo o
Estado, como São Paulo, Campinas, Amparo, Santos, Jundiaí, São Bernardo, Espírito Santo do
Pinhal e Limeira. Nesse encontro foram discutidos temas que estavam intrinsecamente
relacionados ao sindicalismo revolucionário, tais como a neutralidade sindical, a autonomia
operária frente aos partidos políticos, o antimilitarismo, a sabotagem e temas de interesse geral
dos trabalhadores, como a instrução popular e o trabalho de menores nas fábricas.
16
Alguns dos
principais debates nesse encontro foram travados entre os anarquistas e os socialistas, como o
que ocorreu em torno da acusação do militante socialista Lorenzo Monaco de que a FOSP tinha
um viés anarquista, sendo logo contraposto por três libertários, Sorelli, Leuenroth, e Atílio Gallo,
que defendiam a neutralidade da organização, mesmo reconhecendo a importância dos
anarquistas no sindicalismo revolucionário paulista:
Monaco Nada tem a dizer a respeito da relação porque esteve for a de São
Paulo por muito tempo. Limita-se a citar frases de um manifesto publicado
pela Federação dois anos e meio. Diz que a Federação tem caráter
anarquista, coisa esta que prejudica o movimento por ser contrária às ideias
de uma parte dos operários.
Sorelli O Monaco não deve-se limitar a fazer afirmações, mas deve trazer
fatos. Convido o companheiro a citar um caso em que a Federação tenha
abandonado a sua neutralidade.
16
Os dados completos sobre o Segundo Congresso Operário de São Paulo se encontram nos suplementos da
edição do dia 1 de maio de 1908 do jornal A Lucta Proletaria, que era o órgão oficial da FOSP.
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
19
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
Edgard Os atos da Federação se discutem sempre que seja preciso e não se
espera para isto a realização de um congresso. A relação da Federação é
apenas uma ata e se deve discutir se os fatos citados são ou não verdadeiros.
Acho que não se dever continuar a discussão sobre o caminho pelo qual foi
enveredado.
Gallo- É do parecer do Edgard.
Sorelli Não está de acordo com Edgard e crê que a discussão continue.
Edgard Responde ao Monaco: Os anarquistas foram até agora os mais ativos
no movimento operário e é muito natural que eles procurem desenvolver ali a
propaganda de suas convicções. Por que os críticos não fazem o mesmo e não
vêm ao movimento para também ter a facilidade de divulgar as suas
publicações? (A LUCTA PROLETÁRIA, 01/05/1908, p. 04).
Edilene Toledo (2004b, p. 297) sustenta que no ano de 1906 existiam três jornais
anarquistas em São Paulo e que tinham perspectivas distintas sobre o sindicalismo:
O grupo anarquista do jornal A Terra Livre acusava os anarquistas adeptos do
sindicalismo revolucionário, que se reuniam em torno do jornal Il Libertario,
dirigido por Sorelli, de terem abandonado o anarquismo. O jornal A Terra
Livre argumentava que era necessário estar em meio aos trabalhadores, mas
para fazer propaganda do anarquismo e não para lutar por um programa
mínimo de conquistas, seguindo as ideias do anarcocomunismo de Malatesta,
que vimos no primeiro capítulo. Os sindicalistas do Il Libertario respondem
que viam nas associações, além das conquistas imediatas, uma escola de
consciência e, sobretudo, um terreno de luta real e que não acreditavam errar
ao participar do movimento operário, ainda que esta não correspondesse as
ideais anarquistas. Os anarquistas do La Battaglia, no mesmo período,
afirmavam que não era possível equilibrar as teorias anarquistas com a prática
sindicalista. Os sindicalistas do Il Libertario responderam que os próprios
“puritanos do anarquismo” não mantinham a coerência e que as condições do
ambiente não permitiam a ninguém manter a coerência, ou seja, argumentam
que era possível ser anarquista na teoria, como eles se declaravam, mas não
na prática. Portanto, os anarquistas reunidos no jornal Il Libertário, que na
prática atuavam no sindicato como sindicalistas revolucionários, enfrentavam
duras polêmicas tanto com os anarquistas do La Battaglia quanto como os do
A Terra Livre, que achavam que os sindicatos deveriam ser anarquistas e,
seguindo claramente as ideias de Malatesta, que os anarquistas deveriam fazer
propaganda nos sindicatos.
Do nosso ponto de vista, a análise dessa autora merece algumas objeções, tanto no que
se refere à afirmação de que o jornal A Terra Livre acreditava que os sindicatos deveriam ser
anarquistas, quanto na análise que ela realizou sobre a polêmica que envolveu Il Libertario e A
Terra Livre
17
17
Il Libertario foi um jornal anarquista redigido em italiano que teve apenas três edições entre outubro de
dezembro de 1906 e possuía um viés organizacional. O responsável pela administração do jornal era Francisco de
Paola e o redator Giulio Sorelli.
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
20
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
A oposição entre esses dois jornais anarquistas se iniciou quando Il Libertario afirmou
na sessão La colonna delle domande que havia recebido um cartão postal assinado com as
siglas X.Z., perguntando se os anarquistas deveriam fazer parte das associações operárias que
estabeleciam que, para se trabalhar em uma oficina, os trabalhadores deveriam estar
sindicalizados.
18
O jornal responde que na medida do possível era preferível não recorrer a
métodos coercitivos, mas que as condições do ambiente podem levar a necessidade de medidas
mais drásticas, admitindo que, se fosse do interesse geral dos trabalhadores organizados, seria
justo que o sindicato estabelece que, para se trabalhar em um determinado local a filiação sindical
fosse obrigatória (IL LIBERTARIO, 06/11/1906, p. 03). A Terra Livre discordou dessa posição,
argumentando que o sindicato é um grupo de ação que deve ser organizado pela solidariedade
voluntária e não por um “arrebanhamento forçado” [sic], se colocando assim contra essas
medidas autoritárias: “A coação exercida sobre os não associados gera ódios e crumiros [sic],
prontos a aproveitarem a primeira greve se a sociedade operária lhes fechou a portas da oficina”
(ATL, 27/11/1906, p. 01).
Il Libertario, contrapondo a afirmação de A Terra Livre citada acima, sustentou que as
condições concretas podem levar a medidas que não são coerentes com a ideologia anarquista,
como a defesa da sindicalização forçada como garantia de trabalho em uma dada oficina ou
fábrica. O jornal cita que na Europa e, principalmente na França, essa prática tem tido êxito na
luta contra a arrogância capitalista e os riscos dos “trabalhadores inconscientes” boicotarem a
organização sindical foi eliminada. Argumenta ainda que a organização forçada seria até bom
para os próprios "trabalhadores inconscientes”, pois eles terão meios de estudar os propósitos
das sociedades de resistência e entenderão que a imposição foi feita em seu próprio benefício,
porque a organização sindical é a defesa dos seus próprios interesses (IL LIBERTÁRIO,
01/12/1906, p. 01-02).
A discussão termina em 9 de dezembro de 1906, com a réplica de A Terra Livre, que
o Il Libertorio, teve a sua última edição publicada em 1 de dezembro de 1906. A Terra Livre
destacou que Il Libertario cometeu um equívoco ao analisar o sindicalismo na França, pois
essas práticas autoritárias não eram vigentes:
E quanto aos sindicatos franceses, francamente a nossa surpresa subiu de
ponto! Pois se foi precisamente em França onde teve vôo, senão origem o
sindicalismo revolucionário, federalista e autonomista, o direito sindical,
18
Edilene Toledo (2004b) cita como fonte de referência para o debate entre esses dois jornais a edição de 1 de
dezembro de 1906 de Il Libertario, já da nossa parte recuperamos o debate na integra por meio de uma análise de
ambos os jornais.
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
21
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
baseado sobre a iniciativa das minorias ativas, sobre a voluntariedade! Leiam,
por exemplo, a este propósito, As bases do sindicalismo, de Pouget, sobretudo
o último capítulo. Em discussão com os alemães, La Voix du Peuple mostrou
várias vezes até com frios algarismos que não dizem tudo, porém- a
superioridade do sindicalismo francês, menos numeroso e endinheirado, mas
mais ativo, mais ardente, mais revolucionário, do que as pesadas organizações
alemãs, muito mais numerosas e ricas, mais inertes e pouco vitoriosas (ATL,
09/12/1906, p. 01).
A partir do que foi citado acima, chegamos à conclusão de que o debate não ocorreu
devido ao fato de o grupo de Il Libertario sustentar teorias anarquistas e na prática atuar como
sindicalista revolucionário, sendo contraposto por A Terra Livre, que argumentava que os
sindicatos deveriam ser espaços de propaganda anarquista; mas por outros motivos que não
foram elencados por Toledo (2004b).
Do nosso ponto de vista, a discussão envolveu dois jornais anarquistas de um viés
organizativo, que em seus grupos editoriais contavam com militantes atuantes nas organizações
sindicalistas revolucionárias paulistas. O epicentro da discussão foi o fato de Il Libertario
acreditar que em dadas ocasiões, mesmo que contrariando a ideologia anarquista, medidas
autoritárias podem ser tomadas pelo movimento operário, como a filiação sindical compulsória,
para se trabalhar em uma oficina ou fábrica, enquanto que A Terra Livre era contra esses meios,
pois observando o caso do sindicalismo revolucionário francês, acreditava que a solidariedade
sindical não poderia ser forçada e era mais vantajoso sindicatos menores e compostos por
minorias atuantes do que organizações com grande número de filiados e que não envolviam
militantes comprometidos seriamente com a causa operária. Assim, A Terra Livre não acusou
os anarquistas de Il Libertário de terem abandonado a ideologia, mas sim de serem autoritários:
Diz nos que essas ideias foram sustentadas e praticadas antes deles por muitos
anarquistas de indiscutível sinceridade. Não o sabíamos! Quem foram eles?
Se existem, não duvidaremos da sua sinceridade, como não duvidamos da dos
camaradas do Libertário, não os acusaremos de crime lesa anarquia, mas
diremos que defendemos contra a sua doutrina autoritária e de velho
corporativismo, trade-unionista, as ideias libertárias e neo-sindicalistas!
(IBIDEM).
Em contraposição à afirmação de Edilene Toledo (2004b) que A Terra Livre defendia
sindicatos anarquistas, no nosso entendimento, o jornal foi sempre enfático em defender a
neutralidade sindical:
Um “sindicato anarquista”, ou deixaria de ser sindicato, aberto a todos os
operários, assim como a livre propaganda de todas as ideais e a todas as
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
22
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
iniciativas de ação operária, e nesse caso seria um simples grupo político, faria
franca propaganda anarquista, e não teria vantagem de trazer a ação as massas
menos conscientes; ou seria um sindicato com um anarquismo fictício, de
surpresa, contradizendo-o e prejudicando a cada momento (AT L, 09/01/1908,
p. 01-02).
Analisando a trajetória de A Terra Livre, podemos concluir que não para defender a
ideia de que era adepto de concepções anarcossindicalistas, muito pelo contrário, o
posicionamento do jornal era de que as organizações operárias deveriam seguir o modelo
sindicalista revolucionário francês e ser neutras, estando abertas a todos os trabalhadores que
espontaneamente quisessem se filiar ao sindicato. Porém, mesmo que abertos a todos, sem
distinção de ideologia ou crença, o jornal acreditava que os sindicatos eram um espaço
importante para os militantes anarquistas atuarem e divulgarem as suas ideias a fim de que um
dia o movimento operário organizado tomasse parte no processo revolucionário que daria fim à
sociedade burguesa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na década de 1980, surgiram alguns estudados historiográficos que buscaram analisar o
anarquismo em São Paulo e acabaram por classificar A Terra Livre como um jornal
anarcossindicalista, que fazia uma contraposição à perspectiva dos anarco-comunistas do jornal
La Battaglia, que era contrário à organização sindical. Embora, essa perspectiva historiográfica
tenha colaborado em trazer à tona as discussões entre os grupos anarquistas que tinham pontos
de vista divergentes sobre o movimento operário organizado, nós acreditamos com base na
análise de todas as edições do jornal A Terra Livre, que o mesmo não pode ser classificado como
anarcossindicalista e nem mesmo como contrário ao anarco-comunismo.
O anarco-comunismo, como podemos observar com base nos textos de Kropotkin, Reclus
e Malatesta que aparecem em A Terra Livre, não pode ser visto como equivalente a uma corrente
dentro do anarquismo que é contrário aos sindicatos, pois é, de fato, uma interpretação sobre a
sociabilização dos bens em uma sociedade que haveria superado o modo capitalista de
produção. Essa perspectiva surgiu entre os anarquistas que passaram a pautar que o modo mais
justo de distribuição das riquezas seria por meio da retribuição dos bens baseada nas
necessidades pessoais e coletivas, e o com base no trabalho individual realizado, como
preconizava os anarquistas coletivistas.
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
23
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
As ideias anarco-comunistas foram dominantes no Brasil da Primeira República,
influenciando militantes anarquistas organizadores e antiorganizadores. Embora A Terra Livre
não se definisse explicitamente como anarco-comunista, o jornal foi um grande difusor dessa
corrente, ao publicar vários textos de autores anarco-comunistas de fama internacional, como
Reclus, Malatesta e Kropotkin e também publicando e vendendo vários livros, panfletos e
opúsculos desses militantes por meio da Biblioteca da Terra Livre, que era mantida pelos
editores do próprio periódico. Portanto, não sentido em colocar A Terra Livre como contrário
ao anarco-comunismo, mas sim como um adepto dessa causa.
Mesmo o anarco-comunismo permanecendo como a corrente dominante entre
praticamente todos os anarquistas de São Paulo, havia uma divergência sobre como chegar a essa
finalidade revolucionária entre os antiorganizadores de La Battaglia e os organizadores de A
Terra Livre. Se, para o primeiro grupo, os sindicatos eram apenas reformistas e legitimadores da
ordem dominante, para os segundos, mesmo que lutando por melhorias e direitos básicos,
eram um espaço em que os anarquistas deviam estar para lutar junto aos trabalhadores e
divulgarem as suas ideias.
Na luta pelo advento da sociedade anarquista, os militantes envolvidos com A Terra Livre
procuraram se inspirar no modelo sindicalista revolucionário francês, que pautava que,
inflexivelmente ligadas à luta de classes por melhorias econômicas, as organizações sindicais
não deviam se vincular a uma corrente política, mas se manterem neutras, unindo os
trabalhadores pelos interesses sociais e econômicos que tinham em comum. Ainda que se
mantivessem neutros em seus estatutos, os sindicatos eram vistos como espaços abertos ao livre
debate, estando os anarquistas presentes e divulgando as suas ideias entre os trabalhadores com
o objetivo de que um dia as organizações operárias caminhem para a revolução social. Ao
escolher o modelo sindicalista revolucionário, o jornal se, manteve contrário ao
anarcossindicalismo, ao considerar que adoção do anarquismo por uma organização de caráter
de luta econômica, como os sindicatos, seria uma medida autoritária que afastaria muitos dos
trabalhadores que são adeptos de outras perspectivas políticas.
O jornal A Terra Livre, entre fins de 1905 e 1910, se configurou como um dos mais
importantes jornais anarquistas de viés organizativo do Brasil. Ele teve um papel importante na
divulgação das ideias anarco-comunistas e na consolidação do sindicalismo revolucionário como
estratégia de luta do movimento operário em âmbito nacional, tanto através da participação dos
seus editores e colaboradores nas organizações sindicais e encontros operários, quanto através
da divulgação dos métodos de luta preconizados pela CGT na França.
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
24
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
REFERÊNCIAS
A LUCTA PROLETARIA. Suplemento ao N. 14 da Luta Proletaria: Relação do Segundo
Congresso Operário Estadual. A Lucta Proletária. São Paulo, ano III, nº 14, 1 mai. 1908. p.
4.
A TERRA LIVRE. A Conferência Operária. A Terra Livre. São Paulo, ano I, n º 23, 22 dez.
1906. p. 1.
A TERRA LIVRE. A Terra Livre Semanal. A Terra Livre. São Paulo, ano II, nº 33, 10 mai.
1907. p. 1.
A TERRA LIVRE. Acaba de aparecer o Comunismo Anárquico por Pedro Kropotkine. A
Terra Livre. São Paulo, ano III, nº 54, 09 jan. 1908. p. 4.
A TERRA LIVRE. Associação forçada ou voluntária? A Terra Livre. São Paulo, ano I, nº
21, 27 nov. 1906. p. 1.
A TERRA LIVRE. Associação forçada ou voluntária? A Terra Livre. São Paulo, ano I, nº
22, 09 dez. 1906. p. 1.
A TERRA LIVRE. Atenção. A Terra Livre. São Paulo, ano III, nº 64, 03 set. 1908. p. 4.
A TERRA LIVRE. Dentro das associações. A Terra Livre. São Paulo, ano I, nº 6, 24 mar.
1906. p. 4.
A TERRA LIVRE. Federação Operária de S. Paulo. A Terra Livre. São Paulo, ano I, nº 17,
22 set. 1906, p. 4.
A TERRA LIVRE. Generalidades. A Terra Livre. São Paulo, ano I, nº 1, 01 dez. 1905. p.01.
A TERRA LIVRE. Movimento operário e aspirantes a chefes. A Terra Livre. Rio de janeiro,
ano III, nº 54, 9 jan. 1908. p. 1-2.
A TERRA LIVRE. Operários! Lêde o interessante livro de Eliseu Reclus. A Terra Livre. São
Paulo, ano I, nº 3, 7 fev. 1906. p. 3.
A TERRA LIVRE. Os sindicatos alemães. A Terra Livre. São Paulo, ano I, nº 17, 12 abr.
1906. p. 3.
A TERRA LIVRE. Pró-Rússia Livre. A Terra Livre. São Paulo, ano I, nº 2, 1 jan. 1906. p. 3.
A TERRA LIVRE. Sobre o congresso operário. A Terra Livre. São Paulo, ano I, nº 10, 13
jun. 1906. p.04.
A TERRA LIVRE. Sociedades de resistência. A Terra Livre. São Paulo, ano I nº 2, 13 jan.
1906. p.1.
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
25
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
ALVARENGA, Lucas Thiago Rodarte. Nos bastidores de um jornal anarquista: as
mobilizações de um grupo de propaganda para a publicação do jornal A Terra Livre (1905-
1910). Revista Latino-Americana de História, vol.7, n º19 jan./jul. de 2018, p.44-62.
BIONDI, Luigi. Anarquistas italianos e São Paulo: O grupo do jornal anarquista La Battaglia
e a sua visão da sociedade brasileira: o embate entre imaginários libertários e etnocêntricos.
Cad. AEL, Campinas-SP, n. 8/9, p.117-157, 1998. Disponível em:
https://we.riseup.net/assets/443512/anarquistas+italianos+em+sao+paulo.pdf. Acesso:
07/07/2022.
CORRÊA, Felipe. Bandeira negra: rediscutindo o anarquismo. Curitiba: Prismas, 2015.
CORRÊA, Felipe. O anarquismo e o sindicalismo de intenção revolucionária: da Associação
Internacional dos trabalhadores à emergência na América Latina. In: SANTOS, Kauna
Willian dos; SILVA, Rafael Viana (org.). História do anarquismo e do sindicalismo de
intenção revolucionária no Brasil: novas perspectivas. Curitiba: Prismas, 2018, p. 19-69.
IL LIBERTÁRIO. La colonna delle domande. Il Libertário. São Paulo, ano I, nº 2, 6 nov.
1906. p. 03.
IL LIBERTÁRIO. Per intenderci. Il Libertário. São Paulo, ano I, nº3, 1 dez. 1906. p. 1-2.
KHOURY, Yara Aun. Edgard Leunroth, anarquismo e as esquerdas no Brasil. In:
FERREIRA, Jorge; REIS, Daniel Aarão (org.). A formação das tradições (1881-1945). Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
KROPOTKIN, Piotr. A conquista do Pão. Rio de Janeiro: Achiamé, 2011.
LEVAL, Gaston. Bakunin, fundador do sindicalismo revolucionário. São Paulo:
Imaginário, 2007.
MAGNANI, Sílvia Ingrid Lang. O movimento anarquista em São Paulo (1906-1917). São
Paulo: Brasiliense, 1982.
MAITRON, Jean. Ravachol y los anarquistas. Madri: Huergay Fierro, 2003.
MALATESTA, Errico. O comunismo livre: diálogo. A Terra Livre. São Paulo, ano III, 25 nº
55, jan. 1908, p. 3.
MALATESTA, Errico. O Congresso de Amesterdam. A Terra Livre. São Paulo, ano III, nº
56, 10 fev. 1908. p. 3.
MALATESTA, Errico. Que querem então os anarquistas? A Terra Livre. São Paulo, ano IV,
nº 65, 01 jan. 1910. p. 3.
MITCHELL, Barbara. French syndicalism: an experimente in practical anarchism. In: VAN
DER LIDEN, Marcel; THORPE, Wayne. Revolutionary syndicalism an international
perspective. Brookfield, EUA: Gower Publishing Company, 1990. p. 25-41.
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
26
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
MONATTE, Pierre. Em defesa do sindicalismo. In: WOODCOCK, George (org.). Os
grandes escritos anarquistas. Porto Alegre: L&PM Pocket, 1981. p. 201-207.
OLIVEIRA, Tiago Bernardon de. “Anarquismo e Revolução”: militância anarquista e
estratégia do sindicalismo no Brasil da Primeira República. In: SANTOS, Kauna Willian dos;
SILVA, Rafael Viana (org.). História do anarquismo e do sindicalismo de intenção
revolucionária no Brasil: novas perspectivas. Curitiba: Prismas, 2018. p. 207-242.
POMINI, Igor Pasquini. Autogestão, sindicalismo e moderação: a CNT e a revolução
espanhola (1936-1937). Tese (Doutorado em História) Universidade de São Paulo (USP),
São Paulo, 2021.
PINHEIRO, Paulo Sérgio; HALL, Michael M. A classe operária no Brasil: documentos
(1889-1930). São Paulo: Editora Alfa Omega, 1970.
RECLUS, Élisée. A evolução, a revolução e o ideal anarquista. São Paulo: Imaginário,
2002.
RECLUS, Élisée. Porque somos revolucionários? A Terra Livre. São Paulo, ano: IV, nº66,
19 jan. 1910. p. 1.
SAMIS, Alexandre. Linhagens de um clássico. In: KROPOTKIN, Piotr. A conquista do pão.
Rio de Janeiro: Achiamé, 2011. p. 7-11.
SAMIS, Alexandre. Contra limites e fronteiras: Neno Vasco e o anarquismo em dois
continentes. Revista Navegar, Rio de janeiro, v.3, nº 4, jan./jun., p. 10-38. 2017. Disponível
em: http://www.labimi.com.br/navegar/edicoes/04/Navegar_4_completa.pdf. Acesso em
07/07/2022.
SAMIS, Alexandre. Pavilhão negro sobre pátria oliva: sindicalismo e anarquismo no Brasil.
In: COLOMBO, Eduardo (org.). História do movimento operário revolucionário. São
Paulo: Imaginário, 2009, p. 125-183.
SANTILLAN, Diego Abad de. La Fora: ideologia y trayectoria del movimento obrero
revolucionário em la Argentina. Buenos Aires: Libros de Anarres. 2005.
SFERRA, Giuseppina. Anarquismo e anarcossindicalismo. São Paulo: Ática, 1987.
SORELLI, Giulio. Incominciando. Il Libertário. São Paulo, ano I, nº 1, 10 Out. 1906. p. 1.
TOLEDO, Edilene. Anarquismo e sindicalismo revolucionário: trabalhadores e militantes
em São Paulo na Primeira República. São Paulo: Perseu Abramo, 2004a.
TOLEDO, Edilene. Travessias revolucionárias: ideias e militantes sindicalistas em São
Paulo e na Itália (1890-1945). Campinas, SP: Unicamp, 2004b.
VAN DER WALT, Lucien. Revolução mundial: para um balanço dos impactos, da
organização popular, das lutas e da teoria anarquista e sindicalista em todo mundo. In:
FERREIRA, Andrey Cordeiro (org.). Pensamento e práticas insurgentes: Anarquismo e
ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16976
27
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 8, p. 1-27, e022006, 2022.
Ridphe_R
Autonomia nos levantes e resistências do capitalismo no século XXI. Niterói: Alternativa,
2016. p. 81-118.
VASCO, Neno. O Anarquismo no sindicato. In: VASCO, Neno; CRISPIM, João.
Anarquistas no sindicato: um debate entre Neno Vasco e João Crispim. São Paulo:
Biblioteca Terra Livre, 2014. p. 35-41.
WOODCOCK, George. História das ideias e movimentos anarquistas: Vol.01. A Ideia.
Porto Alegre: L&PM, 2007.
WOODCOCK, George. História das ideias e movimentos anarquistas: vol.02: o
movimento. Porto Alegre: L&PM, 2008.
JORNAIS E ARQUIVOS CONSULTADOS:
A TERRA LIVRE. São Paulo, 1905-1910. Arquivo Edgard Leuenroth (AEL) Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP).
A LUCTA PROLETÁRIA. São Paulo, 1908. Arquivo Edgard Leuenroth (AEL)
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
IL LIBERTÁRIO. São Paulo, 1906. Arquivo Edgard Leuenroth (AEL) Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP).
Recebido em: 29 de julho de 2022
Aceito em: 10 de outubro 2022