ISSN 2447-746X
DOI: https://doi.org/10.20888/ridpher.v8i00.16719
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A PEDAGOGIA DE CÉLESTIN E ÉLISE FREINET TRANSPONDO FRONTEIRAS
(ITÁLIA, 1974-1980)
Mônica Jinzenji
Faculdade de Educação,
Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil
monicayj@ufmg.br
Junia Boroni
Faculdade de Educação
Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil
juniaboroni18@gmail.com
Mariana Gonçalves André
Faculdade de Educação
Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil
mariana.contato.psi@gmail.com
RESUMO
Este artigo, baseado em pesquisa documental de cunho historiográfico, analisa jornais escolares
produzidos por estudantes de escolas elementares da região norte da Itália no período de 1974
a 1980. Por meio dos referenciais da História da Leitura e em diálogo com os estudos em
História da Educação, analisa-se o desenvolvimento e a internacionalização dessa prática
educativa, proposta por Célestin e Élise Freinet desde a década de 1920. Verifica-se a influência
dos princípios anarquistas no uso dos jornais como substitutos dos manuais e livros nas
atividades escolares, na integração entre a escola e as famílias, e na produção da centralidade
dos estudantes como produtores de conhecimento e como sujeitos críticos das desigualdades e
injustiças sociais.
Palavras-chave: Pedagogia Freinet. Jornais escolares. Educação popular. Anarquismo.
LA PEDAGOGÍA DE CÉLESTIN Y ÉLISE FREINET TRANSPONIENDO
FRONTERAS (ITALIA, 1974-1980)
RESUMEN
Este artículo, basado en investigación documental de tipo historiográfico, analiza periódicos
escolares producidos por estudiantes de escuelas primarias de la región norte de Italia en el
periodo de 1974 a 1980. Por medio de los referenciales de la Historia de la Lectura y en diálogo
con los estudios en Historia de la Educación, se analiza el desarrollo y la internacionalización
de esta práctica educativa, propuesta por Célestin y Élise Freinet desde la década de 1920. Se
verifica la influencia de los principios anarquistas en el uso de los periódicos como sustitutos
de los manuales y libros en las actividades escolares, en la integración entre la escuela y las
familias, y en la producción de la centralidad de los estudiantes como productores de
conocimiento y como sujetos críticos de las desigualdades e injusticias sociales.
Palabras clave: Pedagogía Freinet. Periódicos escolares. Educación popular. Anarquismo.
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THE PEDAGOGY OF CÉLESTIN AND ÉLISE FREINET CROSSING BORDERS
(ITALY, 1974-1980)
ABSTRACT
Based on documentary research from a historiographic perspective, this article analyzes school
newspapers produced by elementary-school students in the North region of Italy between 1974
and 1980. Through references to the History of Reading and dialoguing with studies on the
History of Education, we analyze the development and internationalization of the educational
practice proposed by Célestin and Élise Freinet in the 1920s. We found the influence of
anarchist principles in the use of newspapers as substitutes for manuals and books in school
activities, in the integration between school and families, and in the production of a student
centrality and as critical subjects of the inequalities and social injustices.
Keywords: Freinet Pedagogy. School newspapers. Popular education. Anarchism.
LA PEDAGOGIE DE CELESTIN ET ÉLISE FREINET AU-DELA DES
FRONTIERES (ITALIE, 1974-1980)
RÉSUMÉ
Cet article, basé sur une recherche documentaire de nature historiographique, analyse les
journaux scolaires produits par les élèves des écoles élémentaires du nord de l'Italie de 1974 à
1980. À travers les références de l'Histoire de la lecture et en dialogue avec des études en
Histoire de l'éducation, nous analysons le développement et l’internationalisation de cette
pratique pédagogique, proposée par Célestin et Élise Freinet depuis les années 1920. On vérifie
l’influence des principes anarchistes dans les usages des journaux comme substituts des
manuels et des livres dans les activités scolaires, dans l'intégration entre l'école et les familles,
et dans la production de la centralité des élèves en tant que producteurs de connaissances et
sujets critiques des inégalités et des injustices sociales.
Mots-clés: Pédagogie Freinet. Journaux scolaires. Éducation populaire. Anarchisme.
INTRODUÇÃO
Élise Lagier-Bruno nasceu em 1898 em Pelvoux, cidade pequena de uma região de
montanhas ao sul da França, em uma família numerosa na qual quase todas as irmãs e irmãos
se tornaram professores de educação primária. Era artista, premiada em concurso nacional de
gravura, e, lendo matérias pedagógicas escritas por Célestin Freinet (1896-1966) na revista
Clarté, interessou-se em trabalhar com ele; em março de 1926, mudou-se para Bar-sur-Loup,
para ser sua assistente (SAMPAIO, 1994). Casaram-se pouco tempo depois, e seguiram
trabalhando juntos nas escolas de Saint-Paul e em Vence.
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Destacamos a coautoria de Élise, que passou a ser conhecida pelo sobrenome Freinet
após o casamento e, segundo Michel Launay
1
, exerceu uma forte e importante influência em
Célestin (1896-1966), do ponto de vista político e artístico (SAMPAIO, 1994). Além disso, teve
participação fundamental na continuidade da proposta educacional após a morte de seu
companheiro em 1966 e na difusão da obra por meio das publicações, muitas delas, ocorridas
após a morte do educador.
O trabalho de tentar reconstruir a trajetória das publicações de Freinet é complexo, e
mesmo com os estudos amplos e de síntese produzidos por Rosa Maria Whitaker Ferreira
Sampaio (1994) e por Marisa Del Cioppo Elias (1999), temos informações lacunares e
imprecisas, quando buscamos traçar uma cronologia sobre o desenvolvimento das ideias e de
sua materialização em formato impresso. Em alguns casos, a prática docente e a experimentação
em classe precederam em décadas a síntese escrita em obra e, em outros, os livros resultaram
da compilação de escritos produzidos para periódicos e boletins ao longo de meses ou anos.
Nesse processo de estudo e compreensão da pedagogia freinetiana, nos parece
incontestável o seu caráter internacional, apontado por outros trabalhos (KANAMARU,
2014; HUERTA, SANCHEZ, 2016), e a urgência em dar visibilidade à atuação de Élise Freinet,
não somente na difusão da proposta, quanto na sua própria viabilidade: reconstruiu a escola de
Vence após sua destruição durante a II Guerra mundial e a manteve em funcionamento,
enquanto Célestin se tornava conhecido internacionalmente e realizava viagens de exploração
e articulações políticas e educacionais. Élise participava também dos Congressos da área da
educação, além de atuar no dia-a-dia nas escolas, demonstrando essa coparticipação a partir do
lugar de narradora onisciente na escrita do livro Nascimento de uma pedagogia popular
2
, em
que até mesmo os supostos diálogos em sala são transcritos (FREINET, 1978). Ao
mencionarmos a pedagogia de Freinet estamos, portanto, nos referindo a uma obra coletiva,
cujo sobrenome não se deve reduzir a uma única personagem. Tampouco deve se restringir a
iniciativas isoladas, envolvendo somente as escolas que Élise e Célestin criaram e nas quais
atuaram. Como veremos adiante, trata-se de uma proposta de educação popular libertária que
se desenvolveu sob influência e em diálogo com movimentos de renovação educacional que lhe
foram contemporâneos e que a antecedeu.
Considerando esse cenário de construção e elaboração de pressupostos e práticas
educativas, o cerne deste artigo é explorar a difusão da pedagogia freinetiana em nível
1
Rosa Maria Whitaker Sampaio (1994) menciona, em seu livro, o depoimento redigido por Launay sobre o
trabalho de Célestin e Élise Freinet, demonstrando grande interlocução com a educadora.
2
Este livro teve sua primeira edição em 1969, três anos após a morte de Célestin.
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internacional, na sua forma materializada, ou seja, em práticas do cotidiano de escolas
elementares, particularmente em Pinerolo, localizado ao norte da Região do Piemonte, na Itália,
território fronteiriço da origem dessa proposta. Em diálogo com algumas das obras publicadas
por Freinet, particularmente O texto livre (1973
3
), O jornal escolar (1974
4
) e a Pedagogia do
bom senso (2004
5
), buscamos identificar a apropriação dos elementos centrais dessa pedagogia
na produção de jornais escolares. Esses jornais fazem parte do acervo do Musli (Museu da
Escola e do livro para a infância)
6
, situado na cidade de Torino e foram produzidos no período
de 1974 e 1980 por estudantes de escolas públicas maternas e elementares
7
.
Fazemos coro com os estudos que buscam realizar uma leitura renovada da obra de
Freinet, a exemplo de Manuel Lorenzo (2016), que identifica os vestígios de práticas
pedagógicas freinetianas nas escolas das Canárias na década de 1930. De modo semelhante, ao
analisar jornais produzidos por estudantes e professoras, buscamos contribuir para ampliar a
dimensão transnacional dessa pedagogia, tanto geograficamente quanto temporalmente, visto
se tratar de ações desenvolvidas na Itália pelo menos cinco décadas após as primeiras
experiências francesas
8
, confirmando sua essência internacional e o forte movimento coletivo
docente que o impulsiona até os dias de hoje (ELIAS, 1999).
De acordo com González-Monteagudo (2013), as propostas educacionais de Freinet
foram se difundindo ao longo da primeira metade do século XX, estando presentes ainda nas
práticas pedagógicas contra hegemônicas na segunda metade, na Europa ocidental (DETTI; DI
RIENZO; VERGALLI, 1982). Ao realizar um balanço dessa difusão dos jornais escolares pelos
países vizinhos, na década de 1950, Freinet destaca aqueles das escolas italianas como sendo
bastante numerosos e que “parecem-se com os nossos jornais franceses como duas gotas de
água: têm a mesma fórmula com base em textos livres vivos, a mesma apresentação, a mesma
utilização para intercâmbios.” (FREINET, 1974, p. 69).
3
De acordo com informações contidas no próprio livro, sua publicação se deu cerca de 30 anos após o início da
experimentação com os textos livres nas escolas, ou seja, a primeira edição teria sido publicada na década de
1950.
4
Este livro teve sua primeira edição na década de 1950.
5
Este livro, cuja primeira edição data de 1969, resulta da compilação de escritos publicados na revista L'Éducateur,
órgão pedagógico do Instituto Cooperativo da Escola Moderna no final da década de 1950.
6
Museo della Scuola e del Libro per l’infanzia (https://www.fondazionetancredidibarolo.com); o contato com os
jornais escolares se deu no período de estágio pós-doutoral da primeira autora, realizado na Università degli
Studi di Torino durante os anos 2018 e 2019.
7
Equivale à Educação Infantil e ao primeiro segmento do ensino fundamental no Brasil atualmente; este segundo
era/é composto por cinco classes, ou séries.
8
Segundo Freinet, em O jornal escolar (1974), muitas são as formas de se trabalhar pedagogicamente com os
jornais em classe, mas a metodologia que propõe é distinta do que se conhece até então - início da década de
1920 -, admitindo a inspiração na prática do belga Ovide Decroly. Ver também a discussão de Gladys Teive e
Norberto Dallabrida (2013).
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A Itália parece ter recebido as propostas de Freinet com entusiasmo, e desde o início dos
anos 1950, no processo de recuperação após a II Guerra Mundial, educadores engajados
reuniram esforços em renovar a educação, ainda com resquícios fascistas, para atender aos
princípios da educação para todos, com métodos modernos e que estabelecesse a conexão da
escola com os sujeitos nela envolvidos, em integração harmoniosa com a sociedade (BANDINI,
2013).
Ações em torno da Cooperativa da Tipografia Escolar, criada em 1951, que em 1958 se
transformou em Movimento de Cooperação Educativa, reuniam educadores empenhados na
transformação da escola por meio das técnicas de Freinet, e divulgavam as experiências e
novidades nesse campo, contando cada vez mais com novas adesões (PETTINI, 1980).
Mesmo após a morte de Célestin, em 1966, os movimentos de cooperação e
internacionalização da pedagogia se expandiram, sob a direção de Élise. Nos encontros
internacionais anuais de educadores Freinet, o RIDEF, a segunda edição (1968) teve sede em
Veneto, e a Itália organizou outros dois eventos desde então: o décimo quarto, em Torino, em
1982 e o trigésimo em 2014, em Reggio Emilia. Segundo Sampaio (1994, p. 8), o encontro de
Torino reuniu mais de 600 educadores de vinte países, o que indica, naquele momento, a
vitalidade e a longevidade de um pensamento pedagógico, que está completando 100 anos.
Para apresentarmos nossa análise, este artigo se organiza em outras três partes, além
desta introdução. Inicialmente, contextualizamos a pedagogia de Freinet no movimento de
renovação educacional da passagem do século XIX para o século XX, apresentando o jornal
escolar como um método e uma prática pedagógica original; em seguida, apresentamos e
analisamos alguns dos jornais produzidos no contexto italiano, indicando a apropriação desse
método pelos estudantes e professoras de escolas elementares; nas conclusões, indicamos as
potencialidades da escrita livre como uma das técnicas para a produção da centralidade dos
estudantes no processo educativo.
A ESCOLA MODERNA E OS JORNAIS ESCOLARES PROPOSTOS POR FREINET
Em Pedagogia do bom senso (2004), Freinet apresenta de forma bastante ilustrativa os
princípios do que entende por uma pedagogia centrada no sujeito aprendiz: descreve um cavalo
que, contrariando seu dono, recusa-se a beber água, sob protestos, esforços e malabarismos
deste, que pretendia preparar-se para uma jornada. Um camponês sábio o informa que,
conhecendo cavalos, sabe-se que não sentem sede pela manhã. Conclui, então, que nos
enganamos ao mudar a ordem das coisas e obrigar a beber quem não tem sede” (FREINET,
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2004, p. 18). Nesse mesmo exemplo, insiste que de nada adiantaria trocar a água, ou seja, não
se trata de alterar o conteúdo, mas de buscar compreender quando e por que o organismo sente
sede. A essa alegoria segue um conjunto de reflexões sobre a natureza equivocada e impositiva
da educação escolar, que tem ênfase no conteúdo e não em “como fazer a criança sentir sede”.
Por fim, defende que, em oposição à escola dita “antiga”, em que os estudantes foram treinados
a beber sem sede qualquer bebida, “habituamos os nossos a considerar primeiro toda bebida
como suspeita, a experimentá-la e a verificá-la, a elaborar eles mesmos o seu próprio juízo e a
exigir, em todo lugar, uma verdade que não está nas palavras, mas na consciência de relações
justas entre os fatos, os indivíduos e os elementos.” (FREINET, 2004, p. 18-19).
Essa perspectiva “progressista” em educação se alinhava aos principais pressupostos e
práticas dos educadores defensores da Educação Nova, com os quais Freinet debateu, aprendeu,
e a quem também criticou
9
. Com Ferrière, Claparède, Decroly, Bovet e Cousinet, compartilhava
a centralidade dada ao sujeito aprendiz, o que promovia o deslocamento da prática educacional.
Tendo frequentado os principais círculos em que se realizavam os debates em torno da
construção dessa pedagogia renovadora, incluindo as iniciativas alemãs e a escola anarquista,
Freinet construía sua proposta, ajustando-a às próprias práticas experimentais (SAMPAIO,
1994; KANAMARU, 2014; MARQUES, ALMEIDA, 2017).
Percebemos a mesma matriz anarquista nas principais propostas e práticas educativas
freinetianas, como a centralidade na educação das classes trabalhadoras, o combate a todo tipo
de hierarquia e autoritarismo nas relações pedagógicas, a defesa da cooperação, da formação
integral da criança e de todos os sujeitos, o que deveria culminar na constituição do pensamento
autônomo, crítico, enfim, emancipado. Além disso, a busca do cientificismo, por meio da
observação e do ensino racional como alternativa ao dogmatismo religioso, fazia parte desse
conjunto de princípios, comuns ao período (ACCIOLY E SILVA, 2011, p. 96-97).
Assim, conforme Ivan Fortunato e Maria do Rosário Porto (2020, p. 3), havia um “solo
paradigmático comum” no qual as ideias se alinhavam em vários aspectos com outros
pensadores da sociedade e, igualmente, da educação. A origem familiar camponesa e as
experiências cotidianas vividas durante a infância e a juventude, na lida com as atividades do
campo, marcam sua proposição, na qual escola e vida jamais deveriam ser pensadas em
separado.
9
Em Pedagogia do bom senso (2004, p. 57), Freinet reconhece as virtudes dos estudos de Itard, Seguin, Montessori
e Decroly sobre os “anormais” e o cuidado com os ritmos e tempos de aprendizagem requeridos para esse grupo;
entretanto, indica ressalvas ao ensino individualizado, defendendo a educação coletiva pelo trabalho, eixo central
de sua proposta.
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A origem camponesa o aproxima da trajetória de Francisco Ferrer y Guardia (1859-
1909), educador anarquista espanhol fundador do movimento internacional da Escola Moderna
em 1901. Outras importantes contribuições parecem ter sido incorporadas por Freinet, como as
aulas passeio, a troca epistolar entre estudantes de outras escolas, a produção de jornais
escolares (SILVA, 2013, p. 286), práticas já desenvolvidas na Escola Moderna de Barcelona.
Freinet, no entanto, atribui a si a autoria da primeira grande inovação em sua pedagogia:
a introdução da tipografia na classe, como uma importante mediadora nas atividades; o uso
desse recurso praticamente coincidiu com o início da sua carreira docente, na década de 1920,
na costa sul francesa, em Bar-sur-Loup. Incapaz de usar a fala com eficiência, devido a sequelas
ocasionadas pela sua participação na I Guerra Mundial, o estímulo ao trabalho coletivo e
cooperativo por meio da produção de jornais foi visto como uma alternativa.
A sua limitação física teria sido, portanto, uma das dimensões condicionantes do
desenvolvimento dos jornais escolares. O segundo aspecto, próprio do contexto de
desenvolvimento industrial e técnico do período, também contribuiu para isso, sendo
evidenciado logo na introdução do livro O jornal escolar. Após a afirmação de que “cada época
tem uma linguagem e utensílios que lhe são próprios” (1974, p. 11), Freinet reconhece o
desenvolvimento e a modernização resultantes do desenvolvimento da imprensa, demonstrando
seu entusiasmo pelas técnicas tipográficas, na expectativa de superação dos métodos baseados
na repetição, cópia e leitura dos manuais escolares. Vemos, portanto, um movimento de
apropriação da linguagem e dos gêneros jornalísticos e das técnicas tipográficas, ambas já
consolidadas como forma de difusão de ideias e de conhecimento, em larga escala. Percebemos,
também, a conciliação entre o caráter ao mesmo tempo humanista e experimental de sua
pedagogia, conforme princípios de Ferrer (SOGUSSINYER, 2010), dialogando com a
tecnologia de seu tempo.
Nesse movimento de apropriação (CHARTIER, 1998), Freinet redimensiona a lógica
de produção de jornais, agregando o caráter político e crítico, no qual os estudantes são
deslocados do lugar de leitores e receptores passivos, para produtores, autores do próprio
conhecimento, conforme trecho anteriormente citado, devendo-se considerar “suspeita toda
bebida”. Freinet enfatiza a necessidade de desconstruir o jornal como tabu, como o portador da
verdade, e afirma:
Infelizmente, a escola tradicional prepara esta submissão dos indivíduos
perante a nova deusa: a imprensa. [...] Utilizando o texto livre e o jornal,
habituamos os nossos alunos a uma crítica da imprensa, à aceitação e procura
dessa crítica. Aprendem a detectar, com um bom senso recuperado, a presença
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incorrigível da verborreia e da ‘leitura’, escondida sob o clamor de certas
páginas. Aprendem, por experiência, a julgar as obras que lhe são
apresentadas, e rapidamente se tornam aptos a descobrir o que se esconde de
falso e contraditório nas imponentes rubricas dos jornais. (FREINET, 1974, p.
111).
A crítica se estende aos livros, pretensos representantes dos conhecimentos históricos e
científicos legítimos. Segundo Freinet,
Os nossos alunos fazem prospecções e pesquisas cujos resultados não se
enquadram forçosamente nas afirmações dos livros. [...] Alunos de nossas
aulas criticaram assim páginas de manuais, esboços de história e de ciências;
escreveram as suas observações aos editores e aos autores que, em certos
casos, reconheceram o fundamento das suas críticas. (FREINET, 1974, p.
112).
No livro O jornal escolar, essa fundamentação crítica é igualmente acompanhada de
informações técnicas sobre os tipos de jornais possíveis de se produzir, suas potencialidades e
limites. Certamente as condições financeiras estão entre os principais condicionantes para se
adotar esse método de ensino e, entre essas possibilidades, são apresentados os jornais
manuscritos ou datilografados e fotocopiados, os feitos por meio de limógrafos
10
, os
mimeografados e os impressos utilizando uma mini tipografia. Freinet enfatiza a importância
da qualidade do texto, mas também de sua legibilidade, incluindo o espaçamento entre as linhas
e sua distribuição na página, a harmonia entre os textos e as ilustrações, a qualidade das cópias.
Identificamos a contribuição de Élise nessa preocupação com a diagramação, e na ideia
de que “A arte da edição é, em grande parte, a arte de compor uma página. [...] Um texto é
como um quadro. É preciso que o conjunto seja agradável e repousante.” (FREINET, 1974, p.
46). A qualidade estética dos jornais adquire centralidade ao associar sua função no
desenvolvimento da personalidade das crianças, que tomam gosto pelo trabalho artesanal bem
feito, desenvolvem habilidades para selecionar os conteúdos a fim de equilibrar o texto numa
página, apreendem o prazer de aprimorá-los, sempre de forma coletiva e colaborativa.
Os jornais que analisamos a seguir foram produzidos por estudantes e professoras de
duas escolas maternas e onze escolas elementares. São bastante variados em termos da
materialidade, e por meio de algumas de suas capas, percebemos técnicas mistas, entre aquelas
10
Em O jornal escolar (1974, p. 28) a técnica de impressão por meio do limógrafo consiste na perfuração do
stencil (papel que não se rasga), através da lima ou máquina de escrever. O limógrafo (aparelho especial) passa
um rolo de tinta sobre o stencil perfurado; a tinta atravessa os perfuradores e cai no papel que se pôs abaixo.
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indicadas por Freinet: manuscritas, produzidas com máquina de escrever, mimeografadas com
duas cores de estêncil, coloridas capa por capa com canetas hidrocor ou sem cor.
FIGURA 1 - Capas de jornais escolares
11
(Região de Pinerolo, 1977-1978).
Fonte: acervo da autora 1; originais disponíveis fisicamente no Museu da Escola.
Atentas para o fato de que indícios presentes e ausentes na materialidade dos suportes
de escrita fornecem pistas para se compreender melhor os sentidos do texto e do próprio objeto
dado a ler (LISBOA, 2020; MCKENZIE, 2018), observamos, nessas capas, que algumas
informações foram acrescentadas a mão; na imagem à esquerda, na parte superior, “Anno 1977-
78”, e o nome da escola na parte inferior, “Scuola Giovanni XXIII”, provavelmente tinham sido
esquecidos no ato da produção; na imagem à direita, na parte superior, a indicação da classe “II
D”, o ano escolar “1977-78” e o número da edição “n.2”, indicam que a capa era replicada e
reutilizada por uma classe por vários anos, devendo-se acrescentar somente os dados
específicos de cada edição
12
. Nas capas da esquerda e do centro, aparecem ao alto à esquerda,
respectivamente, “Sr. Direttore” e “De Bonis”. Antonio De Bonis Patrignani foi o diretor do
segundo círculo didático das escolas públicas da região de Pinerolo durante as décadas de 1970
e 1980, do qual a sede era a Escola Giovanni XXIII. Como diretor aberto a experimentações
11
Tradução dos títulos, da esquerda para a direita: O carrossel das crianças; O jornal da primeira Guerra Mundial;
Feliz Brigada.
12
O nome da professora (Insegnante - Ins.) Luigina Maina aparece como parte “estável” da capa, pois as
professoras permaneciam/permanecem durante toda a educação elementar com a mesma turma, do primeiro
ao quinto ano; isso indica que essa professora seguiu produzindo o jornal por mais de um ano escolar.
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didáticas, recebia, comentava e guardava os jornais produzidos nas escolas de sua
circunscrição
13
.
Devido à história da produção desse acervo, proveniente de guarda pessoal e posterior
doação para acesso público, não podemos dizer se os jornais desse conjunto representam todos
aqueles produzidos no período, nem se constituem a totalidade dos que foram recebidos pelo
diretor. Além disso, a diversidade marca esse material, sendo poucos os jornais que possuem
“séries” completas e consistentes: alguns anunciam ser de tiragem mensal, outros sugerem
terem sido produzidos semestralmente; a maioria era produto de uma turma única na escola,
enquanto alguns envolviam várias turmas de séries diferentes. Fica evidente, no entanto, se
tratar de iniciativas isoladas, e não institucionais; os jornais eram desenvolvidos por professoras
que aderiam ao movimento de experimentação pedagógica, e geralmente o possuíam nenhum
tipo de apoio, nem mesmo financeiro (JINZENJI, 2021).
Do conjunto desses jornais, identificamos que o conteúdo se relacionava às atividades
escolares que envolviam a participação ativa dos estudantes, tanto na produção de registros
individuais, por meio de relatos de observações e acontecimentos, contos, desenhos, quanto
pelos registros de pesquisas conduzidas por eles, sob orientação das professoras. Quando
tivemos acesso ao primeiro número, foi possível encontrar a “proposta editorial” do jornal, que
permitiu identificar a afinidade com os pressupostos freinetianos, como é o caso do jornal Cosa
sapiamo fare? (O que sabemos fazer?) dos estudantes do terceiro ano da escola Borgo Milano,
em Beinasco.
EU APRESENTO O NOSSO JORNALZINHO
Antes de tudo há textos livres, poesia sobre a primavera, trabalho de ciências
como: a origem da terra, trabalhos sobre o bairro com entrevistas, textos livres
sobre tudo. Para fazê-lo foi utilizado: máquina de escrever, matrizes,
limógrafo. Gravamos os desenhos e a capa na matriz com agulha. Ao fim,
imprimimos 35 cópias do nosso jornalzinho.
TODOS JUNTOS ESCOLHEMOS O TÍTULO: COSA SAPPIAMO FARE?
(COSA SAPPIAMO FARE? s. d., p. 1 [tradução nossa; destaques no
original]).
A referência ao texto livre, ao limógrafo e à escolha coletiva do nome do jornal,
colocados com ênfase nesse primeiro número e em vários outros títulos, indica a filiação
freinetiana. Das muitas possibilidades para explorar esse conteúdo, definimos a centralidade da
13
Antonio Patrignani foi autor de livros didáticos infantis, além de contribuir com revistas especializadas
produzindo matérias relacionadas à educação escolar e resenhando livros lançados; faleceu em 2011 e sua
família doou ao Museu da Escola, os jornais que estavam guardados entre seus pertences.
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autoria estudantil por meio da livre expressão e o esforço na sensibilização de estudantes, desde
os primeiros anos da educação elementar, para se tornarem sujeitos críticos e ativos. Esses
jornais se diferenciam, portanto, de outras iniciativas similares, com teor mais institucional e
informativo, conforme discutido por Teive e Dallabrida (2013).
DO ANTIFASCISMO À CRÍTICA À PRECARIEDADE DO TRABALHO OPERÁRIO
A primeira edição de Lieta Brigata (Feliz Brigada) foi produzida em 1976 pelos
estudantes da primeira classe da escola Don Luigi Balbiano, sob orientação da professora
Luigina Maina. Essa mesma professora já havia trabalhado com esse mesmo título com turmas
anteriores, de modo que o jornal já possuía 12 anos. Seu conteúdo é quase todo datilografado,
provavelmente pela própria professora, com ilustrações produzidas pelos estudantes, e a
periodicidade provável é semestral. A primeira página inicia com um editorial:
A todos os amigos enviamos o primeiro número do nosso jornalzinho. Querem
saber quantos anos tem “Lieta Brigata”? Nasceu cinco anos antes de nós, ou
seja, em 1965. Este ano, nós completamos sete anos. Portanto o jornalzinho
tem doze anos. Queremos fazer o jornalzinho porque gostaríamos de ler os
textos dos colegas e ficamos felizes que os outros leiam os nossos, e porque
desejamos que nossos pais e amigos saibam o que fazemos na escola. E
queremos também poder trocar o nosso jornalzinho com tantos jornaizinhos
de outras classes. (LIETA BRIGATA, 1977, p.1 [tradução nossa; aspas no
original]).
Ao invés de uma simples descrição dos objetivos do jornal, esse editorial permite que
nos aproximemos do modo como a professora buscou produzir a compreensão de que os/as
estudantes fazem parte de uma iniciativa anterior, além de associar um significado
“matemático” para a nova etapa do jornal, por meio de uma representação gráfica de círculos
em intersecção e a indicação dos números cinco, sete e doze, logo após o texto. Além desses
elementos, a explicitação do desejo de lerem os textos dos/as colegas e serem lidos por eles/as
e pelas famílias encontra sintonia com os pressupostos de Freinet que, em O texto livre (1973),
indica a insuficiência da liberdade de escrever, para que a livre expressão se sustente como
técnica de ensino e estímulo à escrita. “Se se menospreza a motivação que a imprensa, o
copiógrafo, o jornal escolar e a correspondência interescolar provocam, o texto livre arrisca-se
a ser apenas um clarão súbito, com as desilusões que nos acarretará uma nova queda na noite e
no erro da escolástica.” (FREINET, 1973, p. 23). Portanto, para Freinet, a escrita livre perde
sentido se não o estabelecimento da comunicação com outras pessoas, sejam elas outras
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crianças ou pessoas adultas, que estejam próximas ou distantes; a motivação para a escrita se
vincula à expectativa de leitura por alguém.
Entre esses interlocutores estavam, além de colegas de escolas de outras regiões da
Itália, autoridades políticas, educacionais, jornalistas e escritores. Gianni Rodari
14
, escritor de
literatura infanto-juvenil, jornalista e ativista engajado na renovação educacional do período,
estabeleceu trocas recorrentes com os redatores de Lieta Brigata e, no número 1 do segundo
ano, estes transcreveram e publicaram no jornal a troca de correspondências com o autor e
jornalista, na primeira página, com o título “Nossas coisas”:
“LIETA BRIGATA” sim? “LIETA BRIGATA” não?
Estávamos muito indecisos se mudávamos o título do nosso jornalzinho.
Ultimamente, quase todos os dias, ouvíamos na televisão que brigadas de…
diversas cores
15
, realizavam atentados, faziam massacres. Mas se pode mudar
o título de um jornalzinho que sai já há treze anos? Não seria mais o mesmo.
Certamente os meninos que quiseram chamá-lo assim o seu jornalzinho não
podiam nem mesmo imaginar que um dia a palavra “brigada” teria o
significado de violência, terror, morte…”
Então, pedimos conselho aos adultos. Gianni Rodari tem razão em dizer que
não devemos dar a vitória aos bandidos. E assim, “LIETA BRIGATA”
continua, e continuam a estar as “brigadas” que são contra o ódio, a
violência, o terror…. (LIETA BRIGATA, 1978, p. 1 [tradução nossa;
destaques no original]).
Jamais saberemos como a opinião do jornalista foi compreendida em sua profundidade,
fato é que os estudantes se convenceram a manter o nome do jornal. A resposta, transcrita a
seguir, indica a sensibilidade de Rodari em apoiar um nome simbolicamente significativo, para
os apoiadores de uma reforma política e social como ele, junto a crianças que teriam entre sete
e oito anos de idade. Sua carta resposta foi escrita em primeiro de fevereiro de 1978, de Roma:
Espero que a minha opinião chegue a vocês a tempo. Por que mudar “Lieta
Brigata”? A palavra “brigada” é muito antiga, muito italiana, muito bonita. E
as brigadas partidárias
16
? o devemos dar vitória a aqueles que infringem,
com seus delitos, uma palavra que possui seu lugar na literatura e na história
da Itália.
Até logo. Viva “Lieta Brigata”! (LIETA BRIGATA, 1978, p. 1 [tradução
nossa; aspas no original]).
14
Ver mais sobre a relação de Rodari com as escolas experimentais em Luciano Morucci e Ana Maria Novelli,
2000.
15
Os estudantes estão se referindo provavelmente às Brigadas Vermelhas, grupo extremo radical de esquerda que,
entre outras coisas, foi responsável pelo sequestro e assassinato de Aldo Moro, em março de 1978, fato que
igualmente foi comentado no jornal Lieta Brigata.
16
Gianni Rodari quer fortalecer o conceito de brigada por meio das brigadas partidárias (brigate partigiane), de
resistência à ocupação italiana durante a II Guerra Mundial.
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Os jornais também eram desenvolvidos em diálogo com as famílias e com o entorno da
escola e da localidade mais imediata. Nesse sentido, é perceptível que, durante o primeiro ano,
conhecer os estudantes e se aproximar de suas famílias era o mote para o desenvolvimento das
atividades em sala. No segundo número do primeiro ano de Lieta Brigata (1978), entre textos
livres relacionados às brincadeiras preferidas, às pirraças mais frequentes, etc., são transcritos
os resultados das pesquisas realizadas pelos estudantes com suas famílias. Gráficos em barra,
produzidos pelos recursos da máquina de escrever, indicam que a maioria dos avós trabalhava
na agricultura e a maioria dos pais trabalhavam na FIAT ou em outras fábricas da região. Muitas
mães também eram operárias, e outras não trabalhavam.
Cabe contextualizar que, no período pós II Guerra, a região norte da Itália viveu um
rápido crescimento industrial e econômico, se constituindo, em poucas cadas, num
importante polo produtivo nomeado “triângulo industrial”, que constituía as cidades de Torino,
Milão e Gênova. Esse processo provocou a migração interna de famílias da região sul do país
e da zona rural das proximidades, que buscavam melhores condições de vida; desse modo, na
década de 1960, a população de Torino, cidade que mais cresceu na região, quase duplicou,
chegando a mais de um milhão de habitantes (CASTAGNOLI, 1995). As famílias dos
estudantes que participaram dessa sondagem publicada no jornal constituíam essa massa de
migrantes que passavam a habitar a região metropolitana de Torino, na cidade de Volvera.
O impacto desse movimento migratório nas cidades foi tematizado nos jornais por meio
de estudos exploratórios de campo, e também em discussões em classe. Como exemplo desse
segundo tipo de atividade, uma espécie de debate realizado após o retorno do recesso natalino,
iniciava com os brinquedos ganhos de presente. Perguntas como “Você gostou dos brinquedos
que ganhou no natal ou ficou desiludido? Por que?”, “O brinquedo é forte ou possui defeitos?”,
“Você olhou o preço?” se desdobravam em discussões sobre as atividades de lazer desfrutados
pelas famílias, chegando-se ao que aparentemente a professora pretendia como objetivo final:
provocar a reflexão de que viviam em condições precárias, e que os subsídios recebidos pela
fábrica financiavam os brinquedos de baixa qualidade nos presentes de natal: “poucos foram
comprados pelos nossos pais, a maioria, recebemos como doação dos parentes ou da FIAT onde
trabalham nossos pais. Poucas vezes fomos nós a escolhê-los e é por esse motivo que não é
sempre que os brinquedos que possuímos são os nossos preferidos.” (LIETA BRIGATA, 1978,
p. 15-17 [tradução nossa]). Esta longa matéria, resultante de pesquisa envolvendo as famílias e
debates em classe ilustra a crítica cara aos anarquistas e em particular a Ferrer y Guardia, sobre
a imoralidade de todo trabalho que fomenta a exploração humana, como o trabalho fabril (apud
SOLÀ GUSSINYER, 2010).
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O tema da migração segue sendo o argumento para estudos interdisciplinares durante
os anos seguintes e, pelo que constatamos, tinha também sido desenvolvido com as turmas
anteriores. Em 1979, quando a turma estava no terceiro ano, foi publicado um estudo
comparativo envolvendo os estudantes de toda a escola, e o resultado, comparado com os dos
jornais da década de 1960, resulta:
QUADRO 1 - Relação de estudantes nascidos em Volvera e Migrantes.
Total estudantes
Volverese
Migrantes
3o ano D 1979
22
5
17
Toda a escola 1969
163
83
80
Toda a escola 1979
473
62
411
Fonte: LIETA BRIGATA, 1979, n. 2, s.p. (síntese produzida pelas autoras).
Verificamos que, em 10 anos, de 1969 a 1979, a população escolar seguiu crescendo
vertiginosamente, refletindo o processo migratório para a região. A preocupação em produzir
uma espécie de “consciência histórica” envolvendo os temas que impactavam o cotidiano da
própria vida dos estudantes demonstra o engajamento de uma educadora que utilizou, na sua
prática docente, o jornal escolar como um dos métodos de ensino. O uso dos jornais de turmas
anteriores como material para o estudo comparativo e a produção de uma história local, que
conta com a participação dos estudantes, evidencia a centralidade destes na produção do
conhecimento e dos próprios materiais de estudo, em substituição dos livros e manuais,
conforme proposto por Freinet.
Ainda no desenvolvimento desse tema, num processo metalinguístico, os estudantes de
1979 recuperaram e republicaram uma matéria que estudantes do quinto ano, transcreveram do
jornal católico Avvenire (publicado em Lieta Brigata n. 2, de 1970-1971). O título é “De
tranquila cidade agrícola a sede de várias fábricas - Volvera: um ‘boom’ industrial. Na região,
falta entretanto, casas populares - serviços públicos inadequados” (LIETA BRIGATA, 1979,
s.p.) A gina, constante na figura 2, a seguir, apresenta o texto, que avalia as vantagens do
desenvolvimento industrial da região, que criou 20.000 empregos diretos, e pondera sobre os
problemas de habitação dessa população.
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FIGURA 2 - Matéria de Lieta Brigata (1970/1971), transcrita em Lieta Brigata 1979
Fonte: acervo da autora 1; originais disponíveis fisicamente no Museu da Escola.
O mapa, produzido provavelmente pelos estudantes, auxilia na compreensão da
distribuição geográfica das cidades da periferia que abrigam as fábricas e seus trabalhadores.
Ao final da matéria, se diz:
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uma completa falta de habitação popular econômica, os serviços de
transporte público são inadequados, a delimitação da zona inicial é
insuficiente. Na prática, porém, deve-se considerar que o boom industrial foi
tão súbito que materialmente não houve tempo para planejar uma rie de
intervenções para ordenar esse desenvolvimento. Agora, porém, chegou a
hora de pensar seriamente. (LIETA BRIGATA, 1979, s.p. [tradução nossa]).
Na sequência, uma atividade que envolveu essa mesma temática, intitulada “A minha
casa e a sua história”, levou os/as estudantes a apresentarem as suas casas, e o texto de sete
estudantes foi publicado, nesse mesmo número de 1979, dos quais destacamos o de Carmelina.
Em seu relato, menciona os prédios populares construídos em convênio com a FIAT mas que,
antes de serem concluídos, foram invadidos e ocupados e, aparentemente sem finalização, a
empresa abandonou a obra. Segundo a estudante,
“nós viemos com os primeiros ocupantes. [...] Inicialmente não gostava de
morar numa Casa Popular, porque faltava tanta coisa: devíamos iluminar a casa
com candeeiro, e carregar a água com balde até o quarto andar. Não havia ainda
elevadores e as escadas não terminavam nunca. Agora, no entanto, estou
satisfeita porque não falta mais nada, e também, há muitas crianças com quem
posso me divertir e muito espaço para brincar.” (LIETA BRIGATA, 1979, s.p.
[tradução nossa]).
Não conseguimos encontrar maiores informações sobre esse processo de melhoria nas
condições de moradia, mas constava, nesse estudo, que ao todo, nove estudantes residiam
nessas casas populares ocupadas, o que representava quase a metade dos estudantes da classe.
Essa temática e tipo de estudo realizados pelos estudantes e publicado nos jornais não
era exclusividade desta escola ou da professora Luigina Maina. Encontramos, por exemplo, na
escola Dante di Nanni, de Borgaretto, estudantes do quarto ano, que produziram o jornal
Informatutto, realizando o mesmo tipo de pesquisa, envolvendo o contexto familiar. Na figura
3 a seguir, a síntese da pesquisa apresenta o processo de produção das atividades, traduzida
parcialmente abaixo:
No mês passado, fazendo a pesquisa sobre o trabalho dos pais e es, vimos
que muitos têm determinado tipo de trabalho, porque não puderam “ir à escola”.
Pensamos, então, em fazer um questionário: ‘quantos anos o pai e a mãe
estudaram; que tipo de escola frequentaram; por que não continuaram a
estudar.’ (INFORMATUTTO, 1974, p. 6 [tradução nossa; destaques no
original]).
O resultado é apresentado em três gráficos, distribuindo-se os genitores por sexo.
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FIGURA 3 - Sobre a escolaridade dos pais
Fonte: acervo da autora 1; originais disponíveis fisicamente no Museu da Escola.
Na síntese final, na página seguinte, um texto “elaborado coletivamente por nós da IV
A”, indica que a professora trouxe boletins escolares do avô, do pai e dela própria quando
estudava na escola elementar, para mostrar as diferenças entre as disciplinas do passado e a que
eles estudavam; discutem sobre a relação entre estudo e oportunidades de trabalho e os
estudantes concluem sobre a importância de frequentar a escola, para não permanecerem
analfabetos e como os oito anos de escola são necessários para se conseguir um trabalho
qualificado.
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Outros temas que aproximavam as famílias à escola e buscavam dar visibilidade à
diversidade que impactava as escolas naquele período se referiam à origem regional dos
estudantes migrantes, os hábitos alimentares de suas famílias, os dialetos de origem, as
memórias dos avós sobre a segunda guerra mundial; a dimensão da crítica social pode ser
percebida pelas aulas passeio, também parte da metodologia desenvolvida por Freinet, que
resultavam, por exemplo, em matérias sobre a poluição dos rios e campos pelo acúmulo de lixo,
sobre as estratégias da publicidade televisionada para provocar o consumo alienante, sobre a
história da escola e a importância das aulas em tempo integral para que as es possam
trabalhar.
A semelhança entre os conteúdos de diferentes jornais pode ter sido motivada
inicialmente pela influência comum, ou seja, os estudos da obra de Freinet, e pode ter sido
mantida pelas trocas interescolares. Vários dos jornais analisados possuem uma parte inicial
dedicada a comentar sobre os exemplares recebidos e também publicavam conteúdos de jornais
de outras escolas. As trocas, conforme apontado por Freinet, não deveriam se reduzir a cartas
entre estudantes de escolas diferentes, mas deviam envolver o próprio jornal e demais objetos
que possam ampliar a experiência escolar e aproximar as pessoas.
Os estudantes de Beinasco, no jornal Cosa sapiamo fare?, num de seus números,
indicam elementos que possibilitam compreender o teor dessas trocas: “No jornalzinho anterior,
havíamos informado a vocês sobre a correspondência por nós iniciada e das respostas tidas de
Cercenasco e Scalenghe [...] e Villafranca
17
.” Mencionam que haviam enviado o primeiro
número do jornal, o desenho de alguma parte do corpo de cada um, como as mãos, os pés,
cartões postais, notícias sobre os serviços existentes na cidade, além de doces tradicionais de
suas cidades de origem, feitos pelas mães.
Outros jornais informam a correspondência com escolas de outras regiões da Itália,
como o Lieta Brigata, e ao identificarmos todas as escolas com quem estabelecia trocas, foi
possível elaborar o mapa da figura 4, no qual a cor laranja representa a região do Piemonte,
onde se encontrava Volvera. Vemos, assim, pelo exemplo de um jornal, a ampla circulação que
foi estabelecida pelas trocas interescolares que, mesmo se não tiverem sido duradouras, indicam
o estabelecimento de práticas inspiradas numa proposta pedagógica que ultrapassou fronteiras
e se manteve viva por muitas décadas.
17
Localizam-se na região do Piemonte.
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FIGURA 4 - Mapa das regiões com as quais o jornal Lieta Brigata estabelecia
correspondência interescolar.
Fonte: Elaborado pelas autoras; Lieta Brigata, 1976, 1977, 1978, 1979.
CONCLUSÃO
Não poderíamos deixar de falar, neste artigo, sobre a apropriação do texto livre por parte
das professoras e também dos estudantes. Aparentemente é paradoxal, se o confrontarmos com
os conteúdos resultantes de questionários, observações, entrevistas, análises, organização de
dados em gráficos, sínteses críticas, pois todos eles remontam ao caráter científico e racional
das atividades desenvolvidas pelos estudantes. Entretanto, entendemos que o texto livre, base
de todo o trabalho que foi sendo aprimorado ao longo das cadas e que tinha o jornal como
motivador, compõe o balanço necessário à racionalidade dos conteúdos que analisamos
anteriormente.
Os jornais analisados contêm, em sua maior parte, textos livres, reunidos por vezes sob
seções nomeadas como “histórias reais” ou “histórias inventadas” e predominam sobretudo nos
jornais dos primeiros anos escolares. Mesmo imaginando que todo o processo de ajustes do
texto com participação coletiva foi realizado em sala e que foram votados e selecionados
democraticamente entre pares, a participação efetiva dos estudantes na produção dos jornais
fica mais visível quando temos um exemplar manuscrito, como é o caso do La giostra dei
bambini, da escola Giovanni XXIII, conforme a Figura 5.
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FIGURA 5 - História real publicada no jornal La giostra dei bambini (2o ano, 1977-78)
Fonte: acervo da autora 1; originais disponíveis fisicamente no Museu da Escola.
Aparentemente escrito sobre stencil e reproduzido por mimeógrafo, essa história em
particular ilustra os elementos centrais do texto livre: a carga afetiva e a liberdade para se
expressar. De autoria de Roberta Chiabrando, diz:
Os meus medos
Quando eu morava na rua Chisonetto, vieram ladrões e desde esse dia, tenho
tido sempre medo. Quando devo ir ao banheiro, digo: “Mãos ao alto!”. Assim,
me asseguro de que não esteja ninguém. (classe 2a A) (LA GIOSTRA DEI
BAMBINI, 1977-78, p. 17 [tradução nossa; destaques no original]).
O desenho, que completa a página, busca ilustrar a cena, com alguém dizendo “Mãos
ao alto”, de dentro de uma casa vivamente colorida. Não é possível saber se essa cópia
específica foi colorida, por ser o exemplar a ser entregue ao diretor, ou se todas elas foram
coloridas, resultando em um trabalho coletivo e cooperativo em larga escala, considerando-se
as 26 páginas desse número e a tiragem de dezenas de cópias.
Resta a nós imaginarmos por onde teria circulado, quem teria lido e que impactos causou
textos como esse, e como Roberta se sentiu podendo explicitar, por meio da escrita, uma
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experiência que lhe afetou emocionalmente, e que compartilhava com outras pessoas. Tratava-
se de um contexto em que a escola não era parte da vida, mas era a própria vida, desenvolvendo.
Segundo Élise Freinet,
A criança abstrata que os educadores famosos estudavam, com tantos detalhes
sutis, as faculdades da alma em termos herméticos, em um jargão de
especialistas visando sempre os mesmos temas, a criança psicológica desses
especialistas não fazia parte de seu mundo de professor do povo. Seus alunos
estavam diante dele, cheios de uma vida transbordante, e era essa vida que era
preciso captar em seus impulsos mais dinâmicos. Ele o sabia, no mais
profundo de si mesmo: A Vida se prepara pela Vida. (FREINET, 1979, p. 19
[destaque no original]).
No trecho acima, Élise Freinet reforça o distanciamento em relação aos escolanovistas,
que estudavam crianças abstratas e de modo asséptico. A infância viva demandava uma escola
e um/a professor/a que não se distinguiam dos estudantes e que, sendo reflexos deles,
ensinariam e aprenderiam sobre a própria vida, sobre as condições concretas de existência, e
sobre tudo o que lhes dava sentido (ou sede).
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Recebido em: 26 de julho de 2022
Aceito em: 16 de dezembro de 2022