O que vemos no trecho acima é que o conceito de solidariedade está em associação ao
objetivo social que é a coletividade trabalhadora. O sentido da existência do jornal O Operário
é sincrônico com o conceito de solidariedade, também visa a coletividade dos trabalhadores.
Temos que destacar o professor Bento de Siqueira. Este professor se mudou para Jaú com sua
esposa Ernestina, também professora, em setembro de 1896, para assumir cadeiras do ensino
estadual, que posteriormente abandonaram, em 1904, para investir no ensino particular com seu
Instituto Tomaz Galhardo, que o próprio João Penteado lecionou entre 1904 e 1906
(PENTEADO, 1944). Esse jornal não foi o único envolvimento de Bento de Siqueira com
questões dos trabalhadores, pois no ano de fundação do Centro Operário Beneficente e
Instrutivo do Jahu, Siqueira disponibilizava sua residência para eventuais reuniões e
assembleias do Centro até a construção de sua sede em 1909 (COMMERCIO DO JAHU,
10/11/1908).
Em abril de 1906, João Penteado publicou um texto especialmente significativo para
compreensão da escalada deste docente no seio do anarquismo. Vejamos alguns trechos:
Majestosa, sublime, a aspiração que nos embala, encorajando-nos através das
dificuldades, para a conquista de nossos direitos, para a luta que começa por
acender em meio da humanidade o facho da razão, cuja luz faz nascer em
nossos corações o amor, e termina por nos oferecer um futuro mais ou menos
breve, a posse da terra, tornando-a livre, cheia do sol da liberdade, cujas
delicias nos felicitaram e cuja perspectiva, entretanto, desde já, nos dá
conforto, alentando-nos em meio do elemento social da actualidade [...].
O homem livre sobre a terra livre, eis o ponto para onde devemos lançar
nossas vistas; eis a divisa desde jornal.
Tomemo-la para nós, que também nos serve. E que a frase de Goëthe, em
nossa alma, seja a evocação constante desse direito, pelo qual nós, os
operários, devemos combater.
O nosso ideal é puro e sublime: dá-nos coragem para a luta e anima-nos nas
organizações de resistência e propaganda, baseadas sempre em princípios de
liberdade e de moral a mais rigorosa. [...].
A nossa tarefa é árdua e tanto mais se torna necessário o nosso contingente,
quanto urge a nossa intervenção para que nessa luta – que é toda nossa, porque
respeita ao nosso bem-estar, de amor, as quaes, há séculos já, foram lançadas
entre os povos deste planeta [...].
É tempo de pormos de parte os preconceitos inúteis e lançarmos um olhar
avante, investigando e medindo a vastidão do nosso campo, tendo em nossa
alma o ideal libertador, que nos dá vida, fazendo com que não nos
conformemos com o circulo estreito, acanhadíssimo, de relações sufocantes e
corruptoras nem participemos da obra da escravidão.
O nosso dever é ampliar o horizonte de nossos conhecimentos. É tempo disso.
Avancemos, portanto em busca da nossa liberdade! O tempo que nos sobrar,
empreguemo-lo na leitura dos livros e periódicos, cuja orientação perfeita,
clara e concisa nos interesse. A Terra Livre é um dos recomendáveis. (A Terra
Livre, 15/04/1906, n. 02).