A origem camponesa o aproxima da trajetória de Francisco Ferrer y Guardia (1859-
1909), educador anarquista espanhol fundador do movimento internacional da Escola Moderna
em 1901. Outras importantes contribuições parecem ter sido incorporadas por Freinet, como as
aulas passeio, a troca epistolar entre estudantes de outras escolas, a produção de jornais
escolares (SILVA, 2013, p. 286), práticas já desenvolvidas na Escola Moderna de Barcelona.
Freinet, no entanto, atribui a si a autoria da primeira grande inovação em sua pedagogia:
a introdução da tipografia na classe, como uma importante mediadora nas atividades; o uso
desse recurso praticamente coincidiu com o início da sua carreira docente, na década de 1920,
na costa sul francesa, em Bar-sur-Loup. Incapaz de usar a fala com eficiência, devido a sequelas
ocasionadas pela sua participação na I Guerra Mundial, o estímulo ao trabalho coletivo e
cooperativo por meio da produção de jornais foi visto como uma alternativa.
A sua limitação física teria sido, portanto, uma das dimensões condicionantes do
desenvolvimento dos jornais escolares. O segundo aspecto, próprio do contexto de
desenvolvimento industrial e técnico do período, também contribuiu para isso, sendo
evidenciado logo na introdução do livro O jornal escolar. Após a afirmação de que “cada época
tem uma linguagem e utensílios que lhe são próprios” (1974, p. 11), Freinet reconhece o
desenvolvimento e a modernização resultantes do desenvolvimento da imprensa, demonstrando
seu entusiasmo pelas técnicas tipográficas, na expectativa de superação dos métodos baseados
na repetição, cópia e leitura dos manuais escolares. Vemos, portanto, um movimento de
apropriação da linguagem e dos gêneros jornalísticos e das técnicas tipográficas, ambas já
consolidadas como forma de difusão de ideias e de conhecimento, em larga escala. Percebemos,
também, a conciliação entre o caráter ao mesmo tempo humanista e experimental de sua
pedagogia, conforme princípios de Ferrer (SOLÀ GUSSINYER, 2010), dialogando com a
tecnologia de seu tempo.
Nesse movimento de apropriação (CHARTIER, 1998), Freinet redimensiona a lógica
de produção de jornais, agregando o caráter político e crítico, no qual os estudantes são
deslocados do lugar de leitores e receptores passivos, para produtores, autores do próprio
conhecimento, conforme trecho anteriormente citado, devendo-se considerar “suspeita toda
bebida”. Freinet enfatiza a necessidade de desconstruir o jornal como tabu, como o portador da
verdade, e afirma:
Infelizmente, a escola tradicional prepara esta submissão dos indivíduos
perante a nova deusa: a imprensa. [...] Utilizando o texto livre e o jornal,
habituamos os nossos alunos a uma crítica da imprensa, à aceitação e procura
dessa crítica. Aprendem a detectar, com um bom senso recuperado, a presença